Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Corrente do Bem, A

O conto do passarinho que traz água no bico para apagar o incêndio na floresta é de certa maneira revivido nesse filme, cuja mensagem é: você fazendo sua parte pode salvar o mundo, ou pelo menos deixá-lo melhor.

"A Corrente do Bem" é um drama que traz conflitos cotidianos de pessoas normais. Nada surreal, ou pelo menos nada que não possa ser identificado pelo público. O roteiro usa de problemas comuns que acontecem diariamente com as pessoas e que basicamente é inteligente nesse sentido de trazer o mais próximo da realidade.

Eugene Simonet (Kevin Spacey) é um professor de Estudos Sociais e que faz um desafio a seus alunos em uma de suas aulas. Os alunos deveriam criar algo ou propor algo que pudesse mudar o mundo. Jamais esse professor imaginava que um de seus alunos iria realmente propor algo que fosse real e não apenas uma tarefa para casa. Para o garotinho Trevor McKinney (Haley Joel Osment) essa tarefa ele levaria pra sua vida, além de sua sala de aula. A proposta seria o “passe adiante”, ou seja, cada favor recebido de alguém deve ser repassado para mais pessoas e assim uma grande quantidade de pessoas seriam beneficiadas com um ato de caridade e afeto por essa corrente. Aparentemente a reação do professor é de surpresa, pois não imaginaria que um deles pudesse realmente acreditar no que propôs. O garotinho de doze anos sabe muito bem as dificuldades que ele enfrenta dia após dia com sua mãe alcoólatra e um pai ausente e violento. As primeiras pessoas beneficiadas por ele, seguramente são, a própria mãe e o professor.

Um elenco maravilhoso torna esse filme expressivo e emotivo. Alguns podem achar que é um dramalhão idiota e sem novidades. Entretanto, é uma forma de alertar o mundo que é tão simples ajudar o outro e que cada um de nós é responsável pelo mundo em que vivemos. Que cada qual deve fazer sua parte para que este seja melhor ou pior. Como relatei antes, o roteiro busca explorar problemas do dia a dia, os conflitos familiares, as rejeições por ser uma pessoa marcada por algum defeito, problemas com o vício, a violência urbana, a falta de amor e entendimento mútuo. Fatos que nos acompanha rotineiramente e que muitas vezes tomamos como naturalizado e não fazemos nada por pensar que cada um deve cuidar de si. Esquecemos que as pessoas precisam de nós para superar obstáculos.

Às vezes me pergunto o que realmente podemos definir como um drama? Simplesmente o fato de sairmos do cinema chorando ou totalmente emotivo? Ou será que a base que alimenta a película serve para refletirmos a vida e voltarmos nossos olhares para os problemas realmente focados no roteiro? Acredito que as duas coisas caminham bem juntas e Mimi Leder soube explorar isso muito bem em sua direção, mesmo com uma dosagem alta de apelo emocional. Buscou um elenco perfeito e apimentado pelo prêmio “máximo” do cinema, o Oscar. Kevin Spacey, Melhor Ator por Beleza Americana, Helen Hunt, Oscar por Melhor Impossível e o mais jovem astro Haley Joel Osment, indicado ao prémio por atuação em Sexto Sentido. Sou suspeita para falar porque eu amo o trabalho de Kevin Spacey, acho que Kevin é um ator que se expressa muito bem em papéis dramáticos. Sem falar nesse garoto que hoje já adolescente é um dos melhores atores nesse gênero de filme. Com um olhar expressivo ele consegue arrancar as lágrimas de dentro do coração. Helen Hunt, em seu personagem, carrega um olhar sofrido de quem não consegue superar sozinha sua deficiência e solidão. O elenco realmente é de peso e a história é simplesmente um apelo para uma maior reflexão sobre nosso comportamento em relação a nós mesmos e aos outros.

Certamente existe um pano de fundo sentimentalista demais. E em muitos momentos termina por ser um drama muito forçado. Contudo, é um filme que traz um conteúdo, uma história, cenas comoventes, ou seja, cumpre seu papel de fazermos refletir. O final do filme é emocionante, o que surpreende aqueles que pensavam num final óbvio e comum. Praticamente torna o garoto num mártir, que em minha opinião foi sentimentalista e sensacionalista demais apesar da mensagem trazida por essa cena final, acho que deveria ter sido enfocada de outra maneira, ou pelo menos sem tanto sensacionalismo evidente o que faz perder alguns pontinhos na minha cotação. Chorei sim, afinal aqueles olhinhos tão comoventes desse garoto tão brilhante em sua atuação fizeram correr as lágrimas em meu rosto. Se você estiver disposto a assistir a um filme livre de preconceitos e opiniões formadas, vale a pena conferir esta obra e não esqueça do seu lencinho, pois você poderá não resistir as lágrimas que certamente poderão cair de seus olhos e coração.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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