Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 04 de maio de 2005

Exorcista, O

O filme é indubitavelmente, um marco no cinema, motivo para muitas pessoas dormirem com a luz acesa e algo que aterrorizou toda uma geração. Vale a pena! “Vade Retro Sátanas”!

O ano de 1973 foi interessante. Ocorreram vários fatos que influenciaram, para o bem ou para o mal, tanto a sociedade brasileira, como a humanidade como um todo. Durante o decorrer dele, o programa Fantástico teve sua primeira exibição nacional, ainda em preto e branco; morreu, aos 32 anos, Bruce Lee, o homem que praticamente implantou as artes-marciais no cinema e o último soldado norte-americano morto na Guerra do Vietnã foi enterrado, entre outros fatos que fizeram da humanidade o que ela é. Isso sem contar que os nossos saudosíssimos cantores Latino e Salgadinho nasceram no referido ano e que o mundo perdeu um dos maiores gênios da pintura: Pablo Picasso.

Mas também ocorreu algo que iria influenciar toda a comunidade de cinéfilos, e, por que não, quem apenas leva o cinema como entretenimento: foi o ano de estréia de “O Exorcista”, considerado por muitos como o ‘maior filme de terror já produzido’.

Julgo que o filme não necessita de apresentações, tendo em vista que, durante anos e anos após sua estréia no cinema e ter causado verdadeiro furor em todo o mundo, já foi debatido exaustivamente, parodiado e citado em praticamente todas as listas ‘Top 10 de Terror’. Quem que viveu na Terra durante os últimos trinta anos e nunca ouviu falar do tão malfadado ‘vomito verde’ de Regan (Linda Blair), suas ‘rodadas de cabeça 360º’, a garota flutuando metros acima da cama e a cena dela se masturbando com um crucifixo (afirmo, categoricamente, que essa consta como uma das cenas mais heréticas do cinema)? Verdadeiro sacrilégio para a Sétima Arte alguém responder a essa pergunta com um ‘Sim’.

O mais impressionante é que, após a superexposição por parte da mídia, ele não saturou (algo que aconteceu com o ótimo “Titanic”) e ainda mantêm toda a áurea e a atmosfera dos anos em que foi produzido. O medo que vemos na tela é real, a história se passa em uma casa absolutamente normal, os fatos que acontecem poderiam ter acontecido em qualquer casa do mundo (tendo em vista que é baseado em um livro, que, por sua vez, é baseado em uma história real), mas tudo empiricamente ligado ao sobrenatural, à existência de uma entidade maligna capaz de possuir o corpo de um humano.

Vemos que, com o passar da película, a tensão é crescente e o final culmina em um desespero quase catártico (Freud que me perdoe por ter utilizado um de seus termos neste contexto) da parte do Padre Merrin.

O roteiro é excepcional e as atuações são assustadoramente verossímeis. Ellen Burstyn, que interpreta a mãe de Regan, é a perfeita projeção do desespero de uma mãe ao ver sua filha, que outrora era ingênua, proferir frases fortíssimas (Fuck me Christ!) e cometer atos impossíveis para um humano. Linda Blair não fica atrás e nos impressiona com seus olhares, ora puros, ora diabólicos; sua interpretação visceral de uma endemoniada (embora nunca tenha visto uma) que esconde, por trás do viés satânico, uma garota absolutamente normal. Como o padre que dá o nome ao filme, Max Von Sydow está correto, segurando muito bem seu papel.

É claro que esses elogios ditos no parágrafo anterior não funcionariam se alguém competente não estivesse no comando. William Friedkin conduz o filme de forma elegante, nunca deixando o longa cair no pieguismo e no suspense barato. Tudo é regido de forma extremamente sublime.

E o que falar da trilha sonora? Os acordes que até hoje fazem muitas pessoas relembrarem a tensão que foi assistir “O Exorcista”, isso sem contar que ela marcou grande parte dos fãs do ‘terror’ mundial. A música, assim como em praticamente todas as obras primas do cinema, tem vida própria; ajudando o clima impresso pela fotografia e o ritmo dado pelo diretor ela eleva ao supra-sumo do medo cada fotograma que é rodado no projetor.

Em suma, “O Exorcista” é, indubitavelmente, um marco no cinema, motivo para muitas pessoas dormirem com a luz acesa e algo que aterrorizou toda uma geração. Isso sem citar o extenso folclore que envolve toda a produção do longa. Dizem as más línguas que o set de filmagens foi bento diversas vezes e que foi incendiado após as gravações, para tirar as possíveis ‘más energias’ que estariam no estúdio. Agora algo foi real: durante as filmagens morreram oito (!) pessoas durante e Linda Blair se tornou ‘atriz de um papel só’. Coincidência ou manifestação do mal? Dúvidas à parte, termino esta resenha com a célebre frase de São Bento: “Vade Retro Sátanas”!

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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