Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 28 de março de 2005

Expresso Polar, O

O filme tem uma super mensagem de Natal para todos que assistem, possui uma grande produção em computação gráfica e ainda tem Tom Hanks fazendo cinco personagens diferentes em um mesmo longa.

Fiquei curioso quando soube que a dupla Robert Zemeckis (Diretor / Produtor) e Tom Hanks (Ator / Produtor) estariam no comando do filme "O Expresso Polar". Tom Hanks eu não preciso falar, pois seus filmes e prêmios falam por si. Robert Zemeckis, para quem não sabe, é o responsável pelos três filmes da série "De Volta para o Futuro", por "Uma Cilada para Roger Rabbit", "Revelação" e o ‘clássico’ "Forrest Gump" (com Tom Hanks no papel principal). Ele é especialista em efeitos especiais e em vários de seus filmes tem o mestre Steven Spielberg na produção. A parceria com Tom Hanks vem desde "Forrest Gump", passa por "Náufrago" e chega até "O Expresso Polar", em 2004. Agora vocês sabem o porquê deste editor ter ficado curioso pelo resultado desta gigantesca produção.

Baseado no livro de Chris Van Allsburg, de 1985, "O Expresso Polar" acompanha a aventura de um garoto que está 99% convencido de que Papai Noel não existe. Numa noite de véspera de Natal, ele é surpreendido pela visão de um enorme trem em frente a sua casa. É o tal "Expresso Polar" do título, que irá levar um grupo de crianças até o Pólo Norte para conhecer o Bom Velhinho em pessoa. Depois de uma certa dúvida, ele acaba subindo no trem. Contrastando com a neve que cai do lado de fora, dentro do expresso é quentinho e aconchegante – essas imagens, vindas diretas do livro de Allsburg, são algumas das melhores do filme.

Um enredo curto, simples e objetivo. A intenção do diretor Zemeckis nunca foi criar uma obra de arte no enredo com este filme, e sim provar que dá para resgatar sentimentos e emoções bárbaras com o tema do Natal. Agora imagine Tom Hanks encarando cinco papéis diferentes no mesmo filme. Imaginou? Algo muito louco de se pensar, principalmente porque foi utilizada a técnica "motion capture" (técnica usada para fazer o personagem Gollum da série "O Senhor dos Anéis, por exemplo) que captou todos os movimentos de Hanks e os transferiu para o computador, misturando realidade e animação, fantasia e seres de carne e osso. O ator interpreta um menino que não acredita no espírito natalino, o pai dele, um condutor de locomotiva, um andarilho e o próprio Papai Noel. É uma versatilidade jamais vista no mundo dos cinemas.

Falando um pouco dessa técnica, para quem ainda não compreendeu, todos os atores do filme atuaram em frente a uma tela vazia, com sensores de captura de movimento presos por todo o corpo. Os dados destes sensores eram repassados a computadores e serviam de molde para a criação do personagem no próprio filme. Como estes sensores eram responsáveis por captar movimentos e expressões faciais, não necessariamente os atores tinham que ter o mesmo corpo do personagem. Isso permitiu com que Hanks pudesse interpretar cinco personagens diferentes. E olha que não foi fácil moldar todas as expressões dele, tanto que o trabalho durou quase 1 ano. O interessante mesmo foi ver Steven Tyler, vocalista da banda Aerosmith, como Elfo cantando uma música no final do filme. Engraçadíssimo! Conseguiram captaram a essência da sua aparência (boca e orelhas grandes)!

O filme em si parece mais uma montanha russa. Você vai se divertir vendo os altos e baixos da viagem. Chega um momento do filme que é surreal imaginar que um garoto possa andar em cima de um trem em movimento, mas não chega a incomodar porque você já está envolvido com o clima de fantasia proporcionado pelos personagens. Apesar de ter levado uma surra em bilheteria do filme da Pixar "Os Incríveis", "O Expresso Polar" cumpre fielmente o objetivo de ensinar e mostrar que no Natal existem coisas mais importantes que presentes e festas. Eu sou um dos que defende a idéia do Natal, não acho brega ou piegas enaltecer o espírito natalino. Não estou querendo discutir o capitalismo ou religião, mas sim dizer que a união familiar e confraternização dos bens espirituais são mais importantes do que qualquer coisa.

Quem conhece os filmes do diretor Robert Zemeckis sabe que ele adora fazer referências a outros filmes. Desta vez, ele fez do clássico infantil "A Fantástica Fábrica de Chocolate", estrelado por Gene Wilder. O ticket que dá acesso ao trem é dourado, assim como no clássico filme. Além de semelhanças como a grande fábrica de chocolates, com a fábrica de presentes ou até mesmo do condutor com o engraçado Willy Wonka. Foram investidos cerca de US$ 150 milhões e tenho quase certeza que o retorno maior será com o lançamento do DVD.

Um ponto que eu gostei bastante foi da trilha sonora. De início, há duas músicas cantadas por Hanks que são "Hot Chocolate" (divertidíssima essa parte onde são servidos os chocolates das crianças) e a clássica "White Christmas", além da música "Rockin On Top of The World" cantada por Steve Tyler, vocalista do Aerosmith (como falei anteriormente). Realmente vale a pena dar uma conferida melhor na trilha sonora onde tem Alan Silvestri como responsável. Ele fez a inclusão de alguns clássicos de "Bing Crosby" e "Frank Sinatra" para criar um clima de Natal.

É um filme para criança, não tenha dúvida disso nunca! Mas a essência natalina serve para todas as idades. Às vezes vemos pessoas já adultas agindo como pessoas imaturas, se importando apenas com valores materiais. São coisas tão pequenas que fazem do Natal uma data tão especial. Infelizmente o mundo capitalista fez com que a data se transformasse numa indústria que, às vezes, é melhor se colocar no lugar das crianças e imaginar que na noite de Natal Papai Noel vai chegar e por meu presente dentro da minha meia.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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