Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 28 de março de 2005

Fahrenheit 11 de Setembro

O presidente dos EUA, George W. Bush, deve ter ficado em choque ao ver a quantidade de informações e ataques ao seu governo.

A raça humana tem que entender que a história, os fatos e argumentos nunca serão ditos ou falados baseados no "se". "Se fosse a outra pessoa na presidência o mundo seria melhor". Esta palavrinha de duas letras não serve de embasamento nenhum, em nenhum debate, discussão e muito menos em críticas. Se a intenção é mostrar os fatos errados que tal pessoa cometeu, mostre, mas nunca baseie sua opinião em um "se". Michael Moore mistura isso nesse documentário. Documentário que pode ser considerado uma das fitas mais críticas de todos os tempos. Não pelo fato de tratar do presidente mais criticado da raça humana nesses últimos anos, mas sim por conter um conteúdo forte que consegue atingir o seu alvo em cheio e mescla emoções das pessoas com críticas severas aos atos de um homem que é comandado por outros (bem semelhante a algum conhecido?) e não tem nenhum embasamento teórico e prático de como lidar com situações adversas.

O filme começa mostrando um fato obscuro e ridículo por ser tão óbvio e claro: as eleições americanas de 2000. A fraude na contagem dos votos e a ilusória vitória de Al Gore. Quando todos davam a vitória para Al Gore, que era o favorito e estava na frente nas pesquisas em todos estados, eis que o primo de George W. Bush, John Ellis, o homem por trás das decisões do canal Fox manda dizer que a vitória era de Bush. Alguns representantes afro-americanos (16.000) protestaram na suprema corte, mas em vão. No final das contas, George W. Bush foi eleito o presidente dos EUA. Que cargo hein? Quem não gostaria de estar ali? Imagina um texano semi-analfabeto que tirava leite de vaca e pescava no lago de sua cidade. Meu papel aqui não é xingar Bush, até porque se fosse, iria dar um estouro de páginas no site. O fato é que as eleições de 2000 foram roubadas e a vitória foi dada de bandeja a Bush.

O filme mostra os fatos e protestos das pessoas que foram impedidas de votarem e que com certeza dariam a vitória para Al Gore. George W. Bush tomou posse em 2001 em Washington, e milhares de americanos lotaram as ruas da capital numa última tentativa de retomar o que foi tirado deles. "Bush trapaceou", era o que diziam as pessoas e os cartazes espalhados nas ruas. Atiraram ovos na limusine de Bush fazendo a comitiva da posse parar. O plano de Bush sair da limusine para a tradicional caminhada até a Casa Branca foi cancelado. A limusine acelerou para prevenir um tumulto maior. Nenhum presidente jamais presenciou tal fato no dia de sua posse. Porque será? Óbvio, ninguém (incluindo os boçais americanos), sem exceção, gosta de ser roubado, trapaceado ou enganado de uma forma tão clara como foi essa eleição. Muitos protestos vieram e muitos alienados davam apoio ao presidente de mentira que lá estava. O filme frisa muito nisso, na revolta do povo. Mostra com detalhes os olhares de raiva, olhares de pessoas enganadas por um grupo de malfeitores (isso mesmo, Bush NUNCA seria capaz de fazer isso sozinho), que a partir daquele momento, se sentiam os donos do mundo e na verdade, eles eram (e são, até então, por enquanto).

Fiz questão de mostrar para vocês leitores um pouco do que Michael Moore usa em seu filme. Cenas fortes, cenas emocionantes e chocantes aos olhos de quem não presenciou, imagina a sensação de quem estava presente na ocasião. Ele trata no filme até os dias atuais, desde o começo da trajetória da presidência aos ataques militares no Iraque. Passando pelo terrível "11 de Setembro" e pela total desocupação de Bush que tirava férias ao invés de trabalhar, provando mais uma vez que ele é apenas uma máscara de presidente e que na verdade não manda em coisa nenhuma. Achei perfeito quando Moore mostra e prova de que a família de Bush tinha um contato com Bin Laden antes do 11 de Setembro. De fato, foi um excelente trabalho de Michael Moore. As ligações de George Bush com empresas petrolíferas foram muito bem organizadas e agrupadas no vídeo. Dá para compreender tudo de uma forma clara.

Um filme que faz os cinéfilos, principalmente os americanos, pensarem que o causador de todos os problemas do seu país é culpa, única e exclusivamente, deles mesmo. Se eles não tivessem votado nesse homem, as coisas poderiam ser diferentes … ou não. Premeditar se o outro candidato seria melhor ou não, não é meu papel, mas que o filme consegue transformar Bush num ser tão desprezível, ah, consegue. Mais uma vez está de prova que a nossa maior arma contra esse tipo de abominação é o voto. Faça por valer seu direito de escolha e se fizer a escolha errada, não venha reclamar dos maus tratos futuros.

Não gosto do estilo Show Man de Michael Moore. Talvez seja um jeito de conseguir atrair a mídia e as atenções para os seus filmes. Tirando a infinidade de "se's" que são mostrados durante o filme, a apresentação dos fatos e depoimentos de pessoas importantes e que participaram ativamente de todos os processos abordados no filme, faz com ele consiga manter a atenção do cinéfilo até o final da exibição. Este tipo de documentário crítico virou mania e muitos outros projetos já estão sendo e foram produzidos como o "Super Size Me" que fala dos malefícios das comidas do McDonalds e até um que fala mal do próprio Michael Morre. É, a moeda tem dois lados sempre. De uma forma ou de outra, vale a sempre a pena conferir estes documentários críticos até mesmo para o próprio aprendizado ou até para gerar um conflito de opinião. Os filmes além de entreter, eles devem ensinar, emocionar e gerar dúvidas nos cinéfilos. Isso é importante e Michael Moore consegue isso com este filme.

A principal cena do filme, na minha opinião, é quando George W. Bush em meio a uma visita numa escola na Flórida fica sabendo do ataque de 11 de Setembro. Quando foi informado que o primeiro avião tinha atingido o WTC e que os terroristas estariam atacando os EUA o Sr. Bush decidiu continuar com a visita e aproveitar a sessão de fotos. Quando o segundo avião atingiu a segunda torre, o chefe da comitiva entrou na sala de aula e disse ao Sr. Bush: "A nação está sob ataque." Sem saber o que fazer e sem ter ninguém para dar ordens a ele e sem o serviço secreto invadindo para levá-lo a um lugar seguro o Sr. Bush apenas continuou sentado lendo uma historinha com as crianças. Quase 7 minutos se passaram sem que ninguém fizesse nada. A expressão da face de Bush paga o filme. Algo para se guardar.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

Compartilhe

Saiba mais sobre