Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 19 de julho de 2005

Herbie: Meu Fusca Turbinado

O fusquinha mais famoso de todos os tempos ganha uma nova aventura bem típica dos filmes de temporada de férias: leve, divertida, mas que peca pela falta de originalidade e a fraca qualidade narrativa. O resultado é um passatempo que não chega a incomodar aos velhos fãs dos filmes antigos do fusca, e agrada em cheio à nova geração.

Em meio a essa total falta de novas idéias que Hollywood vem passando, a solução encontrada pelos estúdios foi desenterrar idéias antigas, dando continuidade a histórias consideradas encerradas há muito tempo. Foi assim com os terríveis “O Filho do Máskara” e “Debi & Lóide 2”, e mesmo com resultados ruins, Hollywood continua a apostar nesse esquema. Nem mesmo Herbie, o velho fusquinha número 53 que possui vida própria, que tanto encantou os expectadores durante os anos 60-70, e cansou de divertir nossos atuais adolescentes nas "Sessões da Tarde" anos atrás, escapou de ganhar uma nova aventura. Fica então uma questão: era mesmo necessário fazer um novo filme sobre o fusca, já que em seu contexto, praticamente não há o que inovar? Provavelmente não. Mas, felizmente, “Herbie: Meu Fusca Turbinado” é anos-luz melhor do que as duas produções citadas no começo da crítica e mesmo não apresentando nada de novo, consegue ser uma boa diversão sem compromisso. Os fãs dos filmes antigos do fusca poderão sentir aquela sensação de “eu já vi isso antes”, afinal, o filme é quase uma cópia do primeiro filme, “Se Meu Fusca Falasse” de 1968, com algumas adaptações nos personagens e na época. Mesmo assim, Herbie ainda consegue arrancar bons risos e a criançada que não conhecia o personagem antes, simplesmente irá adorar a aventura.

Maggie Payton (Lindsay Lohan) é uma jovem que faz parte de uma família de pilotos na Nascar e que adora competir, mas foi proibida de correr por Ray (Michael Keaton), seu pai superprotetor. Por causa desta proibição, Maggie está prestes a iniciar uma carreira no canal ESPN. Querendo presentear a filha com um carro devido a sua formatura, Ray a leva a um ferro-velho para que ela escolha seu presente. Maggie inicialmente está em busca de um carro esportivo, mas um desgastado e enferrujado fusca da década de 60 chama sua atenção. Maggie o escolhe e, para sua surpresa, logo descobre que ele não é um carro comum. Com a ajuda de seus novos amigos Herbie logo fica mais rápido do que nunca, fazendo com que Maggie decida inscrevê-lo para competir na Nascar.

Em uma decisão mais do que acertada, a diretora Angela Robinson optou por não ignorar os eventos dos filmes anteriores. Logo nos créditos iniciais, os velhos simpatizantes da série são brindados com os melhores momentos dos filmes antigos, mostrando inclusive, a deixa para esta nova aventura, de forma que os fios se liguem e o novo filme não fique avulso da clássica série. Inclusive, referências é o que não faltam aos filmes antigos. Por exemplo: o valor pago por Herbie no ferro-velho (míseros 75 dólares) pela jovem Maggie Grace, é o mesmo pago pelo personagem de Dean Jones em “Se Meu Fusca Falasse”, de 1968. Até várias passagens dramáticas foram copiadas. Na nova versão, o fusquinha perde uma importante corrida, quando Maggie também pensa em um carro mais possante e moderno, fazendo analogia ao seu quase suicídio do filme original. Só é uma pena o fato de a clássica música-tema de Herbie ser tocada apenas uma vez, e ainda em versão remix.

Para a alegria de todos, Herbie continua o mesmo de sempre. Ao invés de tentarem moderniza-lo transformando-o em um carro mais “maduro” e adequado aos anos atuais, ele continua com aquele seu jeito ingênuo e infantil, chegando a sentir medo ao assistir a um filme de terror. E o charme de Herbie é o maior mérito do filme. O grande problema, é que o longa se apóia demais no charme do fusquinha e as piadas ficaram para segundo plano. A falta de originalidade é enorme e quase tudo que vemos nos soa ultrapassado. As piadas em relação a Herbie continuam iguais: jogando óleo e batendo com o capô em quem tenta sabota-lo, ou fechando seus faróis quando está triste. Muitas das piadas novas, simplesmente não funcionam, como quando Herbie se apaixona por um modelo novo de fusca, sua dona fala para ele: “Esqueça, ela é muito nova para você”. Ainda assim, o fusca ainda consegue ter seus muitos momentos de glória na tela, conseguindo arrancar boas risadas. Logo no começo, a cena em que Herbie faz de tudo para chamar a atenção de Maggie no ferro-velho e não ser demolido, é simplesmente hilária, assim como a cena envolvendo o fusquinha e a canção “Hello”, de Lionel Richie, é impagável. Aquele velho humor leve e inocente, que nem os mais marmanjos resistem a ele, está presente na maior parte do tempo todo.

O roteiro possui uma série de furos, mas que acabam se tornando imperceptíveis a quem vai assistir a esse tipo de filme. O roteiro (escrito por nada menos que quatro pessoas) caiu na própria armadilha ao fazer a ligação deste com os filmes anteriores. É estranho o fato de que no meio de tantos corredores profissionais, ninguém se lembre do velho fusca que ganhou tantas corridas no passado. Afinal, não é todo dia que vemos um fusca ano 1963 vencer diversos carros de corrida, não é verdade? O maior problema do filme fica por conta da fraca qualidade narrativa, em uma história que se perde muitas vezes ao querer mostrar o drama familiar entre Maggie e seu pai e a subtrama romântica envolvendo a garota e o mecânico Kevin (interpretado por Justin Long de “Com a Bola Toda”), fazendo o clima dinâmico cair drasticamente.

Apesar de ser lamentável o fato de a clássica música-tema de Herbie ser tocada apenas uma vez, a trilha sonora é o grande ponto alto do filme. Ao invés de músicas tocadas por essas bandinhas modernas desprezíveis (o que é uma característica das trilhas desses típicos filmes de férias), o filme aposta no bom e velho rock´n roll dos anos 60-70, embalado a um som que tem tudo a ver com velocidade. As crianças podem ficar indiferentes (mas nem por isso incomodadas), já que as canções não são de sua época, mas os pais que se sujeitam a levar seus filhos ao cinema irão se deliciar ao som de clássicos como "Born to Be Wild", do SteppenWolf; "More than Feeling", do Boston; "Jump", do saudoso Van Halen; entre outros.

Quanto as atuações, não há muito o que se falar já que todos os atores estão no “modo Disney” de atuar. Todos garante um charme extra a produção mas no final das contas, é sempre Herbie quem rouba a cena. Lindsay Lohan está bem correta no papel da “protagonista” Maggie. Ela não recebe tanto destaque quanto em “Meninas Malvadas”, mas consegue ser mais do que uma cara bonita (e muito bonita) em cena, contornando bem a maneira esquemática com que sua personagem foi desenvolvida pelo roteiro. Michael Keaton, que interpreta o pai de Maggie, Breckin Meyer, o irmão, e Justin Long, o affair de Maggie, também estão bem a vontade e cumprem bem os seus papéis dentro do que a história exige. Já o “vilão” Matt Dillon, que vive o piloto Trip Murphy, esbanja canastrice, usando e abusando de caras e bocas, transformando seu personagem em uma mistura de Dick Vigarista (do desenho "Corrida Maluca") e o vilão vivido por David Tomlinson no filme de 1968. Imaginem Pat Heally, seu personagem de “Quem Vai Ficar com Mary?”, como um piloto de corridas Nascar. Pronto, você achou o tom de sua interpretação em “Herbie”.

Enfim, “Herbie: Meu Fusca Turbinado” é um filme simpático, divertido e esquecível. Os fãs dos filmes antigos poderão relembrar alguns bons momentos através das sempre ótimas peripécias do famoso fusca de número 53, apesar de as mesmas soarem repetitivas muitas vezes. Já as crianças irão amar ao personagem, que daqui a uma década, provavelmente estará trazendo mais diversão nas "Sessões da Tarde" às novas gerações.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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