Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 27 de março de 2005

Hitch – Conselheiro Amoroso

Existem homens que conseguem conquistar mulheres facilmente. Por outro lado, existem MUITOS homens que se enrolam para conseguir dizer até um "oi", imagine conquistar a garota dos seus sonhos. Para isso existe Hitch, o Conselheiro Amoroso. A comédia agrada em todos os seus pontos, mesmo sendo bem clichê. Mas não chega a atrapalhar!

Comédia Romântica é o gênero que mais consegue agradar ao público. Público que eu falo, é aquele que paga ingresso, e não aquela meia dúzia (força de expressão, porque é bem mais) de pessoas da imprensa (no qual estamos inclusos também) que entram de graça no cinema. Daí você passa a entender o porquê de boa parte dos críticos serem recalcados e frios. Eles não pagam ingresso. Quando se paga por algo, é lógico que tende a desfrutar mais do produto, mesmo que esse não possua muitas qualidades.

O gênero Comédia Romântica, hoje em dia, está batido por causa da repetição. E mesmo assim, consegue ter ótimas bilheterias por onde passa. Somos burros por assistir? Lógico que não. O problema é que sempre aceitamos o tema. Seja por carência, seja porque você está feliz, seja porque você levou um chute na bunda, ou porque não esperamos nada (sem pretensão) e o filme acaba nos agradando. E quando esse filme consegue ter um roteiro inteligente? Melhor ainda. Este é o caso do filme "Hitch – Conselheiro Amoroso". Clichê, como boa parte do gênero, mas inteligente.

Will Smith é o protagonista do filme, vivendo o papel de Alex "Hitch" Hitchens. A maioria dos homens tem dificuldade de encontrar um amor porque é difícil ser você mesmo quando o seu "eu" acha que você deveria ser uma outra pessoa. E é exatamente passando por este dilema, que surge Hitch. Atuando como conselheiro tático especializado em primeiras impressões – ele organiza e dirige os três primeiros encontros amorosos de seu cliente -, Hitch, secretamente, tem sido responsável por centenas de casamentos na cidade de Nova Iorque. Eva Mendes (gostosa, por sinal) co-estrela o filme como Sara, uma repórter de fofocas de um jornal-tablóide. Depois de ter a chance de conhecer Hitch, a moça descobre que sua vida profissional e pessoal encontra-se em colisão. Ela faz Hitch reavaliar seu jogo e o ensina que o amor não se trata apenas de sentimento, mas sim, de ação.

O interessante é que às vezes você se coloca no lugar das pessoas do filme. Você perde a fala quando está próximo de quem você gosta, fica suando frio, sua face alterna as cores como um arco-íris, fica com dor-de-barriga, derruba tudo o que está a sua volta, etc. Quem nunca sofreu de, pelo menos, umas das coisas que citei? Hitch é tão inteligente, que consegue usar manobras para superar tudo isso. O cara é galanteador de marca maior. E o que ele diz é verdade. Não existe mulher impossível. Qualquer homem é capaz de conquistar qualquer mulher. Ao contrário, creio que não é bem assim. Enfim, é uma profissão pra profissional (sem redundância), e não para amador.

O diretor Andy Tennant ("Anna e o Rei") faz ritmo oscilar em todo o filme. Às vezes, está engraçadíssimo; às vezes, morno. Colocar draminha em Comédia Romântica é praxe, e chega a ser desnecessário. Os principais atrativos em termo de inteligência são as frases e diálogos do personagem de Will Smith. São memoráveis e bem boladas.

Will Smith está ótimo no papel de Hitch, apesar de limitado. Poderiam usar bem mais o talento humorístico dele, que às vezes fica limitado a algumas caretas e tiradas rápidas. Este é o problema de seguir um roteiro. Se tivessem dado um pouco mais de liberdade a ele, com certeza algumas cenas teriam sido bem mais engraçadas (como as cenas de dança, por exemplo). Um fato que incomoda é que o casal da comédia não possui química. Eva Mendes é gostosa e tudo, mas não tem química alguma com o personagem de Smith. Mesmo que ele tente, não agrada nenhum pouco. Por isso o personagem co-principal acaba sendo Kevin James (da série "The King of Queens"). Ele faz o gordinho e desajeitado Albert, que é perdidamente apaixonado pela celebridade bela e rica Allegra Cole (a linda Amber Valletta). Quando Albert procura Hitch e conta o caso, ele (Hitch) acha praticamente impossível ter êxito e o chama de louco. Mas como Albert mostra, realmente, paixão por Allegra, Hitch faz uma analogia como ele sendo Michelangelo e Albert como Capela Sistina (que Albert será a obra de arte de Hitch). Bem pensado!

Enfim, as risadas, você dará sempre quando Albert está em cena. Will Smith é preso e limitado, apesar do seu personagem ser bastante inteligente, carismático e possuir um poder de persuasão absurdo. A comédia é bem-vinda, mesmo com os clichês de sempre do gênero. Vale uma conferida. O final é diferente. Isso faz desse filme uma boa pedida. Uma pena que o desfecho, praticamente óbvio, demore tanto pra chegar.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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