Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Ilha, A

Sempre com o intuito de divertir o expectador, Michael Bay exagerou ao máximo e criou uma obra vazia e tão profunda quanto um pires, mss que ainda diverte para quem procura algo sem cérebro.

Que os filmes de Michael Bay são feitos exclusivamente para divertir, todo mundo sabe. Nunca podemos exigir o roteiro rebuscado, interpretações memoráveis ou aspectos técnicos essencialmente artísticos. Digamos que é um sub-gênero do cinema, feito para vender, assim como os folhetins eram para a literatura e as novelas são para a TV.

Entretanto, mesmo ciente dessas características, nunca o seu – abre aspas – cinema – fecha aspas – foi tão comercial. É incrível como ele, na intenção de ludibriar o público afim de que pensem que seu filme é original, utiliza todos os recursos possíveis para conduzir de forma (des)interessante seu longa. Ou seja, usa e abusa de efeitos e filtros em 80% das cenas, tenta desesperadamente imprimir uma certa arte na fotografia e tem uma cenografia que é um misto de “Minority Report – A Nova Lei” com “A.I. – Inteligência Artificial”, ousando citar ainda em alguns momentos “Laranja Mecânica”.

Vamos ao que o filme se propõe contar: Lincoln Six Echo (Ewan McGregor) e Jordan Two Delta (Scarlett Johansson) – os clichês começam daí: existe coisa mais batida do que pôr letras do alfabeto grego em nomes de clones, andróides, robôs, seres geneticamente mudados ou coisas do gênero? – são dois habitantes de um complexo que os protege do mundo exterior. É propagado para os habitantes desse complexo que a Terra está devastada e que tudo lá fora está contaminado. Contudo, ainda há um único local onde é possível viver plenamente como um humano normal. Este lugar se chama A Ilha. Através de uma loteria os habitantes desse tal complexo são enviados, um por semana, para essa tal Ilha.

Pronto. A barraca está armada. Após essa introdução, o filme mergulha em uma sucessão de cenas de ação (monótonas e previsíveis, diga-se de passagem) e diálogos desconexos cujo único objetivo é, como eu disse no início do primeiro parágrafo, divertir. Não que isso seja necessariamente bom, já que há diversões e diversões. Peguemos por exemplo um ótimo filme que aportou nos cinemas daqui recentemente: “Kung-Fusão”. Este, para quem não teve a experiência de assistir, é diversão na melhor concepção da palavra. Entretanto, ele não vai de encontro à inteligência do expectador e se assume como um grande desenho animado protagonizado por pessoas reais. Contudo, neste “A Ilha”, tudo soa tão forçado, tão vamos-fazer-Lincoln Six Echo-dirigir-o-carro-para-poder-ter-uma-luta (assistam e entenderão o que quis dizer com isso), que em momento algum nos vemos envolvidos pela história ou torcendo pelos protagonistas. Enfim, um filme muito bonito, mas que não gera empatia e conseqüentemente, faz com que lembremos sempre que estamos vendo um – abre aspas – filme – fecha aspas.

Acerca das interpretações, só podemos dizer que o casal de protagonistas foram corretos e fizeram o que dava para se fazer: escaparam de explosões, correram (muito), atiraram (mais ainda) e viveram para depois contar a histórias para seus netinhos.

No mais, esse novo filme do diretor, que pensa que é o novo Spielberg e que tenta fazer filmes interessantes para a massa, não chega a ser tão ruim quanto seu terceiro longa, “Armagedon”, mas também não é tão legal quanto seu segundo, “A Rocha”. Se for assistir, desligue por completo seu cérebro. Pode ser que agindo de forma retardada você chegue a gostar disso.

Ah! 1 – A nota do filme foi cinco em detrimento do visual, ainda que exagerado, do longa. Sempre é bom ver carros futuristas e maquininhas legais como aquelas vespas.

Ah! 2 – Já que falamos nas vespas – uma espécie de motos voadoras -, porque diabos ainda é utilizado helicópteros no longa, já que elas são infinitamente superiores do que eles?

Ah! 3 – Porque ninguém reconhece Lincoln Six Echo e Jordan Two Delta quando eles vão para a rua?

Ah! 4 – Ministério da Saúde Adverte: levem um par de tapa-ouvidos quando forem vê-lo no cinema, pois grande parte da sala em que este crítico que vos fala – incluído ele – saiu quase surdo.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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