Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 07 de novembro de 2005

Imperdoáveis, Os

Com esse filme, Clint mostrou a todos a sua sensibilidade e talento como diretor, já que muitos ainda desconfiavam dessa sua nova faceta devido aos anos em que ele passou em frente as câmeras.

Era 1992, e o faroeste estava agonizando. Já não se fazia mais filmes do gênero, desde que seus grandes astros, como John Wayne (ator de O Álamo) ou Sergio Leone (diretor dos famosos faroeste – espaguete) morreram. Ninguém mais se interessava pelo estilo machista dos protagonistas desse tipo de filme, nem corriam aos cinemas para ver a Corrida ao Oeste (marco na história norte americana, onde a maioria desses filmes se passava). Era 1992, quando Clint Eastwood fez "Os Imperdoáveis".

Naquela época eu, que tinha apenas 6 anos de idade, nem sabia de quem se tratava o filme, e muito menos quem era Clint Eastwood, que na epoca tinha já um curriculo admirável. E que era um dos grande nomes do faroeste que ainda vivia. Mas mesmo assim, a cena final deste filme entrou em minha mente de uma forma avassaladora, fazendo com que eu me prendesse a pelicula pelo resto até hoje.

O filme conta a história de William Munny (Eastwood), um ladrão e assassino cruel, mas que está velho e regenerado, graças a sua esposa, que morreu de varíola. Agora ele se dedica a criar seus dois filhos e seus porcos em sua fazenda. E está sem dinheiro, e velho para voltar a ativa. Até que um jovem aspirante a pistoleiro, Schofield Kid (Jaimz Woolvett), lhe oferece a chance de ganhar algum trocado para recomeçar a vida ao lado dos filhos. Mas para isso, precisa ir até a pequena cidade de Big Whisky, e ajudá-lo a matar dois vaqueiros que desfiguraram uma prostituta. Will, depois de pensar muito, aceita a proposta, levando consigo seu antigo parceiro, Ned Roundtree (Morgan Freeman). Enquanto isso, em Big Whisky, o xerife local, de nome Little Bill (Gene Hackman), sabendo que caçadores de recompensa se dirigem a sua cidade para receber o dinheiro que as prostitutas oferecem para quem matar os vaqueiros, tenta intimidá-los. E assim que English Bob (Richard Harris), um velho e famoso pistoleiro que vem acompanhado de um escritor que redije sua biografia, chega a cidade, o xerife o espanca e prende, o expulsando de lá.

Ao chegarem, Will acaba fazendo a sua parte, matando um dos vaqueiros, enquanto Kid elimina o outro. Ned desiste no caminho e, na volta para casa, acaba sendo capturado pelos homens do xerife e o pior acaba acontecendo… e Will, que outrora viria apenas por causa do dinheiro, agora procura vingança.

Um filme simplesmente magnífico, incrivelmente bem realizado, e sua violência exagerada é explicada: além de ser para mostrar o impressionante realismo das cenas, serve para mostrar ao público que a violência e crueldade é fruto dos demônios que cada pessoa tem dentro de si. Clint trabalhou a direção e o tema desse filme de forma espantosamente realista. A cena final é uma das mais marcantes da história dos faroestes e do Cinema. Todos os atores estão perfeitos em seus papéis, em especial Eastwood, Freeman e Hackman, sendo o último que recebeu o Oscar de Coadjuvante de 1992. Os outros três premios do filme foram para Clint Eastwood, que levou dois (Direção e Filme), e a edição de Joel Cox.

Com esse filme, Clint mostrou a todos a sua sensibilidade e talento como diretor, já que muitos ainda desconfiavam dessa sua nova faceta devido aos anos em que ele passou em frente as câmeras, sempre no papel do "homem durão sem sentimentos", como o policial Dirty Harry. Com esse filme consagrador, o velho homem de Malpaso conseguiu o que muitos diretores veteranos ainda lutam para obter: reconhecimento de público e crítica, vencendo quase todos os prêmios que disputou. E com isso, trouxe novamente a tona nomes que andavam meio esquecidos, como o saudoso Richard Harris (cujo último papel foi como o Prof. Dumbledore, nos filmes da série Harry Potter); Gene Hackman, que estava em baixa e com esse filme voltou aos holofotes, de onde até hoje não saiu mais; Morgan Freeman, que havia sido lembrado pelo então recente "Conduzindo Miss Daisy", e o próprio Eastwood, que estava com a carreira estancada.

E todas as glórias desse filme foram merecidas, pois conseguiu dar um fim digno a um gênero que estava em seus últimos suspiros, que provavelmente ia acabar sendo esquecido. Méritos de Eastwood, astro do gênero, que com esse filme fez a sua homenagem ao faroeste, e, conscientemente, fez também o testamento do mesmo. Um talento reconhecido por meio deste filme, e que seria louvado novamente treze anos depois…

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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