Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 11 de abril de 2006

Irma Vap – O Retorno

As piadas são fracas e a história não envolve. Só o que salva “Irmã Vap – O Retorno”, de fato, é a brilhante atuação de Marco Nanini, que se mostra muito bom para esse roteiro.

Depois de ter produzido com sucesso nos teatro a adaptação da obra “O Mistério de Irmã Vap” – do escritor Charles Ludlam – o produtor Otávio Augusto quer tentar novamente o empreendimento, já que seu sócio recentemente morreu de um infarto devido aos sucessivos fracassos que produzia e seu destino parece ser o mesmo. Ele, então, contrata um dos atores da montagem original da peça, Darci Lopes, para dirigir o novo espetáculo, enquanto negocia os direitos autorais com Cleide Albuquerque, irmã do outro ator, uma ex-estrela infantil, que mantém o irmão paralítico isolado em sua casa. A partir daí, a história se resume na montagem da peça.

A trama paralela da situação em que Cleide mantém seu irmão Tony, no entanto, me chamou a atenção pela semelhança com outro filme, “O Que Terá Acontecido a Baby Jane”, uma produção hollywoodiana da década de 60 estrelada pelas imortais Bette Davis e Joan Crawford. Mais tarde o personagem Tony revela que copiou realmente o filme, o que explica as cenas exatamente idênticas relacionadas à situação dos irmãos (ambos vividos por Marco Nanini). Por acreditar ser responsável pelo acidente que deixou seu irmão em uma cadeira de rodas, Cleide se vê obrigada a cuidar dele, ao mesmo tempo em que sua inveja por ter feito sucesso apenas quando criança, enquanto Tony se tornou um grande ator, a faz tratá-lo com crueldade, impedindo que ele tenha contato com outras pessoas.

Essas passagens, porém, passam a ser as mais interessantes do filme, já que a trama principal propriamente dita não empolga. As cenas protagonizadas por Nanini como Cleide são impagáveis. Aliás, o talento do ator é o que salva o filme de ser uma perda de tempo. Destaque para a cena totalmente nonsense em que Cleide, no auge de sua insanidade veste o figurino de seu show infantil e dança ao som de uma antiga gravação sua de “Banho de Lua”, exatamente igual a Bette Davis em “O Que Terá Acontecido a Baby Jane” que, em certo momento, veste suas roupas de crianças e dubla o seu sucesso infantil. De tão surreal torna-se hilário.

Há quem ache Ney Latorraca um bom ator, mas pessoalmente eu vejo a mesma atuação em todos os papéis que ele faz. Tanto que não se nota quase diferença entre os personagens Darci e sua mãe Odete (ambos vividos por Ney). Seu timing para a comédia, no entanto, faz com que sua presença em cena seja até agradável.

No mais, salvo alguns momentos em que o filme consegue arrancar alguma risadas do espectador (momentos esses, repito, quase todos protagonizados por Nanini na pele de Cleide), o humor não consegue cumprir o seu objetivo. E mais, para um filme de pouca duração – apenas 80 minutos – “Irmã Vap – O Retorno” se torna extremamente cansativo.

Apesar de tudo, o filme deixa a impressão que a montagem real da peça “O Mistério de Imra Vap” no teatro, protagonizada por Nanini e Ney Latorraca na década de 80/90 foi realmente muito boa. Não é à toa que o espetáculo ficou em cartaz por 11 anos e entrou na história como o maior sucesso de público do teatro brasileiro, além de constar no Guiness Book como a peça que permaneceu por mais tempo em cartaz, com o mesmo elenco, de todos os tempos.

“Irmã Vap – Retorno”, no entanto tinha potencial para ser bem melhor. Não sei se Carla Camurati, que já fez muita coisa boa entre dirigindo e atuando, perdeu a mão nessa produção, ou se o roteiro simplesmente não é bom. O fato é que, tirando uma cena ou outra, o filme é decididamente dispensável.

Amanda Pontes
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