Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 04 de novembro de 2005

Jogos Mortais 2 (2005): uma excelente continuação de um clássico

O primeiro foi uma pancada para todos aqueles que não esperavam nada de um filme com baixo orçamento e elenco quase desconhecido. O segundo chega com a pretensão de nos dar outra pancada, mas agora o conhecemos e será muito mais difícil de fazê-la. Nos enganamos ...

Leitores! “Eu quero jogar um jogo…”. É tudo muito simples. Parágrafo após parágrafo eu lanço um desafio. Você começa a lê-lo e terá que terminar. É fácil, pois são palavras simples e um assunto prazeroso. Ao final, você vai ter a revelação. Não a espere nada da forma mais simples. Dentro do contexto, veja você se vale ou não a pena assistir ao filme a partir de minhas premissas. Ah, não se preocupem com a nota da cotação. O que está nas entrelinhas vale muito mais do que uma avaliação através de pontos. Simplesmente, siga as regras!

Quando você foi ver o primeiro “Jogos Mortais”, não esperava nada ou quase nada. Pode confessar – eu, por exemplo, nem fui ao cinema prestigiá-lo. Como nada era esperado, tudo foi algo totalmente surpreendente. Um dos melhores desfechos de filme dos últimos tempos e uma reviravolta geral. Por isso, você terá de convir que ao ir assistir ao segundo filme, vai esperando os mesmos fatores observados no primeiro. Logicamente, como um bom observador, prestará atenção em tudo e em todos a fim de que o roteiro não mais o pegue desprevenido. É aí que vem a questão: pode não acontecer com todos, mas a maioria vai ficar novamente de queixo caído. Antes que isso aconteça, vários outros fatos ocorrerão na telona. Alguns desses fatos já bem esperados, que deixarão cada espectador com um sentimento diferente (asco ou algumas risadinhas sádicas), mas todos indo de encontro à angústia de não querer estar na pele do jogador mostrado.

O filme já começa mais eletrizante do que poderíamos imaginar, diferentemente do primeiro que começa confuso. A primeira cena já vale o ingresso, entretanto, muitas outras valerão também; mas não da mesma forma dramática à inicial, haja vista que o espectador já estará mais bem ambientado com o novo sistema apresentado por Jigsaw e saberá a hora certa de dar aquela olhadinha de lado, desviando-se da gastura natural.

De acordo com a sinopse de “Jogos Mortais 1”, em termos de violência, é a do dois, a começar por esse pôster asqueroso que podes observar aqui, logo acima. O jogo dessa vez é mais complexo. Antes, o que eram dois personagens se “confrontando”, viraram oito. Vidas diferentes, pessoas que nem se conheciam, mas, de alguma forma, todas têm algo em comum. Tudo leva ao objetivo do anfitrião do jogo (o Big Brother), que é dar uma lição em cada participante. Ações, fatos, cenas e muitos diálogos. Você está em meio a um grande mistério, tão horrendo que é preciso muito além de se ter habilidades de detetive. O investigador da vez é Eric Mathews (Donnie Wahlberg). Ele e sua parceira, ao pensarem que estavam finalmente prendendo o serial-killer Jigsaw, acabam tendo que participar do joguete sangrento. A película fica nessa: dois focos, flashbacks, mistérios e suspense.

Suspense! Esse foi o erro. Se o filme tivesse explorado o mistério e a violência como aconteceu no primeiro, teria se dado melhor. Quase todos os sustos são previsíveis; nada de pular da cadeira com o coração acelerado. Algumas vezes a trilha sonora entrega o que está por vir. Sendo assim, apesar de já ter causado mau estar por conta da carnificina, se perde na tentativa de tentar inserir alguns suspiros assustadores.

No que se refere à parte técnica, vemos algo muito próximo à perfeição. Como a maior parte do elenco é desconhecidos, eu não esperava grandes atuações, desviando minha atenção desse fato. As câmeras, mal focalizadas e tremidas, dão a sensação de realidade. Os flashbacks são bem trabalhados, entretanto, por usar esse recurso demasiadamente em alguns dados momentos, pensamos que estamos em algum dos flashbacks, quando na verdade é a progressão normal do filme. Na verdade, é só prestar um pouco de atenção para não nos perdermos. A manutenção da equipe foi o fato principal para atingir o sucesso. Ela é a mesma do primeiro filme (pelo menos os nomes principais). Um dos poucos a não ser mantido, foi o diretor. No seu lugar, o estreante diretor Darren Lynn Bousman, que antes fazia somente videoclipes, mostrou firmeza na condução da trama. Com certeza, teve a fiscalização de Leigh Whannell (roteirista principal) e dos produtores. Mesmo assim, ganha merecidos elogios.

Mais ou menos na metade da projeção, bateu um pouco de indignação, pois o filme se torna mórbido. Isso é somente mais uma técnica da projeção. O filme oferece muita expectativa através dos materiais de divulgação e com as cenas iniciais. Esse momento mórbido acontece por causa da retirada dessa expectativa. Ao se aproximar do final, o filme mostra seu verdadeiro “rosto”, deixando todos novamente boquiabertos. Algo no melhor estilo de um jogo. Algo no melhor estilo Jogos Mortais.

Nesse filme, o assassino tem seu rosto revelado. Além do rosto, todos os porquês que o levaram a fazer seus maquiavélicos crimes. Uma lição de vida para todos. Não obstante a uma ótima parte técnica, um roteiro perfeito e medianas ou boas atuações, o filme ainda dá lição de moral. Você, que já tentou suicídio, esquece de dizer um simples te amo para seus pais ou filho e fica brincando com a vida, vai repensar um pouco depois das cenas e estórias demonstradas. Será mesmo que é preciso chegar muito perto da morte para dar valor ao que está ao seu redor? Se queixar da vida por ter perdido uma simples coisa, sabendo que seria o melhor caminho? Não, pois dificilmente você terá uma chance de sair ileso desse jogo. Um jogo cujo anfitrião não é o Jigsaw, mas o destino.

A mensagem por trás do filme, um final com reviravoltas de tirar o fôlego e cenas para lá de violentas. Esses enunciados fazem de “Jogos Mortais 2” um filme inesquecível. Uma verdadeira tentação quando fizerem a pergunta: “Qual filme eu alugo?”. Agora, se você não seguir as regras do jogo e não concordar com o contexto do mesmo, tome cuidado, pois você pode ser trancado em um quarto onde só tem uma televisão. Nela, só um filme: o da Xuxa.

Game Over!”

Raphael PH Santos
@phsantos

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