Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 16 de julho de 2005

Kung-Fusão

Ingênuo como grande parte das melhores obras de humor, Kung-Fusão tem tudo para se tornar um pequeno clássico da nossa geração. Espero que Stephen Chow não perca o tino e nos presentei mais e mais com obras como esta.

Sabe quando um filme exige que você se desligue COMPLETAMENTE do mundo real e mergulhe intensamente no mundo proposto por ele? Pois bem, em “Kung-fusão” somos testemunhas de tantas coisas absurdas: vôos ao estilo “O Tigre e o Dragão” (obviamente que não devemos levá-los a sério, diferente do que acontece no filme de Ang Lee), feitos heróicos mas, concomitantemente, com aquela velha forcinha da sorte e uma história que beira as dos desenhos de Hanna Barbera e os de Chuck Jones (grande responsável pelos integrantes da trupe Looney Tunes). A nós, só nos resta a opção de nos entregar e viver verdadeiramente os 95 minutos de puro humor nonsense e cartunesco. Não que isso seja muito difícil, já que o carisma do filme é enorme. Sempre parecendo uma brincadeira de criança ou um filme feito por grandes amigos seus, se torna praticamente impossível não gostar dele, do seu descompromisso com a realidade e sua certa ingenuidade – característica dos filmes de Stephen Chow (apesar de não ter visto nenhum filme dele por inteiro, essa peculiar característica é inerente em quase todos os trechos de “Shaolin Soccer” que assisti).

O filme conta a história de Sing (Stephen Chow, que, além de estrelar, dirige, é co-autor do roteiro e um dos produtores), um verdadeiro Zé-Ninguém que sonha em integrar a famosa e temida Gangue do Machado. O ambiente é a Xangai dos anos 30, uma cidade dominada por esses tipos de organizações. Então, Sing, em uma de suas muitas idéias brilhantes, resolve chantagear moradores do beco Chi-Queiro (um espécie de cortiço). Sendo que Sing não teria noção da grande confusão que iría envolver ele, seu amigo Sidekick (Chi Chung Lam), a tal Gangue do Machado e os moradores de Chi-Queiro. Então, a partir do estabelecimento da história, somos apresentados a personagens cada vez mais carismáticos, onde o humor nonsense impera, causando uma sucessão de momentos hilários.

Um fator que contribuiu fortemente para o firmamento de seu tom fabuloso e cômico, foi a (excelente) utilização de efeitos especiais. Em dados momentos, eles são tão convincentes quanto os que vemos em “O Senhor dos Anéis”, mas em outros, beiram o ridículo. Mas, logicamente, foram feitos para serem assim.

Contudo, o filme não apresenta suas armas somente nas carga cômica da história e dos seus personagens. Algo que também agrada ao público são as cenas de lutas. Coreografadas por Woo-ping Yuen, o mesmo cara que coreografou as lutas de “O Tigre e o Dragão” e a trilogia “Matrix”, elas são extremamente interessantes de se ver, principalmente porque nada ali necessariamente deve seguir as leis da física, abrindo assim, um leque de possibilidades para vôos, chutes, pontapés, socos e outras formas (inusitadas, diga-se de passagem) de machucar alguém.

Quanto as atuações, não há muito do que se falar. O timming de Chow é incrível, algo que ele já havia provado em “Shaolin Soccer”, seu filme anterior a este. Os outros atores também representaram seus papéis de modo satisfatório, mas, uma que merece destaque é Yuen Qiu, a interprete da Proprietária do beco. É incrível como é quase automático o riso quando ela surge em cena, já que ela faz coisas inusitadas.

Entretanto, apesar do filme ser toda essa loucura e essa aventura cartunesca, ainda possui alguns momentos em que o humor ralo e bobo demais impera na tela. E é aí que o filme dá o único tropeço. Diferente de algumas obras realmente relevantes do universo das comédias, este “Kung-Fusão” acaba perdendo um pouco do seu ritmo e às vezes se torna um tanto quanto maçante (alto fatal para uma obra que se propõe a fazer você rir).

No mais, o grande “pulo do gato” para se ver esse filme é deixar se levar pelo seu estilo e sua ingenuidade. Pode ser que, assim como eu, você passe 95 minutos de sua vida em um divertimento totalmente descompromissado e, ao mesmo tempo, interessante. Sei que pode ser um pouco ousado, mas não duvido que Stephen Chow se torne o Chaplin do nosso tempo, já que seu filme é humor na melhor concepção da palavra, algo que o Grande Comediante sempre fez. Garanto que, para se ver `em galera` é o filme perfeito, já que não tem uma trama complexa, nem exige concentração total para se entendê-lo (apesar de ser um crime esse negócio de ficar conversando durante um filme).

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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