Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 27 de março de 2005

Ladrão de Diamantes

Um filme tranqüilo. Não afeta, mas acaba sendo um filme bobinho de roubo, com visual fantástico, uma mulher espetacular e atuações canastronas. Não chega a ser ruim, porém, ao sair do cinema, você se esquece de tudo, exceto de Salma Hayek.

Não é brincadeira a quantidade de filmes do mesmo estilo que são lançados. Quantos filmes vêem na sua cabeça quando eu digo "aventura, roubo, mulher bonita, e comédia"? Fica até difícil dizer a lista. O filme consegue unir tudo isso, porém, mais uma vez, de uma forma clichê. Se a intenção era que fôssemos recordando de filmes do gênero ao assistirmos as cenas, eles obtiveram sucesso. É até pecado citar "Onze Homens e Um Segredo" como referência de algumas coisas, mas é só para efeito de comparação. Os roubos em "Ladrão" são feios, mal projetados e não mostram quase nada. Já em "Onze Homens", você confere tudo, desde o projeto até a execução de forma brilhante. É horrível ver um tema tão bom de ser trabalhado, chegar a ponto de ser clichê a um nível, que nada se aproveite em termo de roteiro. Sem falar na bizarra referência ao ótimo "Ladrão de Casaca", de Hitchcock.

“Ladrão de Diamantes” começa quando os talentosos ladrões Max “O Rei dos Álibis” Burdett (Pierce Brosnan) e sua linda cúmplice, Lola (Salma Hayek), resolvem tirar férias na Ilha Paradise, nas Bahamas, depois de um último grande golpe: o roubo do segundo dos três famosos diamantes de Napoleão. Garantiriam assim, o futuro financeiro, deixando para trás a carreira de crimes. Mas Stan (Woody Harrelson), um agente do FBI que passou vários anos perseguindo Max, sendo sempre ludibriado pelo ladrão, recusa-se a acreditar na aposentadoria do casal. Ele imagina que os ladrões planejam roubar o terceiro diamante de Napoleão, um dos maiores diamantes não-lapidados do mundo. O diamante deve chegar à Ilha Paradise em um navio, num tour de exibição da jóia, coincidindo exatamente com a chegada dos ladrões. Embora não tenha jurisdição no Caribe, Stant pretende flagrar Max e Lola – dessa vez o assunto é pessoal.

Chega a ser um gato e rato light a relação entre Max e Stan. Eles parecem ser mais amigos do que rivais. Max, por confiar na sua posição de ladrão mestre, nunca deixaria pistas para ser capturado ou seria indicado como suspeito para o FBI (menos para Stan). Muito menos ser flagrado. Stan faz de tudo para que isso aconteça e vive levando tocos pela esperteza de Max. De certa forma, não conseguimos explicar se Max é muito inteligente ou se Stan é muito burro. Enfim, a imagem que é passada é que eles não passam de grandes amigos. Quando que dois rivais vão pescar sozinhos num barco (em meio a uma investigação), discutem relacionamento e um passa bronzeador no outro? E o pior, eles dormem juntos em uma cena. Ihhh …

Em pensar que Pierce Brosnan foi James Bond, expert em invadir lugares e fazer investigação com precisão, sua atuação está modestamente canastrona. Ele envelheceu, óbvio, mas continua bonitão. Impressionante. Daria pra fazer mais um 007, que, infelizmente, até agora, nada foi confirmado em relação ao ator que será o próximo James Bond. Woody Harrelson, que faz Stan, cumpre bem o seu papel de policial pré-adolescente bobão. Don Cheadle que faz o mafioso da ilha Henri Mooré, e Naomi Harris, que faz a detetive Sophie (parzinho de Stan), fazem participações pequenas, sem muito destaque. O diretor Brett Ratner, que comandou os dois blockbusters "A Hora do Rush" e "A Hora do Rush 2", está no comando de uma produção pequena em termos de qualidade. Ele também dirigiu "Um Homem de Família" e "Dragão Vermelho".

Você deve estar perguntando: "E aquela gata do pôster? Vai falar dela não?" Pois é, nada mais justo dedicar um parágrafo da crítica para falar da personagem principal do filme e a grande salvação deste regular longa. Salma Hayek, que faz Lola, mulher de Max, é espetacular. Meus Deus! Ela consegue salvar o filme. Seu corpo bem definido, atuação sem comprometer, faz dela a personagem ímpar na produção e um colírio para os olhos. A mexicana do ótimo "Frida" e do fraquíssimo "As Loucas Aventuras de James West", está sensual como nunca esteve. Uns preferem a atuação de Pierce Brosnam, eu particularmente prefiro Salma. Eu já disse em outras críticas que mulher bonita não salva produção, esta é uma exceção à regra.

Não há muito que falar do filme. A reviravolta final chega a ser surpreendente (em termos), mas a seqüência desta cena acaba estragando tudo, transformando-se naquele humor bobo de sessão da tarde. Afinal, da mesma forma que se iniciou, tinha que se acabar. E isso não é spoiler, é só um adentro a forma boba que foi tratado um assunto tão interessante de se ver numa projeção. O que acaba sendo melhor neste filme, são as cenas cômicas (mesmo que, em reduzidas partes) e o pôr-do-sol que acontece no chalé em que eles vivem. Vale uma conferida sem muita pretensão. Apesar do fato que, ao sair do cinema, você talvez nem se lembre mais o nome do filme.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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