Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 04 de abril de 2005

Miss Simpatia 2: Armada e Perigosa

Nada como um filme pipocão e ruim pra relaxar. Essa seqüência é o típico filme que você assiste despretensioso, dá algumas raras risadas, e, após a sessão, vai comer algo no shopping, depois vai ao banheiro, dá descarga e esquece de tudo que aconteceu no cinema. O filme não tem boa história, tem, em sua maioria, péssimas interpretações, e não acrescenta em nada. Mas até que não é ruim...

Primeiramente, é uma seqüência de um filme que foi sucesso no mundo todo. Havia muita responsabilidade nas costas dessa seqüência. Apostou na simpaticíssima Sandra Bullock mais um vez, mas, como todos sabem, a comédia não vive só de risos. Uma boa comédia consegue fazer você dar boas risadas, consegue atrair pelo roteiro e consegue transmitir carisma de cada um dos seus personagens. Esse filme é bonzinho no primeiro ponto, horrível no segundo e bizarro no terceiro.

"Miss Simpatia 2" traz de volta a agente do FBI Gracie Hart (Sandra Bullock) pouco após ter combatido uma ameaça ao concurso de Miss Estados Unidos trabalhando disfarçada de candidata, o que fez dela uma celebridade da noite para o dia no filme “Miss Simpatia” (2000). Mas as coisas não estão correndo muito bem para Gracie ultimamente. Recuperando-se do término de um namoro e frustrada ao se dar conta de que sua fama repentina pode impedi-la de trabalhar sob disfarce – aquilo que ela mais gosta de fazer – Gracie reluta, porém acaba sendo convencida por seu chefe, o agente McDonald (Ernie Hudson), a trabalhar para a agência da única forma que é possível agora: aparecendo toda produzida no circuito de talk shows da TV como “o rosto do FBI”. Aproveitando-se do fato de contar com a melhor relações públicas possível na história da agência, o FBI faz com que sua nova garota da capa passe por uma maratona de sessões de foto, e ela então reassume o papel de miss diante de um público que se tornou seu fã, contando com a ajuda do personal stylist Joel (Diedrich Bader) para dar uma repaginada na moça.

Embora resista no início, Gracie logo passa a gostar da atenção que recebe e não demora até que se empolgue até demais com tal função. Sua nova parceira, Sam Fuller (Regina King), uma agente durona e ambiciosa que não é propriamente a maior fã de Gracie, é a primeira a mostrar que a paparicada estrela do FBI está se tornando a “Barbie” da agência.
Mas quando os melhores amigos de Gracie – a vencedora do concurso Cheryl Frazier (Heather Burns) e o apresentador Stan Fields (William Shatner) – são seqüestrados em Las Vegas, seus instintos voltam com força total.

Sem querer arriscar perder a popular mascote, o FBI envia Gracie para uma conferência de imprensa em Las Vegas, acompanhada de Sam como sua guarda-costas, e deixa a missão de resgate por conta do supervisor local da agência, Collins (Treat Williams), enquanto o agente júnior Jeff Foreman (Enrique Murciano) tenta manter Gracie e sua Fuller em segurança até que a missão seja cumprida. Acontece que Collins conduz a investigação na direção errada e Gracie terá de provar mais uma vez que as aparências enganam e que, quando se trata de solucionar um caso difícil ou de ajudar seus amigos, não há nada que ela não seja capaz de fazer.

No começo do filme você fica pensando que é uma seqüência de "Bridget Jones" na versão policial. Sério! Há uma semelhança gigante. Primeiro com o chute na bunda pelo telefone que ela leva do namorado (que foi parceiro e parzinho romântico no primeiro filme), Eric Matthews (interpretado pelo ator Benjamin Bratt no primeiro filme e que não faz participação alguma nessa seqüência). Segundo é a choradeira, olhos roxos e aquele ronco quando sorrir. Típico de gente carente de 30 e poucos anos. Só que depois do fora amoroso, o filme volta para "Miss Simpatia".

O que prejudicou muito nesse segundo filme, além de um roteiro horrível, foram as ausências de Benjamin Bratt e Michael Caine. Ambos foram importantes no primeiro filme e poderiam acrescentar nesse segundo. Pelo que se sabe é que eles recusaram devido aos fatores financeiros. O roteiro fraquíssimo elaborado por Marc Lawrence tira toda a inteligência das piadas do primeiro filme e transforma em baboseira cheia de clichês. Não quero nem comentar a direção de John Pasquin, que é um desastre.

Sandra Bullock, ao lado da durona e parceira no filme, Regina King, são as únicas que escapam do desastre. Apesar de não ser muita coisa. Principalmente porque quando o roteiro coloca as duas para brigarem e depois da metade do filme elas, obviamente, fazem as pazes, tudo começa a desmorona numa torrente onda de clichês. Infelizmente é o que podemos resumir o filme: um enorme emaranhado de clichês. Nem a beleza da eterna namoradinha dos EUA consegue sustentar o filme. Tudo bem que ela possui um certo "timing" para o gênero comédia. Mas, mesmo assim, não chega a ser tão razoavelmente bom como no primeiro filme. Sem falar que o filme foi transformado em Comédia, ao invés de Comédia Romântica. Já que nesse filme, ela não tem interesses amorosos.

Talvez o pior roteiro de todos tempos, cheio de furos, personagens sem o menor carisma, piadas bobas e pouco eficientes, fazem desse filme uma comédia terrível. Mas no final das contas, não chega a ser tão ruim. Como é que pode? Raciocínio simples: se você colocar num liquidificador ovo podre, maçã com hematomas, cebola, picanha dura, arroz chinês queimado, meio litro de cachaça, 2 bananas pretas, 1 rim de porco, coração de frango e uma latinha de leite condensado cheia de formiga, será que vai sair algo que bom? Quem sabe? No filme, reunindo muita coisa ruim, acabou saindo algo que deu pra engolir. E olha que não foi tão ruim como parece …

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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