Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 28 de março de 2005

Olga

O filme gera uma expectativa enorme antes, mas ao término da sessão dá impressão que você assistiu 3 episódios da novela das 8.

Eu tive a oportunidade de assistir ao filme durante a cabine de imprensa que ocorreu aqui em Fortaleza, a convite da própria coordenadora da cabine, Aurora Miranda Leão, que inclusive é repórter do nosso portal. Esta cabine ocorre exclusivamente para os profissionais da imprensa local e para alguns convidados. Minha expectativa era relativamente elevada devido ao fato de ter lido o livro de Fernando Morais (no qual o filme é baseado) e ter visto várias vezes o trailer em outras sessões. Esperava muito e finalmente pude conferir o longa.

Fraco para crítica, chorável para o "povão". De fato é um filme de apelo popular enorme e que não teve intenção alguma em agradar a crítica (fuck all). É uma novela na tela grande. A pinta de super produção hollywoodiana e com a cara das “minisséries + novelas das 8” da Globo, faz com que o longa tenha uma ótima fotografia (fazer nevar em Bangu é algo para ganhar um Oscar), uma excelente produção, porém, uma exagerada “novelada” na adaptação do livro (com roteiro de Rita Buzzar).

A intenção do diretor Jayme Monjardim (que estréia nas telonas levando uma pisa de pau de bambu) foi louvável. Tentar colocar o nosso filme no patamar das produções hollywoodianas não é para qualquer um. O cenário de Olga é algo de espetacular. Um marco para o cinema nacional. Outro ponto marcante é "garota" que atua como Olga. Vocês já viram uma interpretação tão intensa produzida em terras tupiniquins como a de Camila Morgado? Não vamos ser hipócritas em dizer que Camila não atuou bem. Ela dá um show de interpretação nas cenas que exigem isso dela.

Olga Benário (Camila Morgado) nasceu de uma família judia em Munique na Alemanha em 12 de fevereiro de 1908. Vira militante e em 1925 vai para Berlim onde continua sua trajetória. Em 1926 é presa por traição, mas é libertada poucas semanas depois. Em 1928 lidera uma cinematográfica investida ao tribunal para libertar seu companheiro Otto Braun (Guilherme Weber). Os dois fogem então para Moscou onde Olga é aclamada, faz treinamento militar e carreira no Comintern. Em 1934 Olga é designada para garantir a chegada segura ao Brasil do líder comunista Luís Carlos Prestes (Caco Ciocler) onde lideraria a Intentona Comunista de 1935. Deveriam se passar por marido e mulher para facilitar seu disfarce. Na longa viagem se apaixonam (o longa cansa por mostrar e exagerar nesse romance).

Com o fracasso da revolução, Olga e Prestes são presos e separados. Grávida de Prestes, Olga empreende uma grande luta para ter sua filha no Brasil. Quando Anita (sua filha) tinha 14 meses ela foi retirada de Olga e entregue à avó Leocádia (Fernanda Montenegro), fato que Olga só soube depois. Em 1938 Olga foi transferida para o campo de concentração de Lichtenburg e em 1939 para Ravensbrück, o único grande campo exclusivo para mulheres. Lá Olga foi líder de bloco e deu aulas para as outras presas. Em fevereiro de 1942 Olga foi levada com outras 200 prisioneiras para a câmara de gás de Bernburg onde foi executada.

O filme tem uma história fantástica. Quem leu o livro não há como negar a esse fato, mas da forma que ele foi adaptado prejudicou muito a película. Conseguiram transformar um enredo cinematográfico numa história de novela das 8 (que são as mais dramáticas). O teor dramático do filme é enorme (leia-se quando tiram a filha de Olga de sua guarda), o que deixa o principal e mais interessante ponto da história, a política, visivelmente de lado. Eles transformaram o revolucionário Luis Carlos Prestes em um ser transparente em cena. Ridiculamente invisível quando Olga está na tomada (em sua maior parte). Até porque Camila Morgado com aqueles belos olhos hipnóticos não deixam você desviar a atenção de sua interpretação exageradamente impecável.

Além de Camila Morgado, Fernanda Montenegro também consegue atuar com primor (pra variar). No papel de Leocádia, mãe de Luis Carlos Prestes, ela está perfeita. Consegue transparecer o drama da mãe que sabe que nunca mais verá o seu filho (quando ele parte para o Brasil) e luta pelos direitos de liberdade dele e de Olga (isso bem depois da metade do filme, quando eles são presos). O romance de Olga com Prestes é um dos pontos mais baixos do longa. Monjardim, novelista como ele é, enrolou muito e criou clima de amor em plena revolução e só não prolongou mais porque enfim estamos falando de um filme com mais de 2 horas e 20 minutos de projeção (cansativo demais) e não de uma novela de 150 capítulos.

E aqueles closes de rostos típicos das novelas? Aqui você vai cansar de ver cenas semelhantes. Ainda tem aquela infeliz idéia de colocar algumas pessoas falando em alemão e as personagens respondendo em português (vice-versa). Teve uma hora na projeção que fiquei com tanta agonia quando escutava isso, que acabei pegando um pouco de raiva. Irritou-me, de fato.

Apesar de tudo, eu recomendo o filme. É aquele filme que dá pra chorar, e se você for uma manteiga derretida, leve um lenço, porque cenas choráveis acontecem muitas vezes. Eu bato palmas para a ousadia da super produção mas deixo o alerta de que não funciona levar o estilo TV para o cinema e vice-versa. Cada macaco no seu galho.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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