Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 11 de fevereiro de 2006

Orgulho e Preconceito

Um filme que tinha tudo para ser algo bem melhor, mas acaba se perdendo e resultando numa produção apenas mediana. “Orgulho e Preconceito” chega com o peso de algumas indicações ao Oscar 2006 e, como saldo final, acaba decepcionando um pouco.

Em plena Inglaterra do século XIX, Elizabeth Bennet (Keira Knightley) é das 5 filhas de uma família humilde, cuja mãe tem como única e maior aspiração o casamento das garotas com um homem rico, de futuro garantido. Quando o simpático Sr. Bingley chega na cidadezinha acompanhado do misterioso Sr. Darcy, as garotas Bennet se empenham em arranjar seu casamento com a mais velha das irmãs, Jane, que acaba se apaixonando de verdade pelo rico homem e vice-versa.

Elizabeth, no entanto, devido à sua personalidade forte, tem um primeiro contato conturbado com o amigo do futuro marido em potencial de sua irmã e desenvolve uma relação de ódio com Sr. Darcy, a quem julga como arrogante, prepotente e preconceituoso.

Aos poucos, Elizabeth vai percebendo que o Sr. Darcy é na verdade bastante diferente do que ela imaginava até finalmente se descobrir apaixonada por ele. A referência ao título, que foi traduzido ao pé da letra para o português, está no fato de que os personagens principais não conseguem enxergar seus sentimentos a principio devido à personalidade forte de ambos e os conceitos que tinham um do outro, que se mostram afinal equivocados. Tanto o Sr. Darcy vê Elizabeth com certa restrição devido à sua origem, quanto a própria Elizabeth tem uma antipatia gratuita pela riqueza do rapaz.

A história, baseada no livro da escritora britânica Jane Austen, não é exatamente interessantíssima e até mesmo apresenta um ar de clichê, mas teria o potencial para ser bem mais envolvente. O que nos parece, contudo, é que o diretor Joe Wright (talvez devido a sua ainda pouca experiência) não soube conduzi-la bem, deixando o filme com um “timing” indefinido e um desenvolvimento um tanto quanto redundante.

A interpretação de Keira Knightley como a protagonista Elizabeth Bennet é apenas razoável, muito longe de ser digna de uma indicação do prêmio da Academia de melhor atriz. Parece-me que a intérprete não acertou o tom exato da personagem, algumas vezes parecendo exagerada. Não consegue ganhar a simpatia do público e nem demonstrar química com o seu par vivido pelo ator inglês Matthew Macfadyen, um rosto desconhecido por aqui. Destaque no elenco para o veterano Donald Sutherland, que vive o patriarca dos Bennet e para Judi Dench, que vive a megera Lady Catherine. Os atores vivem dois dos poucos personagens que convence em sua atuação.

Apesar de tudo, existem méritos em “Orgulho e Preconceito” e estes estão justamente relacionados às categorias em que o filme recebeu indicação para o Oscar 2006 (salvo, obviamente a categoria de melhor atriz). A caracterização de época está bastante bem cuidada com relação aos figurinos e a reprodução de hábitos da época como os bailes da sociedade. A fotografia, realmente, nos brinda com cenas belíssimas e a trilha sonora incidental está notável.

A falha do filme, definitivamente, está no modo como foi conduzido, o que é uma pena numa produção de proporções grandiosas como essa. A sensação que o filme passa é de algo que quase chegou a acertar, mas se perdeu no caminho.

Talvez nem mesmo os corações mais açucarados se deixem envolver por “Orgulho e Preconceito”, mas quem se dispuser a assisti-lo corre o risco de até chegar a gostar. O filme, repito, está longe de ser uma obra-prima, mas como nada é unânime pode agradar a alguns. De qualquer maneira, não custa conferir. Na pior das hipóteses ainda há a bela fotografia e trilha sonora para não fazer do filme uma perda de tempo.

Amanda Pontes
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