Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 25 de abril de 2005

Pesadelo, O

“O Pesadelo” tem uma história interessante, mas que foi desperdiçada por Hollywood e sua terrível mania de explicitar tudo. Atuações péssimas, direção fraquíssima e personagens apáticos.

De acordo com o Aurélio, “medo” consiste em “sentimento de grande inquietação ante a noção de um perigo real ou imaginário, de uma ameaça; susto, pavor, temor, terror”. Aprendam com o dicionário o que consiste o “medo”, pois, se você nunca sentiu, não será agora que sentirá.

Desde o lançamento de “A Casa-Amaldiçoada” que não colocava mais fé em filmes que envolviam casas assombradas, fantasmas, espectros e coisas afins. Quebrei minha cara com o lançamento de “Os Outros”, um dos suspenses mais belos já produzidos. Quando soube de um projeto chamado “O Pesadelo”, admito que fiquei com um pulga atrás da orelha, pois achava difícil que algum filme pudesse ser eficaz, enquanto suspense, tratando de uma história de bichos-papões e casas mal assombradas.

E, sinto informar-lhes queridos leitores, mas minhas suspeitas não foram à toa. Quer dizer, foram sim. Imaginava que iría assistir a um longa regular, mas não um filme ruim.

Tim Jensen (Barry Watson) é um jovem atormentado desde a infância por um medo não muito comum entre os adultos: o do ‘bicho-papão’. Disposto a curar-se dele, TIm resolve ir visitar a casa onde passou sua infância e testemunhou acontecimentos bizonhos. A história é um “samba-do-crioulo-doido”, mas que funcionaria se fosse contada de outra forma, com outra equipe no comando e com atores melhores.

Assim, assistimos a 86 minutos (ainda bem que o filme é pequeno!) de insulto a nossa inteligência, efeitos especiais altamente desnecessários (e toscos, diga-se de passagem) e a uma sonoplastia que se resume em subir os acordes nos momentos supostamente ‘tensos’ da trama. Isso sem contar que o suposto clímax do filme não consegue assustar (muito menos empolgar) nem um embuá e que, o máximo que consegue arrancar da platéia é um discreto bocejo.

Acho redundância da minha parte tecer algum comentário sobre as atuações e a parte técnica do filme, mas vamos lá. A “interpretação” de Barry Watson (é incrível como esse cara é parecido com o Paulinho Vilhena) se resume a cerrar os olhos e declamar (no melhor estilo “Pedro – O Escamoso”) as frases do roteiro. Acerca das “atrizes" (espero que tenham entendido o porquê das aspas) Emily Deschanel (amiga de Tim, Kate) e Tory Mussett (namorada de Tim, Jessica), podemos dizer que suas atuações são tão pífias quando às de Barry Watson, mas com um diferencial: ambas são saborosíssimas.

Quanto a direção constatamos que Stephen T. Kray caiu na armadilha de andar pelo caminho mais fácil: o de abandonar a sutileza e partir para o grotesco. “O Pesadelo” é um filme que exige uma sutileza e sensibilidade que poucos têm para funcionar (novamente cito o exemplo do “Os Outros”, pois ele é um filme altamente elegante e sutil, onde nada é mostrado na tela, mas a atmosfera denuncia e imprime o ritmo que Amenábar (o diretor) quis dar ao longa).

Em suma, “O Pesadelo” tem uma história interessante, mas que foi desperdiçada por Hollywood e sua terrível mania de explicitar tudo. Atuações péssimas, direção fraquíssima e personagens apáticos, efeitos risíveis, sutileza zero e um excelente sonífero, são essas as características dele.

OBS: Se o filme, por se tratar de medos infantis, pelo menos citasse a “aterrorizante” Loira-do-Banheiro (responsável por muitos pensamentos libidinosos dos adolescentes dos anos 80), teria sido bem melhor e conseqüentemente subiria no meu conceito; mas ele se restringiu apenas a mostrar o Bicho-Papão…

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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