Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 28 de março de 2005

Suite Habana

Suite Habana é um longa que na verdade daria um belo curta. É um sonífero que não nos deixa dormir.

Suite Habana foi o filme de estréia do 14º Festival Cine Ceará, dirigido por Fernando Pérez, que recebeu o troféu Eusélio Oliveira. O filme mostra um dia na vida de alguns moradores de Havana, Cuba. Fernando procurou mostrar cada detalhe do cotidiano dessas pessoas, com uma ótima fotografia, e boa sonoridade, afinal o filme não tem diálogo nem narrativa, são 80 minutos de imagens, sons e música. Ao receber o troféu Fernando até soltou uma piadinha: "Por favor, não saiam no meio do filme". Para alguém que não valoriza o trabalho desses profissionais do cinema, realmente teria saído no meio do filme.

Alguns podem pensar que o longa é chato, que é ruim. Ele é cansativo sim, mas Fernando consegue em alguns momentos unir de forma sublime o som e a imagem, nos fazendo sorrir ou simplesmente ficarmos atentos aos acontecimentos na tela. Isso me lembra uma passagem, na qual eu achei divina a idéia de fazer uma mistura de cenas, onde mostrava uma panela de pressão fervendo e belas mulheres sob os olhares e deboches masculinos. Fernando brinca com os sons e as imagens, algo que pude perceber foi que cada local público que ele mostrava mais detalhadamente, uma música suave surgia ao fundo.

O filme mostra a periferia de Havana. Podemos perceber as casas em péssimo estado, onde vivem as personagens. O diretor se concentra em mostrar o trabalho, o esforço que cada um faz para viver. Tem momentos em que ele muda rapidamente a cena de uma personagem à outra trabalhando. Um como pedreiro, outra como vendedora de amendoins, outra trabalhando em uma indústria de cosméticos, entre outros. No filme também é mostrado o caos de uma cidade. Em um momento eu me perguntei se o objetivo seria causar stress nos espectadores, com tanto barulho e imagens caóticas.

Suite Habana, que na verdade é um documentário, é realmente bastante cansativo. Para algumas pessoas que eu olhava, estavam coçando os olhos ou com cara de entediados (isso logo no setor de imprensa, imagina nas poltronas do público). Mas a fotografia é excepcional, a produção foi toda focada nisso, sempre com muitos detalhes, pelos quais nos faziam perceber o real sentimento das personagens.

Bruno Sales
@rmontanare

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