Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 05 de novembro de 2005

Tudo Acontece em Elizabethtown

Tudo que acontece em filmes de comédias românticas, aconteceu em Elizabethtown – se me permitem o trocadilho. Ele tem muitos clichês, mas a forma de ser conduzido é diferente de todos que já vi, sendo assim diferente. Melhor ainda, ele passa uma mensagem que não tem muita relação com seu gênero.

Um fracasso. Geralmente, quando tudo está indo bem, isso tem que acontecer. Fracasso! O bom é saber administra-lo, pois quando eles acontecem, geram um efeito dominó. Quase nada da certo. Você se vê em um mar de derrotas. Orlando Bloom interpreta um fracassado. “Fracassado” (lê-se entre aspas), pois depois de arruinar com um produto de sua empresa por conta de seu péssimo design, acontece o que os chefes sempre fazem: é demitido! Pior ainda, seu pai morre e ele como o mais velho tem que resolver tudo. Quando ele recebe essa mensagem trágica, estava tentando se matar, tendo que parar a ação. Ou seja, nem suicídio ele conseguia fazer em paz. Até aí, nada de sermos apresentados a Claire Colburn (Kirsten Dunst), o que já demonstra um pouco de diferença desse filme para com outros no que consta ao desenrolar da estória.

Drew Baylor (Bloom) pega um avião e vai para a cidade em que seu pai havia morrido. Sua mente voa tão alto quanto o veículo que o conduz. Sem explicações, uma aeromoça resolve conversar e tirar o rapaz do ”sério”. Por sorte dela, foi aceita com um pouco de bom humor, mesmo o moço preferindo sossego. Mal sabia ele o que aquela mulher guardava para seu futuro. Uma lição, é isso que ela tinha a dar a ele e alguns expectadores que aceitarem.

“Elizabethtown” sai do rumo natural das comédias românticas pelo modo como apresenta sua estória. Vagarosamente, causando algumas cenas desnecessárias, mas de uma forma bem aceitável e interessante. A película é longa para seu gênero. São mais de duas horas de duração. O festival de clichês existe e algumas piadas não agradam de jeito nenhum. Sem falar nas cenas do Orlando Bloom dirigindo que é notável a utilização de fundo verde para se fazer o cenário. Isso não é mais legal em filmes desse estilo e foi muito mal feito.

Além de uma condução diferenciada, tem um recado. Não, nada do que se deve fazer para conquistar a pessoa amada. O roteiro demonstra que mulheres precisam expor iniciativa quando acham algo que vale a pena. Sem falar que muito mais vale uma situação diferente e inusitada do que simplesmente chegar, queixar e vamos pro bem bom. Outro assunto abordado remete às derrotas que passamos durante a vida. Depois de um tempo da projeção é que percebemos isso.

Tudo que está acontecendo, na verdade, gira em torno das primeiras cenas e o pano de fundo na vida do protagonista. Um pouco obscuro nas linhas do roteiro, é transmitido que apesar de tudo, não adianta ficar correndo atrás, pois as coisas virão fluentemente. Ensina também a confiar nas pessoas em horas como essas de tristezas, principalmente se tiver sorte de encontrar uma aeromoça extrovertida do tipo da Claire. Se achar pouco essas peculiaridades que o filme nos oferece, alerte-se também quanto ao fato de sempre valorizar o que está ao seu redor enquanto há tempo. Pois, segundo o filme, quando você vê, o tempo passou e os anos poderiam ter sido diferentes. Uma frase apresentada no filme serve para todas pessoas: “Só aqueles que arriscam, têm chances de ganhar”.

As escolhas para os papéis principais foram boas. Orlando estava cotado desde o começo do projeto, mas Ashton Kutcher assumiu. Felizmente, teve de sair por alguns problemas. Dizem as más línguas que o diretor Cameron Crowe, não gostou de sua interpretação. Fato é que Orlando se mostrou muito a vontade no papel.

O filme exigiu um pouco além do que se esperava do seu personagem principal, Drew Baylor, feito por Orlando Bloom (permita-me um pertinente parêntese: filmes do gênero nem sempre buscam grandes atuações). Já vimos o rapaz pulando, atirando, lutando, suando e até quase morrendo em Falcão Negro em Perigo. Dessa vez, foi preciso sua interpretação séria e em alguns momentos brincalhona. Demorei a me acostumar, mas logo esqueci suas aventuras e mergulhei em seu jeito carismático de bons amigos. Apesar de ser seu par romântico, o que sabemos da personagem de Kirsten Dunst é simplesmente as coisas que ela conversa com ele – e tome conversa ao telefone; eles não pagam ligação não? – ou em cenas que contracenam. A bela loira (ruiva em Homem-Aranha), também se apresenta muito bem. Quando a câmera fecha em seu rosto, vemos seus dentinhos desengonçados que, por incrível que possa parecer, dão um charme especial a seu papel. É impossível não se apaixonar pelo jeito dela. Entre o casal, não há química nenhuma. Isso fora possivelmente programado para dar um tom a mais de que eles não vão terminar juntos, ou algo parecido – geralmente acontece essa estratégia em filmes assim.

Em uma projeção charmosa como essa não poderia era faltar uma boa trilha sonora. Que tal U2? Não te satisfaz? Relaxa, pois músicas boas é o que não faltam. Vale muito a pena conferir. Até o toque do celular do Drew é legal (apesar de repetitivo). Nesse quesito, nenhuma falha. Interessante ressaltar que no primeiro beijo do casal não ouve qualquer trilha sonora, somente o som dos lábios se entrelaçando; algo diferente e inesperado. Ousado também, diga-se de passagem.

Uma soma boa que faltava para o gênero romântico comediante. Alguns momentos o filme nem precisa ser intitulado como comédia e se você não gostar do clima pode buscar as mensagens que ele te transmite, pensar um pouquinho nela e ver que valeu a pena ter gastado cento e trinta e oito minutos de sua vida. Eu que sou um adorador desses tipos de filme vibrei, confesso.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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