Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 13 de maio de 2005

Visões

Um filme para se acompanhar com bastante concentração. Com alguns sustos e uma história complicada de se entender, "Visões" é o segundo filme da série "Jian Gui", intitulada nos EUA como "The Eye". Aqui no Brasil resolveram dar nomes diferentes, mas nada que mude o valor do filme.

"Visões", ao contrário do que parece, é a seqüência do longa de terror oriental "A Herança" (Jian Gui), mas com uma história diferente da original, como um novo conto, como se os filmes fizessem parte de uma série. Sempre com um enredo interessante e fora do comum, o terror oriental anda ganhando mais simpatizantes e seguidores. Além dos já famosos e adaptados "O Chamado" e "O Grito", o pessoal de olho puxado nos trás novas histórias, cada vez mais inteligentes e assustadoras. O original "Jian Gui", que recebeu o nome de "A Herança" aqui no Brasil, é demais intrigante, mas infelizmente sua seqüência, o então "Visões", não agrada tanto quanto o primeiro.

Joey Cheng é uma mulher atormentada por um péssimo relacionamento como amante. Quando Sam resolve acabar com a rede de traições e voltar pra sua esposa, Joey se sente cada vez mais no fundo do poço. A esperança de uma vida digna fora oferecida através de uma criança que trás em seu ventre, mas quando Joey descobre prefere tentar o suicídio ao ter que criar o filho do seu ex-amante e eterno amor. Quando recobra a consciência depois da tentativa sem sucesso, Joey percebe que sua vida não é mais a mesma quando passa a sentir e ver a presença de espíritos ao seu redor.

Como já comentado, "Visões" possui uma narrativa diferente do original, pois a protagonista recebe o poder de conviver com os espíritos depois de um acontecimento marcante em sua vida, no caso a tentativa de suicídio, enquanto em "A Herança", uma mulher começa a ver pessoas mortas depois de um transplante de córneas doadas por uma mulher que dizia prever o futuro. Pra entender a história de "Visões" precisa-se quebrar um pouco a cuca, pois ao mesmo tempo em que o filme busca o susto, ele consegue nos confundir um bocado.

Dirigido pelos irmãos Pang, o longa trás Shu Qi no papel principal. A mesma já trabalhou com o renomado Jackie Chan em "Gorgeous". Com um começo de carreira diferente da maioria das atrizes, Shu Qi consegue mostrar hoje que uma modelo pode sim se tornar uma ótima atriz.

Empolgados pelo sucesso que os dois filmes fizeram no oriente e estão fazendo agora aqui no ocidente, os irmãos Pang já filmaram uma nova parte, intitulada "Jian Gui 10". Não, o filme não possui 10 partes, o porquê deles usarem esse título nós só descobriremos quando assistirmos. Torcemos pra que não siga a famosa regra de que a cada seqüência, pior a história. Mas uma coisa é certa, Jian Gui significa "Vendo fantasmas", então é certeza que o filme continuará abordando o tema dos espíritos convivendo entre nós.

O roteiro de Lawrence Cheng e Jo Jo Yuet-chun Hui possui uma forma menos peculiar de mostrar a história. É tudo muito direto, no estilo "vamos direto ao ponto". Um exemplo engraçado é que o terror norte-americano trata os medos e os segredos de um jeito muito misterioso, no qual o protagonista leva todo o tempo do filme procurando descobrir o motivo praquilo tudo estar acontecendo, enquanto o terror oriental já conta tudo "na lata". Quando alguém está sendo atormentado por espíritos, basta conversar com alguém mais experiente que já obtém a resposta. Muitos podem achar isso um saco, pois pensam que o excitante é tentar desvendar o mistério por conta do protagonista, já outros podem achar que isso é uma jogada pra deixar logo de "xurumelas" e ir direto ao ponto que é assustar. Apesar de ter esse estilo mais direto, o terror oriental ainda consegue fazer a gente rachar a cabeça em busca de outras respostas, isso torna tudo mais interessante.

Infelizmente o que vemos em todas as histórias são situações parecidas, pois se aborda muito o tema do suicídio. Podemos conferir isso em "A Herança", "Visões" e no ainda desconhecido "Shutter", no qual todos possuem o suicídio como plano de fundo. Seguindo as crenças orientais, os diretores vêem isso como um pontapé para o sucesso do longa, mas creio que um dia nós, desse lado de cá, vamos nos cansar disso. As crianças também estão sempre presentes e a figura da morte geralmente é mostrada como um espírito sem face e sem atitude.

Quem não teve a oportunidade de assistir "A Herança" não se preocupe, pois "Visões" não se relaciona em nada com o original. No entanto assistam-no também, pois o primeiro possui um desenrolar mais interessante de se acompanhar. Acredite no potencial oriental. Se você acha que eles são melhores quando adaptados pelos norte-americanos estão se enganando, pois os orientais são sempre melhores.

Bruno Sales
@rmontanare

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