Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 04 de fevereiro de 2006

Wolf Creek – Viagem ao Inferno

Se a sua intenção é assistir “Wolf Creek”, não perca esses noventa e nove minutos de sua vida perante um filme tão chato. Ele deixa a desejar em quase toda a parte técnica e não demonstra nada de novo. Inclusive a superficialidade vista em quase todos os últimos filmes de suspense está presente.

O expectador mais bonzinho vai ao cinema e, mesmo se apresentado de forma remota, sendo qualquer o filme, tenta captar algo bom. Isso se chama captar o feeling da trama. Às vezes é uma tarefa árdua, mas geralmente surte efeito. Não diferentemente das anteriores, dessa vez, sentei tendo todo o meu redor figurado em penumbra e comecei a receber aquelas imagens inicialmente alegres, mas que davam prelúdio de que um suspense estava por vim. Tentei, tentei e tentei – tentei mais ainda, pois o filme se demorou a desenrolar-se -, contudo não consegui nada de interessante além de um alerta bobo que pode ser encontrado em qualquer manual para turistas: nunca viaje para aonde você não têm boas informações; dentre outros avisos do gênero. Deixando esse assunto um pouco de lado, vamos falar da trama em si.

O filme gira em torno de três personagens: Liz Hunt, Kristy Earl e Ben Mitchell, que juntos vão a um diferente passeio turístico por estradas australianas. Dentre um ópio de felicidade, eles se arrumam da melhor forma e partem para longas horas de pilotagem a um carro. Quando chegam a um ponto turístico resolvem fazer a visita e, quando voltam, nada de o carro funcionar. Ben, conhecedor nato de estórias (ou histórias) a respeito de óvnis (objetos voadores não identificados – é, algo bem Arquivo-X), começa a contá-las e causar medo em suas companheiras de viagem. Eis que surge Mick Taylorer se propondo a ajudar o trio de aventureiros parados no meio do nada por conta, aparentemente, de um defeito no motor do veiculo.

Essa sinopse simples e até aceitável, começa a se tornar chata no momento que não vemos quando que finalmente o gênero do filme vai começar a vingar. Ele demora, demora e demora mais um pouco para chegar ao tema proposto e, dentre essa espera toda, alguns expectadores, inteligentemente, dão adeus àquela projeção e tomam rumos melhores em suas vidas. Outros ficam e se deparam com um desenrolar cheio de clichês. Além disso, a tentativa de mostrar algo diferente após toda essa espera e esse desenrolar cabuloso, é um verdadeiro fracasso. Sendo assim, o final soa como um simples “sim, e aí?”. A lembrança do dinheiro que você pagou para estar ali vem rapidamente e, junto a ela, a raiva – ou para os mais legais: a chateação – de ter gasto preciosos reais com aquilo (um verdadeiro “aquilo”).

Nem mesmo as atuações salvam. Framboesas de Ouro para o ator Nathan Phillips, que interpretou o Ben Mitchell. Entre uma tentativa e outra de demonstrar-se à vontade ele se perde completamente e nem uma simples coçada na barba soa como natural. Deplorável mesmo! Mas, acontece… força que um dia você chega lá. Outra bem fraquinha é Kestie Morassi (a loirinha medrosa Kristy). Mesmo entupida de sangue no rosto, não consegue passar um sentimento de pena para com a personagem. Bichinha, até que tentou, mas, espertamente, o diretor Greg McLean cortou as cenas em que merecia uma boa interpretação da moça e ficamos apenas com o áudio do acontecimento ou um tomada de camera bem distante diante do que estava se passando. Cassandra Magrath (a corajosa Liz) é a melhor do trio. Feito que não soa como uma grande vitória. É como correr sozinha em uma maratona e chegar em primeiro lugar.

Comentários especiais para o personagem Mick Taylorer (o fazendeiro que parece ser bonzinho). Eu não sabia que o Nasi (vocalista da banda “Ira!” e vulgo: Wolverine Valadão) estava no elenco do filme. Se não é ele, com certeza é o Hugh Jackman interpretando um Wolverine bem mais velho e acabado. De certa forma, o personagem é engraçado demais e salva o quadro de interpretação. Tomara que pensem agora em fazer um filme solo para ele. Que tal: Mick Taylorer: a visão de um Wolverine idoso?

Muito bem, amigos. Peço francamente que não assistam a esse filme. Para não saírem dizendo que fui muito rude indico o filme para as empresas de turismo de forma que o usem para alertarem seus clientes a não fazerem essas viagens malucas com o destino sendo para onde o nariz aponta e a gasolina permite, pois o mundo está cheio de maníacos, assassinos, seriais-killers e principalmente de Wolverines com a idade avançada (porque não?). Não foi a toa que o filme ganhou aqui no Brasil o título de “Viagem ao Inferno”, pois é como uma viagem infernal que ele se mostra.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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