Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 02 de agosto de 2021

Jungle Cruise (2021): ainda que divertido, muito artificial

Disney tenta emplacar uma nova franquia de sucesso baseada em atrações de seus parques, mas mesmo com o talento de Emily Blunt e o carisma de Dwayne Johnson, o visual artificial e a péssima química romântica relega este filme a uma simples, mesmo que divertida, nota de rodapé no histórico do estúdio.

Difícil não comparar “Jungle Cruise” com a franquia “Piratas do Caribe”. São filmes criados a partir de atrações dos parques da Disney, pegando elementos básicos das mesmas para expandir o lore e criar um mundo imersivo, divertido e fascinante. Ao visitar o Magic Kingdom em Orlando, é possível entrar num barco que passeia por um rio cortando uma floresta tropical onde há animatrônicos de animais. Entretanto, o entretenimento está no guia, que procura ser divertido e carismático enquanto conta inúmeras piadas, já que a atração em si não possui momentos de adrenalina. Vá pelo humor, não pela empolgação.

Neste quesito, o longa adapta a atração muito bem. O capitão do barco (Dwayne Johnson) procura entreter os turistas com humor cheio de trocadilhos enquanto os leva por rios que cortam a floresta brasileira (a marina é em Porto Velho, Rondônia). O ambiente é rico em diversidade natural e Johnson tem carisma para dar e vender.

A grande novidade é Lily Houghton (Emily Blunt), aventureira em busca as Lágrimas da Lua, pétalas de uma árvore mágica que podem curar qualquer doença ou ferimento. Ela embarca com seu irmão MacGregor (Jack Whitehall) para contratar um barco que os levará até o local da lenda, tão pesquisada por seu famoso e falecido pai.

Esta é a base da trama de uma aventura que procura se valer de elementos de “Indiana Jones” e do próprio “Piratas do Caribe” para criar um mundo fantástico o bastante para se passar em outra dimensão, mesmo com as similaridades com nosso planeta. Todavia, se a franquia caribenha se estabeleceu como uma altamente lucrativa com filmes marcantes, este longa se resume a um entretenimento divertido, mas esquecível.

A floresta proposta tem um visual incrível, mas há tanto CGI (e, alguns momentos, de qualidade questionável para uma obra deste tamanho), que este filme logo ficará visualmente datado (como a trilogia prequel de “Star Wars”). Com poucos cenários reais, a artificialidade atrapalha a imersão completa. É um mundo que captura a atenção, sem dúvida, mas não a mantém com tanta eficiência.

Outro problema é que Blunt e Johnson não funcionam como par romântico. Ambos são ótimos em cativar o público e tem charme de sobra, mas quando elementos de romance começam a aparecer na história – salvo raros momentos – causam estranheza, pois a química entre a dupla não encaixa nesse sentido. A diferença entre as habilidades dramáticas dos atores se revela abissal nesse quesito, com a atriz tentando tirar leite de, bem, pedra.

Há ainda figuras antagônicas excêntricas como Paul Giamatti interpretando um magnata do porto que explora o protagonista; Edgar Ramirez como o líder de conquistadores amaldiçoados; e Jesse Plemons como um alemão que quer o poder das pétalas para seu exército vencer a Grande Guerra. Todas funcionam, mas Plemons abraça a proposta lúdica de seu personagem com eficiência ímpar.

Felizmente, a direção de Jaume Collet-Serra (também responsável pelo ainda inédito “Adão Negro”, outro filme de ação com Johnson) é sólida. Mesmo às vezes não fazendo uso do potencial fantástico de alguns cenários, as cenas de ação, perseguição e luta compensam o bastante, procurando uma mescla entre humor e adrenalina que acerta o bastante.

“Jungle Cruise” parece ter nascido da vontade da Disney de ter uma nova franquia bilionária baseada em suas atrações de parque, com orçamento grande e nomes de peso no elenco, mas com um visual que precisava ser tratado com mais polidez e uma dupla de atores que precisam criar uma relação de amor que simplesmente não cola, deve se resumir a uma sessão divertida para se ver com a família, mas nada marcante e memorável que fique com o espectador no dia seguinte.

Bruno Passos
@passosnerds

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