Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Dash & Lily (Netflix, 1ª Temporada): adorável comédia romântica natalina

Série da Netflix é um simpático conto natalino que, apesar de previsível, nos presenteia com atuações carismáticas, personagens atuais e uma história reconfortante.

Uma das mágicas das produções cinematográficas e televisivas é que elas costumam funcionar como uma rede eficaz de escapismo. É por isso que, mesmo não possuindo uma trama marcada por sua complexidade, filmes como “Um Lugar Chamado Notting Hill” e “Para Todos os Garotos que Já Amei” ganham seu espaço entre o público. Eles fazem com que, nem que por apenas algumas horas, o mundo exterior seja esquecido e tudo que importa naquele momento é se o casal protagonizando aquela história ficará junto ou não. Assim, a série da Netflix Dash & Lily” chega trazendo uma combinação imbatível para quem procura produções desse tipo: é uma comédia romântica natalina.

Baseada no livro de David Levithan e Rachel Cohn, a série conta a história de Dash (Austin Abrams), um adolescente de 17 anos que, ao passear por sua livraria favorita, encontra um caderno vermelho repleto de desafios, mas sem um remetente. Dash decide completar os desafios e, um tempo depois, descobre que o caderno foi deixado por uma garota chamada Lily (Midori Francis). Os dois começam, então, a se corresponder pelo caderno, com cada um sempre deixando desafios para o outro, e tendo como recompensa para cada proposta uma história pessoal ou dicas sobre quem eles são e como são suas vidas.

A série possui uma narrativa típica de produções natalinas: enquanto um personagem é cético, introspectivo e odeia o Natal, o outro é extrovertido, amigável e tem a data como sua época favorita do ano. Aqui, o Grinch da história seria Dash. Traumatizado pelo divórcio dos pais e pelo término de seu último relacionamento, ele decide passar as festas de fim de ano completamente sozinho, e passa seus dias andando por Nova York. Já Lily, criada ao redor de adultos e sendo muito próxima de sua família, se decepciona ao perceber que, pela primeira vez na vida, terá que passar o Natal longe de seus entes queridos. Assim, através do caderno, os dois se conectam pelo sentimento de solidão que estão sentindo naquele momento e, mesmo que sem se encontrar pessoalmente, encontram nessa relação um lugar de conforto em que eles podem ser honestos.

A cada desafio terminado pelos dois, novas histórias dos personagens são reveladas e aos poucos se tem um entendimento de quem eles são e o porquê de serem assim. Quando esse entendimento vai se desenvolvendo e as características de cada um se tornam mais evidentes, por serem apresentados como estereótipos já utilizados diversas vezes e por serem construídos a partir de clichês, seria normal que os protagonistas despertassem uma certa antipatia do público, mas não é o que acontece aqui.

Apesar de estereótipos estarem presentes e algumas vezes causarem um certo constrangimento por causa de seu exagero, eles são trabalhados pelo roteiro não como aspectos definidores de cada um dos personagens, mas sim como uma forma de fazer quem está assistindo compreender as nuances dos dois. Assim, mesmo que a série não tenha (e nem queira ter) personagens extremamente complexos e esculpidos, eles são facilmente identificáveis e palatáveis.

Para reforçar isso ainda mais, o carisma dos dois atores principais perpassa pela tela durante todos os oito episódios e se torna quase impossível não simpatizar com eles. Abrams, que tem se tornado um ator cada vez mais recorrente em produções destinadas para o público juvenil (protagonizou o filme “Chemical Hearts” e participou da série “Euphoria”), consegue transformar um personagem essencialmente adverso (“mala” é a palavra que a mãe de seu melhor amigo usa para descrevê-lo) em alguém encantador e charmoso, mas machucado pela relação conturbada com a família. Já Midori, novata no mundo da televisão, chega como uma bela surpresa, conseguindo transformar uma personagem com particularidades que poderiam ser irritantes se trabalhadas pelas mãos erradas, em uma garota frágil e cativante, por quem o espectador torce para que encontre a felicidade.

Além dos protagonistas, a série ainda aposta em um elenco bastante diversificado, com atores de diferentes etnias e orientações sexuais. Então, mesmo com alguns exageros e com uma trama bastante previsível (especialmente os últimos episódios), “Dash & Lily” surge como uma adorável comédia romântica feita para a geração Z, tão confortável como o Natal deve ser. E, em um momento em que o mundo se vê paralisado por uma pandemia e marcado pela incerteza política, ela cumpre seu papel e presenteia o espectador com algo necessário: escapar do mundo real, nem que seja por algumas horas.

Ana B. Barros
@rapadura

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