Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Quase uma Rockstar (Netflix, 2020): muita provação pra pouca recompensa

Diretor Brett Haley se apoia mais uma vez na dor e no luto como elemento principal da sua história. Apesar do talento de Auli'i Cravalho, elenco de apoio não cativa.

Em seus últimos trabalhos no cinema, o diretor Brett Haley tem buscado o mesmo ponto focal para contar as suas histórias: enfrentar o luto é a única solução para conseguir seguir em frente. Em “Reaprendendo a Amar”, a dor é transformada em renovação, uma nova vida. Já em “Por Lugares Incríveis”, o sofrimento é uma ferida que precisa ser curada aos poucos. Buscando um novo olhar para combater a tristeza, chega à Netflix o drama “Quase uma Rockstar”.

A trama gira em torno de Amber Appleton (Auli’i Cravalho), uma adolescente que aparenta ter uma vida perfeita. Ela é estudiosa, realiza um trabalho voluntário em uma casa de repouso, dá aulas de inglês para imigrantes na igreja para ganhar uns trocados e tem o apoio de grandes amigos na escola como Ty (Rhenzy Feliz), Ricky (Anthony Jacques Jr.) e Jordan (Taylor Richardson). Entretanto, em meio a isso tudo, ela e a mãe, Becky (Justina Machado), moram secretamente em um ônibus. Mesmo com uma sequência de dificuldades impostas, incluindo o vício da sua mãe no álcool, as duas seguem em busca de uma vida melhor.

O filme é baseado no livro homônimo de Matthew Quick, também autor de “O Lado Bom da Vida”. Ele é o responsável pela adaptação do roteiro em conjunto com o próprio diretor e Marc Basch, que já havia trabalhado com Haley em “Coração Batendo Alto” e “O Herói”. Apesar do título, esse não é um filme sobre bandas ou sobre música, no máximo, apresenta o sonho da protagonista ao entrar em uma universidade de artes cênicas. Por melhor que seja a busca por um público jovem, o nome da obra pode acabar afastando aqueles espectadores em busca de um drama.

Seguindo exatamente a mesma estrutura de “Por Lugares Incríveis”, o roteiro começa com o clima bem leve e derruba o espectador logo em seguida. Não só derruba, como chuta o espectador no chão e joga uma pedra por cima. Quando chega em um ponto interessante, em que a jovem passa a tentar canalizar essa dor em algo artístico, a história ruma para um caminho não esperado e completamente anticlimático.

Auli’i Cravalho tem apenas 19 anos, mas já demonstrou ter muito talento. Estreou no cinema dublando Moana e já encarou a plateia do Oscar com apenas 16 anos apresentando a música How Far I’ll Go no palco da cerimônia. A expectativa ao seu primeiro protagonismo é correspondida e é ela quem sustenta o peso da história, trazendo o tom correto de carga dramática, como uma veterana na frente dos outros jovens. Após tanto tempo aprofundando a história da protagonista, não sobra tempo suficiente para se importar com os personagens coadjuvantes, sem contar que o elenco mais jovem não dá conta das cenas mais dramáticas.

Em “Quase uma Rockstar”, o diretor Brett Haley buscava um caminho cativante, com uma protagonista talentosa e a ideia de canalização da dor em arte, mesmo com tantas perdas. Uma pena que a jornada do herói de Amber tenha um foco tão grande na provação antes de sequer contemplar qualquer tipo de recompensa.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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