Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 18 de agosto de 2019

Mãe e Muito Mais (Netflix, 2019): muito menos que o esperado

“Mãe e Muito Mais” nos deixa à espera desse “mais” que nunca aparece. É só um filme de drama que tenta fazer comédia, mas é trivial e não surpreende nem impressiona.

Com a data de lançamento adiada devido a um escândalo envolvendo uma das atrizes do núcleo principal (Felicity Huffman, que faz o papel de Helen Halston), “Mãe e Muito Mais” está bem longe de ser um filme escandaloso e talvez nem mesmo produza um burburinho. O enredo é simples: três mães que são amigas, cada uma com uma personalidade, estilos bem diferentes e unidas pelos filhos durante a infância, sofrem com a “Síndrome do Ninho Vazio” após eles saírem de casa e se tornarem adultos independentes. Isso só piora com a chegada do Dia das Mães e a ausência de demonstração do afeto esperado, como um cartão, flores ou presentes. É nessa atmosfera e sentimento em comum que as suburbanas Gillian Lieberman (Patricia Arquette), Carol Walker (Angela Bassett) e Helen Halston decidem pegar o carro, partir para a cidade e surpreender suas crias. Isso talvez desse um excelente road movie, mas a viagem é curta, praticamente uma ponte de distância, o que deixa o questionamento do porquê de eles não se verem com certa frequência. Toda essa sequência ocorre já nos primeiros dez minutos, o que é incrível e projeta uma idéia de que o ritmo será bom. Contudo, essa espontaneidade se perde logo depois e o que temos é uma sessão de clichês, enrolação e cenas vazias.

A chegada delas na casa dos filhos deixa claros os buracos que o roteiro tem e a obra começa a declinar. A pior delas é a de Gillian no porão deprimente do seu filho, que demonstra uma raiva e desgosto pela mãe, que por sua vez não é explicada até o final do filme, fazendo com que o espectador fique sem entender esse drama. Ele se comporta como um adolescente mimado, criando uma antipatia com quem assiste. A recepção de Carol também não é nada legal e o que ela encontra é um estereotipado playboyzinho. Em contrapartida, um destaque positivo é a entrada de Helen na casa do seu filho, que vive com seu parceiro e outros homens. Aqui é abordado o tema da homossexualidade com leveza e de forma bem diferente da esperada.

Quando o trio explora a cidade, nos remete ao famoso “Sex and the City”. Não à toa, já que as duas obras têm Cindy Chupack na equipe – nesse é diretora e no outro assinou como roteirista e produtora executiva. Amigas mulheres nos seus 50 anos (ou quase isso), moda e típicos cenários nova-iorquinos, essa é a combinação que é mostrada de forma bem convencional pela direção de arte, muitas vezes até demais, com as sacolas de compras e marcas de vitrines em excesso valorizadas pela câmera e sem contexto. Fica o questionamento se não é puro product placement (uma forma de publicidade indireta).

No balanço final, as mães descobrem mais coisas sobre elas mesmas e de seus filhos do que esperavam. Segredos do passado são revelados e problemas nas relações são discutidos, mas apesar de tudo isso, não é o suficiente para manter o interesse do espectador. Mesmo elas tendo se aproximado dos filhos, infelizmente, se afastam entre elas. Há uma cena protagonizada por Carol e seu filho em que ele tenta reatar a relação e se desculpar com a mãe. Ela tem o objetivo de emocionar e ser tocante no coração do que parece ser o público alvo da obra, as mamães. Todavia, ao escrever dez coisas sobre ela, que na verdade são sobre ele, a moral se perde e a sequência acaba sendo boba e se contradiz ao mostrar que tudo só gira em volta dos filhos, num momento onde se discute o papel da mulher e o fato dela ser mais do que só mãe.

Sendo assim, é um longa que não vale a pena ser colocado na lista de prioridades para se assistir. Talvez se tivesse sido lançado no Dia das Mães teria algum apelo, mas não é o caso. Mesmo com um elenco forte e premiado, o roteiro não se sustenta e se torna facilmente esquecível.

Maduda Freitas
@MadudaFreitas

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