Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 11 de agosto de 2019

She-Ra e as Princesas do Poder (Netflix, 3ª Temporada): expandindo universos

Terceira temporada da atualização de She-Ra é a melhor até o momento, com desenvolvimento de personagens invejável para tão poucos episódios e uma expansão de universo que deixa espectadores nas beiras de suas cadeiras.

A terceira temporada de “She-Ra e as Princesas do Poder” disponível na Netflix segue reduzindo o número de episódios. São apenas seis contra os sete da segunda e os treze da primeira. Depois de duas temporadas que estabeleciam o universo e exploravam as conexões entre os personagens, esta põe o pé no acelerador e faz muito acontecer em pouco tempo.

Com a segunda temporada tendo focado no peso dos relacionamentos, a terceira não caiu na armadilha de ficar batendo nas mesmas teclas numa tentativa de repetição de uma fórmula de sucesso que várias séries caem, por fim tornando-se enfadonhas com festivais de enrolação. Pelo contrário, o time de roteiristas toma os acontecimentos prévios como aprendizados de seus personagens e eles evoluem, se desenvolvem. A sensação de que as coisas avançam é vívida. Sim, ainda há pouco tempo para as princesas, praticamente deixadas de lado aqui, mas é construído de forma que não parece que elas foram esquecidas, apenas que o foco está em outros personagens por enquanto.

Seguindo o final da temporada anterior, Adora se vê frente a frente com Sombria, o que resulta em ótimas direções narrativas para ambas. As intenções da feiticeira nunca ficam exatamente claras e a tensão de que uma traição paira no ar é constante. Adora, por outro lado, recebe informações que a levam a se questionar ainda mais sobre seu papel como She-Ra, um que ela vem lutando para se sentir digna. Ao mesmo tempo, novos detalhes expandem o lore da série de maneira que pega o espectador e a protagonista de surpresa, mantendo-nos mais conectados ainda com sua jornada e com o mundo proposto.

Há ramificações nas interações entre Adora e Sombria que reverberam no arco de Felina, que possui feridas emocionais por ter sido criada pela maga numa relação tóxica, que acarreta na antagonista cheia de mágoa que se vê na tela. Tais ressentimentos foram alimentados pela súbita separação de Adora no início da série, que aprofunda as defesas psicológicas de Felina no que diz respeito a se abrir para relacionamentos e para seus próprios e verdadeiros sentimentos. É uma personagem complexa que, ao ser tão humana, conquista o espectador que consegue entender suas ações. Quanto a tal separação, ela gera uma culpa na protagonista que sempre foi um dos obstáculos na sua jornada de se tornar a She-Ra perfeita que deseja ser, e a série não fica na embromação e faz ambas confrontarem vários elementos de sua relação.

É impossível falar do arco de Felina e não falar de Scorpia. Um poço de dedicação, devoção e com um coração enorme, sua busca pela afeição da capitã parte de genuíno carinho e resulta num episódio que traz esperança de dias felizes para ambas, mas cujo resultado é afetado pelos anos de emoções conflituosas e mágoas da antagonista. A conclusão, seja pelo lado de uma ou de outra, é de cortar o coração.

Uma ótima surpresa foi a atenção dada a Entrapta e, acredite se quiser, Hordak. O líder da Horda deixa de ser um vilão unidimensional quando seu passado e suas motivações são revelados por meio do óbvio carinho que começa a nascer entre os dois. E conforme aprendemos mais sobre o grande vilão da série e entendemos motivos pessoais que o levam a querer abrir o portal e conquistar Etéria, não só se eleva o nível do risco e o escopo do que está em jogo, como humaniza Hordak, mostrando que todos os personagens são, acima de tudo, pessoas tentando lidar com fantasmas de seus passados e fazer o que julgam necessário para se sentir dignos.

“She-Ra e as Princesas do Poder” já havia se provado como boa adaptação, mas agora também a vemos como uma série com um time de roteiristas afiado, que conseguiu expandir o universo (ou multiverso) da trama ao mesmo tempo que respeita o desenvolvimento e evolução de seus personagens por tratar todos como humanos cheios de sentimentos. Terminando num baita gancho no melhor estilo cliffhanger que vai deixar qualquer fã babando pela quarta temporada, a terceira empolga e emociona sem perder o equilíbrio com o humor inocente que permeia a obra desde o início.

Bruno Passos
@passosnerds

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