Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 04 de agosto de 2019

Três Estranhos Idênticos (2018): uma discussão sobre a vida

Uma história incrível ganha vida e emociona nesse documentário que foi um forte concorrente ao Oscar 2019, mas não conseguiu uma indicação na fase final da premiação.

No mundo real onde habitamos, com pessoas tão diferentes umas das outras, existe um número infinito de histórias emocionantes que podem ser contadas. E algumas delas são tão extraordinárias que não importa como são transmitidas ao público, como prova o documentário “Três Estranhos Idênticos” que, onde falta técnica, sobra emoção.

Imagine uma situação onde encontramos alguém que não só nos assemelhamos muito, mas uma persona exatamente igual à nossa. Compartilhando dos mesmos hábitos às mesmas manias, dos mesmos gostos à idêntica aparência física, e o mais importante: da mesma mãe. Essa é a história de Edward Galland, David Kellman e Robert Shafran que, depois de 19 anos vivendo com suas respectivas famílias adotivas, descobriram a existência um do outro e fizeram acontecer essa reunião que rapidamente se tornou uma sensação global, mas também revelou segredos que tiveram repercussões radicais.

O ritmo escolhido pelo diretor Tim Wardle (“Lifers”) para esse documentário funciona em cima de uma fotografia esmaecida que ilustra os acontecimentos da história. Ele traz desde os protagonistas até os principais nomes envolvidos no caso. A partir do reencontro dos três, a narrativa mergulha na imensa felicidade que resultou daí, transformando os trigêmeos em celebridades imediatas por todo o mundo. Com depoimentos e imagens reais de suas inúmeras entrevistas em programas de rádio e televisão, o objetivo de colocar o espectador diretamente nos anos 80 de Nova Iorque funciona e traz, por inteira, a repercussão mundial da época. Contudo, à medida que o documentário toma grandes proporções, Wardle começa a trabalhar uma essência conspiratória em cima do entusiasmo do público, trazendo a reflexão sobre o caso e como todos os nomes envolvidos têm participações indispensáveis para o desfecho da história.

À medida que o documentário escolhe essa mudança acentuada de tom, o ritmo diminui, mas mantém a acertada concentração no comportamento dos gêmeos com o passar dos anos. Todas as questões do longa ganham força com a montagem de Michael Harte (“One Killer Punch”) que não tem vergonha nenhuma em assumir o recurso de plot twist. Com uma atrás da outra, as surpreendentes reviravoltas revelam fatos que são tão importantes quanto a trama principal, visando o passar dos anos, a evolução da convivência dos gêmeos e como foi a partir do reencontro, para os parentes e amigos mais próximos, o fato mais importante da vida dos três.

Assistir à essa obra sem muito mais informações é o ideal, pois essa história contada por quem viveu de perto é, de longe, um das experiências mais surreais da história da humanidade e merece alcançar todo e qualquer tipo de público. Com elementos de amor, tristeza e uma discussão extraordinária sobre a vida, “Três Estranhos Idênticos” entrega um documentário limitado em desdobramentos, mas uma história muito bem contada e que encanta, assim como os trigêmeos, aqueles que a descobrem.

Kyalanvinck
@kyalanvinck%20

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