Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 17 de julho de 2019

À Queima-Roupa (Netflix, 2019): emulando os anos 80

Entre altos e baixos, novo filme de ação da Netflix vale pelo carisma dos seus protagonistas Anthony Mackie e Frank Grillo.

Não é a primeira vez que “À Queima-Roupa” estreia nas telas. O novo longa-metragem de ação da Netflix é baseado no filme homônimo francês dirigido por Fred Cavayé, em 2010. Agora nas mãos de Joe Lynch (“Mayhem – Um Dia de Caos”), a aposta fica na tentativa de emular os filmes policiais dos anos 80. A obra tem foco em Paul (Anthony Mackie, “Vingadores: Ultimato”), um enfermeiro que se vê forçado a ajudar o criminoso Abe (Frank Grillo, “Capitão América: Guerra Civil”) para manter a salvo sua esposa Taryn (Teyonah Parris, “Se a Rua Beale Falasse”), que está grávida e prestes a dar à luz.

Paul trabalha no hospital em que Abe foi internado depois de se ferir em uma troca de tiros com a polícia. Após sua esposa ser sequestrada por Mateo (Christian Cooke, “Love, Rosie”), o irmão do vilão, o enfermeiro é obrigado a ajudá-lo a deixar o local e fugir das autoridades. Como boa parte dos filmes policiais dos anos 1980 e 1990, o mocinho e o vilão anti-herói tentam encontrar uma solução para cada um conquistar seu objetivo. Mesmo com opiniões contrárias, os dois são obrigados a agir em conjunto. Enquanto Mackie interpreta um personagem mais humano, que tenta resolver as situações sem violência (fugindo da tradicional simulação de um lutador de UFC dos mocinhos dos filmes de ação), Grillo é o badass que vai se livrando da polícia enquanto procura cumprir seu objetivo: encontrar seu irmão.

A trama com os investigadores Lewis (Marcia Gay Harden, “Cinquenta Tons de Liberdade“) e Masterson (Boris McGiver, da série “House of Cards“), que apuram sobre os crimes cometidos pelos irmãos, é levada com pressa, sem dar tempo suficiente para o espectador se importar com o futuro dos personagens. O roteiro de Adam G. Simon (de “Man Down: O Terror da Guerra”) ganha ainda mais intensidade ao fazer seus personagens correrem contra o tempo ao propor que Taryn está entrando em trabalho de parto. Entretanto, tanta pressa com menos de 90 minutos de duração acaba deixando algumas pontas sem desenvolvimento.

Sem muito orçamento para grandes cenas, Lynch aposta em perseguições, traições e plot twists. A trilha sonora, propositalmente conectando o filme à temática dos anos 80, acaba causando um estranhamento. Uma boa sequência de luta em um lava rápido, por exemplo, com um visual criativo de vitrais refletindo a luz do sol, acaba perdendo força com a música que não conversa com a cena.

“À Queima-Roupa” entende seu lugar como filme de ação. Mesmo com um terceiro ato fraco, a obra supera alguns clichês ao mesmo tempo que abraça outros com força. Com boas cenas de ação e algumas risadas inesperadas, mesmo com problemas de desenvolvimento de personagens, o longa acaba vencendo na balança pela diversão em curto prazo.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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