Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 15 de julho de 2019

A Pequena Travessa (2018): aventura infantil despretensiosa

Uma boa protagonista, diversos clichês e uma importante lição de moral dividem espaço no longa.

Liliane Susewind (a estreante Malu Leicher) é uma simpática criança com uma característica especial: ela consegue se comunicar com os animais. Além de ouvi-los, ela fala com eles e é compreendida sem nenhuma dificuldade. Recém chegada a uma nova escola, ela deseja se adaptar e para isso esconde o seu dom, mas tudo muda quando uma visita ao zoológico local mostra que o lugar e os animais que ali estão precisam de sua ajuda.

A produção é alemã, mas a linguagem se assemelha a algo bastante próximo do público brasileiro: as telenovelas com protagonistas mirins. Os diálogos têm um quê de “Chiquititas”, propositalmente expositivos, claros e de fácil compreensão. Os personagens são caricaturas óbvias e à primeira vista já é possível imaginar qual será o papel que terão na história, dando lugar para alguns estereótipos.

Inicialmente, Liliane busca se integrar a um grupo de meninas uniformizadas, liderada pela popular Trixi (a também novata Felice Ahrens), uma garota rica e que se sente superior a seus colegas de escola. No entanto, o cativante Jess (Aaron Kissiov, de “As Vozes” logo surge para mostrar que ele também é diferente e que isso não é um problema. Essas personalidades diversas surgem nos discursos das crianças, mas também em seus excelentes figurinos, uma das maiores qualidades do filme.

O trio principal e outras crianças fazem uma visita, pela escola, ao zoológico da cidade antes de sua inauguração e acabam descobrindo que animais estão sendo sequestrados. A jovem Liliane fica então dividida entre ajudar os animais a descobrir esse mistério e se adaptar ao ambiente escolar, tão selvagem quanto a savana africana aos olhos de uma criança.

Há uma quantidade razoável de computação gráfica em “A Pequena Travessa” que não tem a mesma qualidade das maiores produções hollywoodianas, mas que convence e é suficientemente bem feita para não atrapalhar a imersão no filme. O que realmente não contribui para a trama são as piadas escatológicas como o “desarranjo intestinal” que um dos animais apresenta e os muitos clichês de tirar sarro com a falta de cabelo ou o sobrepeso de outros personagens.

Diversão para os pequenos e um acalento para os adultos. A mensagem de aceitação do próximo e das diferenças é o que filme tem de melhor. Uma lição de moral bem-vinda em uma época na qual manifestações e radicalismos a respeito do diferente tomam força no mundo todo.

Hiago Leal
@rapadura

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