Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 12 de junho de 2019

Ma (2019): terror que não assusta

Filme de Tate Taylor esquece o terror e aposta todas as suas fichas em Octavia Spencer. Atriz carrega a obra nas costas, mesmo com alguns problemas no roteiro.

Octavia Spencer (“A Forma da Água”) é um daqueles casos de atrizes/atores extremamente talentosas que ficaram presas a um mesmo papel. Tentando deixar essa impressão de lado na sua carreira, Spencer é a protagonista de “Ma“, dirigido por Tate Taylor (“A Garota no Trem“) – os dois já tinham trabalhado juntos em “Histórias Cruzadas“, de 2011.

O terror/suspense, produzido pela Blumhouse, que tem vasta experiência no gênero, se divide em três cenários: a adaptação de Maggie (Diana Silvers, “Vidro“) e sua mãe Érica (Juliette Lewis, “Dreamland“) na cidade nova, a apresentação da persona de Sue Ann/Ma (interpretada por Spencer) que trabalha com uma assistente veterinária, e a rotina de festas e bebidas alcoólicas dos adolescentes da região.

Começando as aulas na escola nova, Maggie logo se enturma com um grupo de amigos formado por Haley (McKaley Miller, da série “Scream Queens“), Andy (Corey Fogelmanis, da série “PrankMe“), Chaz (Gianni Paolo, da série “Power“) e Darrel (Dante Brown, da série “Máquina Mortífera“). A principal atividade dos jovens, todos menores de idade, é se reunir na frente do mercado para pedir para um adulto comprar bebidas para eles. Após diversas recusas, Sue Ann aceita o pedido, repetindo o ato nos próximos dias e ganhando a confiança de todos. Empolgada com essa nova possibilidade de se integrar, a mulher chama o grupo para realizar festas no porão da sua casa e passa a stalkear os adolescentes, deixando a situação mais bizarra, um degrau de cada vez.

O roteiro escrito por Scotty Landes (da série “Who Is America?“) é preguiçoso em certos pontos – o espectador precisa ignorar algumas ações dos personagens, como os adolescentes acharem normal entrar no porão de uma pessoa estranha e ainda manter contato mesmo após ela apontar uma arma para um deles. Apresentando o bullying pregresso como um gatilho, o roteirista apresenta personagens do passado de Sue Ann apenas para servir de estopim para a virada. Outro ponto é o contraste do ritmo: demora para engrenar e, quando engrena, o terceiro ato passa rápido demais. A obra fica no “fogo baixo” por muito tempo até o seu ápice.

Com elementos tradicionais de filmes de terror, como a vingança de um trauma passado ou o stalker que fica cada vez mais assustador, “Ma” não tem intenção de inovar. A receita de jumpscares em meio a um crescimento de suspense já não é novidade faz tempo. Octavia Spencer segura bem a personagem, que de fato é muito diferente de tudo feito na sua carreira. Ela é responsável pelas melhores cenas do filme, transitando entre uma pessoa amorosa e assustadora. Sem a presença de Spencer, a qualidade do filme cairia muito.

Deixando de lado o terror, o diretor prefere criar um cenário em que as ações da sua protagonista possam ser plausíveis. Até mesmo o suspense que começa interessante se dissolve em meio a flashbacks e pretextos. Não resta dúvida de que “Ma” tinha elementos para ser muito mais do que realmente é.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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