Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 10 de abril de 2019

Estrada Sem Lei (Netflix, 2019): captura de Bonnie e Clyde

John Lee Hancock apresenta novo ponto de vista sobre a perseguição para capturar o famoso casal de criminosos

Dirigido por John Lee Hancock (“O Fundador”), o drama/suspense “Estrada Sem Lei“, exclusivo da Netflix, conta uma história baseada em fatos sobre a investigação policial realizada em 1934 no Texas, Estados Unidos, para capturar os criminosos Bonnie e Clyde. Após mais de dois anos falhando nesta tarefa, a governadora Ma Ferguson (Kathy Bates, de “Suprema”) convoca Frank Hamer (Kevin Costner, de “A Grande Jogada”) e Maney Gault (Woody Harrelson, de “Venom”), dois agentes aposentados dos Texas Rangers, uma força policial extinta pelo Legislativo, para auxiliar na missão de busca, que até então era realizada por mais de mil homens.

Hancock decide não mostrar o rosto do casal de criminosos até o terceiro ato. Apenas apresentando a silhueta e relances dos dois, é possível observar a crueldade dos seus atos. Ao mesmo tempo em que cria um mistério sobre a figura de Bonnie e Clyde, afinal os criminosos não realizavam muitas aparições em público, o diretor amplia o absurdo de ter uma população apaixonada pelos assassinos. Mulheres se inspiravam nas vestimentas da jovem e os homens invejavam o poder de Clyde. Um dos argumentos de um dos seus seguidores é que a dupla roubava dinheiro dos bancos após surrupiarem dinheiro dos pobres. Porém, as pessoas esqueciam que, no meio do caminho, diversas pessoas eram mortas para cumprir este objetivo.

Em algumas cenas, o roteiro de John Fusco (“A Cabana”) cria um ritmo lento entre as aproximações de polícia e ladrões; alguns diálogos longos demais quebram a proposta de suspense. Em outros casos, Fusco aproveita os diversos períodos em que os homens da lei estão partindo do ponto A para ao ponto B para aprofundar a experiência dos protagonistas em seus passados como oficiais. Outro ponto interessante é o contraste da forma de investigação entre as diferentes gerações de policiais.

A fotografia aproveita essa característica de road movie para capturar planos abertos com grandes plantações e desertos em diversos estados americanos. Hancock também mostra a dificuldade de perseguir duas pessoas praticamente invisíveis e com incontáveis informantes. O design de produção recria com perfeição as cidades e o vestuário dos anos 30.

A interpretação de Harrelson e Costner introduz dois policiais com forte sotaque texano e já com dificuldades físicas provenientes da idade mais avançada. Entretanto, compensam a falta de entendimento da tecnologia com experiência. A crescente tensão de que os policiais estão cada vez mais perto deve muito à trilha sonora bem executada. As músicas ajudam a ampliar o drama, sempre criando uma expectativa de encontrar a dupla de criminosos em algum cômodo de uma casa ou em alguma esquina da cidade.

“Estrada Sem Lei” perde com a longa duração, mas compensa com as cenas de ação e com as críticas sobre a maneira romântica que a sociedade ainda hoje vê o casal. Com a história contada na versão dos policiais, Bonnie e Clyde não são estrelas de cinema. São assassinos cruéis que ganharam a mídia do jeito mais errado possível.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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