Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 08 de janeiro de 2019

El Potro: Lo Mejor del Amor (Netflix, 2018): uma lista de acontecimentos

Cinebiografia do músico argentino Rodrigo Bueno tem cenas impactantes e um ator energético, mas não oferece grande aprendizado sobre quem era esse artista.

Rodrigo Bueno, apelidado de El Potro, foi um cantor de cuarteto, estilo musical nascido na cidade de Córdova. Com seu carisma e energia, ele foi um dos grandes responsáveis pela popularização desse estilo na Argentina. Em 2000, Bueno fez treze shows lotados no estádio Luna Park, atingindo o apogeu de sua carreira. Pouco depois, faleceu em um acidente de carro. O filme “El Potro: Lo Mejor del Amor” conta sua história com muita qualidade técnica, mas com um roteiro que não se aprofunda em seu protagonista.

A direção de Lorena Muñoz acerta em cheio ao criar uma atmosfera mítica ao redor de Rodrigo, recriando a maneira como os fãs o viam e o status de ídolo nacional que possuía. A primeira cena do filme já ilustra isso, mostrando o cantor caminhando para o palco numa cena em câmera lenta onde os gritos do público ecoam clamando por ele. É um momento carregado de glória e alegria.

O longa segue a fórmula básica de cinebiografias de músicos: no começo se apresentando em pequenos lugares, suas primeiras oportunidades de buscar um público maior, a empolgação com a chegada do sucesso e da fama e os esforços em lidar com o que vem junto com tudo isso. O roteiro aborda a maneira incontrolável e espontânea que Rodrigo vivia, tendo relações conturbadas com mulheres e drogas, com uma pitada de sombras familiares pesando em suas decisões.

O que impede “El Potro” de alcançar a qualidade artística que o cantor merecia é o texto raso. Há momentos confusos que deixam o espectador se perguntando se perdeu alguma cena, e não há conclusão clara para eles também. Há diálogos fragmentados, onde a consequência de uma ação é lançada sem uma causa mostrada anteriormente, e a sensação de que conversas e/ou acontecimentos importantes foram deixados de lado é inevitável.

Muito mais do que apenas se parecer com o cantor, o ator principal, Rodrigo Romero, é excelente. Cheio de energia, ele domina todas as cenas de palco e traz o lado descontrolado, agressivo e apaixonado de Bueno à tona com facilidade. Fernán Mirás é outro que está muito bem como o agente duro, mas que se importa e cuida de seu astro, duas facetas muito vivas no ator. Malena Sánchez tem poucas cenas, mas cativa em todas. De jovem apaixonada à mãe preocupada, ela transmite toda a frustração de sua personagem.

Infelizmente, as ótimas atuações não são o bastante para que conheçamos bem o protagonista. É dito, logo no início, que ele quer ser famoso com sua música. Porém, suas motivações para isso não são exploradas. Vemos Rodrigo tendo relações com mulheres e sendo infiel, mas sem a profundidade ideal do roteiro, isso se resume apenas a apetite sexual. Há cenas em que ele perde o controle e se torna violento, para logo depois chorar nos braços de seu agente e nunca realmente sabemos o que o tanto o aflige e o leva a agir dessa maneira. Sem contar que sua relação com Marixa (Jimena Barón) é desconjuntada e oferece pouco para o desenvolvimento do personagem.

Com essa falta de profundidade, o filme sofre do mesmo mal de “Bohemian Rhapsody”. É uma lista de eventos que aconteceram na vida do protagonista, mas pouco se mergulha na alma dele para que se entenda e vivencie, de fato, o que o inspirava e o impelia a se dedicar a sua arte. Não são, de forma alguma, obras ruins, mas sua qualidade mediana é aquém do que seus heróis merecem.

Bruno Passos
@passosnerds

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