Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 30 de dezembro de 2018

A Princesa e a Plebeia (2018): sem sal, sem personalidade e sem graça

Longa natalino explora o clichê de personagens parecidos trocando de lugar, mas falha miseravelmente no roteiro horroroso e contraditório.

Comédia romântica com pitadas natalinas da Netflix, “A Princesa e a Plebeia” traz Vanessa Hudgens (“Uma Nova Chance”) nos dois papeis do título. Stacy De Novo, confeiteira trabalhando em Chicago, acredita que planejar tudo na vida é a melhor maneira de fazer com que tudo aconteça corretamente. Já Lady Margaret, duquesa da nação fictícia de Montenaro, gosta de se deixar levar pela espontaneidade e viver aventuras. Se são de personalidades distintas, são idênticas visualmente.

Ambas se encontram e a duquesa, prestes a se casar com um príncipe que mal conhece, sugere que troquem de lugar por alguns dias pois quer conhecer o povo. Nisso, a confeiteira precisa conviver com o noivo alheio, enquanto Margaret, com o melhor amigo de Stacy. Não é preciso grande conhecimento cinematográfico para saber como o filme vai acabar.

Entretanto, ser previsível não é o problema. A própria Netflix já se aventurou no mesmo gênero com um filme fácil de prever (“O Feitiço do Natal”) com resultado satisfatório. O que faz “A Princesa e a Plebeia” uma obra fraca é o roteiro horroroso.

Com baixo valor de produção, o longa não só parece barato por ter visual de filme para televisão, mas a Europa representada é exagerada e artificial demais. Criar países fictícios e ter todos os habitantes com sotaque britânico não ajuda em nada na imersão. Talvez se os personagens fossem carismáticos ou razoavelmente escritos, a experiência fosse um pouco melhor. Caricatos demais, parecem bonecos de cera se mexendo ao invés de seres humanos de verdade. É tudo tão monocromático e unidimensional que é difícil realmente se importar com o que acontece em tela.

Há antagonistas aqui que não servem para absolutamente nada. Não fazem a história tomar outros rumos, nem causam mudança alguma nos demais personagens. A tentativa de sabotagem e a solução para tal é tão narrativamente patética que é difícil não revirar os olhos. Há um velhinho, aparentemente com poderes mágicos, que aparece em momentos oportunos para soltar pérolas natalinas bobas e desconexas, em mais um exemplo de um personagem que não afeta a narrativa.

A trama principal das protagonistas e suas relações com os interesses amorosos também não conseguem carregar o filme. Ela mostra os personagens se aproximando por terem personalidades parecidas, mas se contradiz ao ter a confeiteira agindo espontaneamente num gesto que leva o príncipe a se apaixonar por ela, nem 20 minutos depois dos dois se conectarem ao compartilhar o gosto por uma vida planejada.

Sam Palladio (“Aposta Máxima”), o príncipe, e Nick Sagar (“Maus Modos”), o melhor amigo, encaixam bem no filme. São tão artificiais como tudo na obra. Desprovidos de charme, são vítimas de uma direção de atores simplória e sem pulso. Ao se falar de atuação, a única que salva é a própria Hudgens, que faz bem a transição entre Margaret e Stacy e consegue trazer um pouco de carisma para o resultado final.

Com um roteiro anêmico, diálogos de dar nos nervos, direção preguiçosa, visual plastificado e atuações canastras, “A Princesa e a Plebeia” não consegue entregar aquela magia gostosa de natal e de uma boa comédia romântica. É sem sal, sem personalidade e sem graça… sem nenhum dos ingredientes necessários para a receita de um bom filme natalino.

Bruno Passos
@passosnerds

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