Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Bumblebee (2018): um presente para os fãs e um novo gás para a franquia

Com transformações, explosões e tiroteios na medida certa, o longa renova a franquia "Transformers" e mostra que robôs podem ser mais do que apenas maquinas de guerra.

A sequência de filmes de “Transformers” dirigida por Michael Bay, que rendeu bilhões nas bilheterias e abordou todos os tipos de catástrofes na Terra causadas pelos robôs gigantes, deu a impressão para muitos fãs que os queridos Autobots já não tinham mais o que explodir na história da humanidade. Mas o spin-offBumblebee” veio para mostrar que ainda há muito metal para se “forjar” nesse universo, pois entre tantas idas e vindas dos alienígenas robôs em nosso planeta, não sabíamos como de fato nosso querido e carismático gigante amarelo foi recepcionado pela humanidade e como ele perdeu a voz durante sua chegada ao planeta azul.

Com ares de renovação e a expectativa de reacender as esperanças na franquia, o longa aproveita bem essa atmosfera, somando ainda mais à fantasia adolescente de brasileiros que já sonharam um dia em ter um fusca para passear pelas ruas curtindo um belo dia de verão. E melhor ainda se ele, na verdade, for um robô gigante, não é? O carisma de Bumblebee foi o tiro certo da Paramount para se beneficiar de todos esses pontos e trazer uma ótima experiência para os espectadores. Outro ponto positivo é a mudança na direção da franquia, de Michael Bay – que ainda se mantém na produção – para Travis Knight (“Kubo e as Cordas Mágicas”), que se utiliza bem do roteiro escrito por Christina Hodson (“Paixão Obsessiva”). Knight dirige muito bem o longa e faz excelente uso de dicas de Steven Spielberg, que já provou que explorar referências dos anos 1980 é um de seus inúmeros talentos. Um dos melhores usos é o da trilha sonora, que desperta os melhores sentimentos de nostalgia no público e nos faz reviver clássicos da época, despertando a curiosidade dos mais atentos para diversos easter eggs expostos durante a trama.

O longa tem início com a conquista do planeta Cybertron pelos Decepticons, e ao perceber a derrota, Optimus Prime designa B-127 (Bumblebee) para a missão de fugir para a Terra com o intuito de proteger o planeta e manter uma base segura para a chegada dos Autobots. As cenas de ação do primeiro ato, ao mesmo tempo que enchem os olhos dos espectadores com belos efeitos e uma fotografia incrível do caótico planeta, também passam a impressão de que será mais um filme de tiros e explosões de Bay. Felizmente, essa impressão (errada) fica para trás quando o enredo se desenvolve de forma cativante e divertida.

A história que se segue em “Bumblebee” se passa na década de 1980 e nos apresenta Charlie Watson (Hailee Steinfeld, “A Escolha Perfeita 3”), uma garota introvertida e trabalhadora que aprendeu desde pequena o ofício de mecânica. Ela passa mais tempo dentro de sua garagem tentando consertar o antigo carro de seu pai do que fazendo amigos, o que atrapalha consideravelmente as tentativas frustradas de seu vizinho nerd Memo (Jorge Lendeborg Jr., “Com Amor, Simon”) de chamá-la para sair. O amor de Charlie por carros e seu hobby por mecânica funciona de forma excelente, e Steinfeld aproveita bem o protagonismo para mostrar a evolução de uma personagem que precisa superar a perda de seu pai e o curto luto de sua mãe Sally (Pamela Adlon, do seriado “Better Things”), que já está com um novo namorado, Ron (Stephen Schneider, do seriado “Imaginary Mary”). Entediada, o ânimo da garota ganha um novo gás quando ela descobre que o Fusca velho que ganhou de seu tio é, na verdade, um atrapalhado robô alienígena que não consegue se comunicar muito bem e adora ficar sentado em frente à TV assistindo clássicos dos anos 80.

Enquanto Charlie tenta manter seu novo amigo desmemoriado escondido e a salvo de prováveis cientistas que adorariam estudar seu funcionamento, os Decepticons que estavam vasculhando a galáxia à procura do foragido Autobot chegam na Terra. Com um senso de humor negro, eles manipulam os cientistas para ajudá-los em sua incansável busca por B-127. Nesse ponto, o roteiro instiga e dá um motivo plausível para que as autoridades não tenham usado força máxima logo de cara contra os extraterrestres, onde acabam querendo trabalhar em conjunto com os eles para aprender mais sobre sua tecnologia. Quem não se convence muito disso é o já experiente agente Burns (John Cena, “Na Mira do Atirador”), um dos primeiros a sobreviver e evidenciar o poder destrutivo dessas máquinas.

A narrativa acerta também na quebra do estereótipo de que mecânica, carros e robôs são apenas “coisas de meninos”, já que Charlie é uma excelente profissional e entende tudo de automóveis. Quem também se aproveita bem dessa quebra é Lendeborg Jr., nos trazendo um garoto nerd, inseguro e cômico, e deixando claro que uma história não precisa contar com um jovem branco, forte e seguro de si para sustentar uma garotinha fraca e indefesa. Especialmente aqui, onde Charlie está muito acima disso e enfrentará até mesmo as autoridades para ajudar seus amigos.

Com efeitos visuais de encher os olhos – esquecendo a confusão de batalhas e as transformações exageradas dos filmes passados -, além de uma trilha sonora excelente, “Bumblebee” vem com uma nova abordagem para a série “Transformers”, mostrando que filmes de robôs gigantes não são feitos apenas de tiros e bombas, mas também podem trazer uma trama envolvente, empática e divertida. A interação de Bee com o mundo real nos faz acreditar que o robô gigante, de fato, existe, fortalecendo ainda mais o vínculo do publico com ele, além de sua ótima interação com Charlie. A ideia de acrescentar um pouco mais à franquia funciona, e o longa garante o entretenimento do público, atendendo bem à sua proposta e apresentando pouquíssimas falhas, garantindo a diversão até mesmo dos fãs mais exigentes.

Diego Souza
@diegoosouz

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