Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 05 de novembro de 2018

Next Gen (Netflix, 2018): potencial desperdiçado

Longa tem potencial, mas se perde no desenvolvimento e termina como uma animação genérica.

Perdas, solidão, família, amigos. São temas sempre muito bem-vindos, e que oferecem vários caminhos para serem abordados de formas bem criativas. Isso é acentuado em animações, onde fica mais fácil extrapolar as ideias, saindo do real e mergulhando no fantástico e na ficção, e ainda que não sejam tão bem trabalhados, costumam emocionar. Esse é o caso de “Next Gen”, nova animação da Netflix que mostra potencial, mas esbarra no raso desenvolvimento da história.

O longa nos apresenta Mai (Charlyne Yi/Mariana Evangelista), uma menina que sofreu cedo o abandono do pai, e agora mora com Molly (Constance Wu/Eleonora Prado), uma mãe viciada na tecnologia que compõe o universo da animação. Carente da atenção da mãe, a menina cresce rebelde e conhece o robô Project 77 (John Krasinski/Marcelo Campos), com quem cria um laço e encontra uma companhia. No meio desse drama familiar, temos Justin Pin (Jason Sudeikis/Sérgio Moreno), uma espécie de Steve Jobs; é a celebridade do momento, criador dos Q-Bôs (David Cross/Francisco Brêtas), robô que funciona como um faz-tudo.

“Next Gen” introduz o drama familiar, mesclado ao vício em tecnologia, passa pela solidão e a busca de suprir uma carência, passeia pelo bullying, dá ares de vingança e flerta com o gênero de super-herói. E nenhum desses é bem desenvolvido. No terceiro ato, há uma forçação de barra para gerar emoção no espectador em cima de algo que foi rasamente elaborado, se é que houve elaboração. Talvez seja marcante em alguns momentos para as crianças, já que o longa é para maiores de 10 anos e nitidamente uma animação voltada para o público infantil. Mas se perde nos temas que coloca e entrega uma mensagem final incompleta, deixando a desejar.

E se os temas não foram bem aproveitados, tampouco foram os personagens. Mai, a protagonista, mal passa por momentos de amadurecimento, e a relação com Project 77 é criada da maneira mais superficial possível. Começa com a gestação de uma amizade emocionante, mas a falta de desenvolvimento faz com que termine como um relacionamento forçado. O vilão, que começa bem (mesmo com a rapidez com que é apresentado), mas se mostra apenas mais um cara mal que quer dominar o mundo. E não podemos deixar de citar seu empregado, Dr. Tanner Rice (David Cross/Francisco Brêtas), criador do Project 77 e que vai de promissor a esquecível.

Ainda que seja um filme que visa um público mais infantil, a comédia por vezes acaba prejudicando. O fato de todos os objetos (sim, todos) serem robôs enjoa, torna tudo mais caricato do que deveria e em nada agrega. A demasiada humanização na expressão dos robôs pode até agradar as crianças, mas quebra o tom algumas vezes.

Porém, justiça seja feita: a animação é muito bonita. O 3D é bem utilizado, e a paleta de cores encanta. Dá vontade de viver naquele universo. As cenas de ação também são muito boas, e o flerte com o gênero de heróis funciona.

Enfim, “Next Gen” é uma clara tentativa de emular “Operação Big Hero”, mas infelizmente falha na missão. O universo criado tem grande potencial, mas esbarra na falta de desenvolvimento e, principalmente, de profundidade na relação entre as personagens.

João Victor Barros
@jotaerrebarros

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