Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

LEGO Batman – O Filme (2017): divertida homenagem ao Cavaleiro das Trevas

Referenciando todas as versões do personagem desde sua criação por Bob Kane e Bill Finger, esta produção reconhece a importância do Batman para a Cultura Pop, brincando com uma engraçadíssima caricatura deste em uma anárquica aventura animada.

É difícil para os fãs mais antigos do Cavaleiro das Trevas assistir esse “LEGO Batman – O Filme” e não lembrar de outra produção estrelada pelo personagem: o infame “Batman & Robin” (BAT-MAMILOS!). Isso porque os dois filmes têm um Bruce Wayne tentando superar seu medo de compromissos enquanto genuinamente GOSTA de ser o Batman, em uma Gotham que, apesar de ter crimes, abraça seu herói como uma celebridade.

Há uma grande diferença entre os dois longas, no entanto. Por ser uma animação, inexiste o peso de ser um filme-evento de um dos pilares da cultura pop contemporânea. Além disso, a produção assume-se sem medo como uma comédia absurda e, aqui, as piadas funcionam e são voltadas para engrandecer e brincar com o legado do personagem criado por Bob Kane e Bill Finger, não ridicularizá-lo ou diminui-lo.

Dirigido por Chris McKay, um veterano das sátiras animadas tendo dirigido diversos episódios da série “Frango Robô”, e roteirizado em grupo por Seth Grahame-Smith (“Orgulho, Preconceito e Zumbis”), Chris McKenna, Erik Sommers (ambos da série de TV “Community”), Jared Stern (“Detona Ralph”) e pelo novato John Whittington, o longa toca todas as fases do personagem no cinema – especialmente as mais embaraçosas – e referencia também algumas das suas principais histórias nos quadrinhos.

Todos esses elementos são usados para criar um Batman (Will Arnett/Duda Ribeiro) que usa sua megalomania, solidão e luta contra o crime para mascarar seu medo de perder novamente seus entes queridos, aqui representados pelo o órfão acidentalmente adotado por ele, Dick Grayson/Robin (Michael Cera/Andreas Avancini), o fiel mordomo Alfred (Ralph Fiennes/Julio Chaves) e pela nova comissária e polícia de Gotham e inevitável Batgirl, Barbara Gordon (Rosario Dawson/Guilene Conte).

E é justamente o pânico do personagem em se apegar a alguém que aciona o plano do Coringa (Zach Galifianakis/Márcio Simões). Desesperado para ser reconhecido pelo Homem-Morcego como seu arqui-inimigo e cansado de sempre perder ao trabalhar com os inimigos tradicionais do herói, o príncipe palhaço do crime se deixa ser capturado e levado à Zona Fantasma para lá soltar os maiores vilões aos quais a franquia Lego tem acesso, como Lord Voldemort (“Harry Potter”), Sauron (“O Senhor dos Anéis”) e os Daleks (“Doctor Who”).

A dinâmica adotada pela trama é mais anárquica do que aquela em Uma Aventura Lego, com as quebras de quarta parede remetendo um pouco ao recente “Deadpool” (obviamente, sem a escatologia e violência do herói da Marvel). São muitas informações na tela, mas o longa jamais se torna confuso. Muito disso se deve à competente direção de arte do longa, que usa de maneira plasticamente incrível as características únicas dos kits LEGO, entregando um visual de encher os bloc… quer dizer, os olhos!

Até mesmo o visual dos bonecos dos personagens entregam homenagens à diversas versões do Batman. O traje do protagonista-título lembra a armadura preta de “Batman – O Retorno”, o uniformes do Robin remete ao de Carrie Kelly na clássica HQ de Frank Miller “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, enquanto o traje da Batgirl é baseado na série live-action de 1966 e por aí vai.

Como nos clássicos filmes do trio ZAZ (como “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!”), as gags acontecem não apenas no primeiro plano, mas também ao fundo, convidando o espectador a revisitar várias vezes o filme para pegar todos os detalhes.

As próprias piadas possuem diferentes níveis, variando daquelas mais óbvias e contemporâneas, passando por aquelas que exigem uma certa maturidade para entender por sua natureza metalinguística (como a brincadeira envolvendo um certo diálogo de “Jerry Maguire – A Grande Virada” e a própria relação entre Batman e Coringa) e outras que brincam com a própria mitologia da franquia Batman, referenciando desde as cinesséries dos anos 1940 até o recente “Esquadrão Suicida”, com o próprio longa não poupando os recentes longas da DC de críticas (“Usar criminosos para prender criminosos? Que ideia idiota!“).

Acertadamente, o filme desenvolve seu personagem central de maneira competente e divertida. Acreditem, por mais canastrão e amalucado que este Batman seja, ele possui um arco dramático muito bem definido, com o protagonista saindo do ponto A (início da projeção, em preto) para um ponto B (fim da projeção, em branco) de maneira bem orgânica, especialmente por conta das ótimas interações dele com os coadjuvantes, ao contrário do que aconteceu em certos projetos para o cinema envolvendo o Cruzado Encapuzado no ano passado. ..

O ritmo acelerado do filme cansa um pouco em seu terceiro ato e, pessoalmente, acho que o Batman possui vilões fortes e icônicos o bastante para tornar desnecessário o “empréstimo” por parte da produção de antagonistas de outras franquias. De todo modo, a animação diverte e empolga fãs do personagens de todas as gerações e de todas as encarnações do Cavaleiro das Trevas. E quem diria que um dia veríamos o Batman do Adam West fazendo sua bat-dança em uma tela IMAX?

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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