Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 17 de julho de 2014

Juntos e Misturados (2014): Barrymore tenta salvar um apático Sandler

Previsível, nova colaboração entre Sandler e Barrymore só ganha algum fôlego graças à química entre eles.

No melhor estilo daquelas postagens “bombásticas” que vemos no Facebook, tem um segredo sobre Adam Sandler que vocês não vão acreditar: ele é um bom ator. Sério. Filmes como “Embriagado de Amor”, “Reine Sobre Mim” e “Tá Rindo do Quê?” provam isso. Mas Sandler também é preguiçoso e gosta de bater sempre nas mesmas teclas que lhe renderam sua fortuna.

Tratando seu público como bebês que querem ver de novo e de novo e de novo sua fórmula cansada de comédia, Sandler requenta plots e piadas que podem ser previstos por qualquer um muito antes de atingirem a tela. E é justamente isso que vocês encontrarão neste “Juntos e Misturados”, embora com um diferencial que já redimiu fitas do ator e produtor anteriormente: a química dele com Drew Barrymore.

No filme, dirigido por Frank Coraci, Sandler e Barrymore vivem Jim e Lauren, pais solteiros de personalidades opostas que se conhecem em um encontro às cegas desastroso, do qual os dois saem se detestando. Para constrangimento de ambos, eles continuam a se cruzar em situações embaraçosas até que acabam embarcando com suas respectivas famílias em uma viagem econômica para a África, onde eles e seus filhos acabam dividindo a mesma suíte.

Sandler tem um padrão em sua filmografia, que é o de contar uma história com contexto “emocional” no plot principal e costurar nela situações cômicas exageradas. Quando ele consegue fazer isso de maneira orgânica dentro da trama, a fórmula funciona (vide “Afinado no Amor”, também dirigido por Coraci, um dos colaboradores habituais do ator).

Mas o problema é que, na maioria das vezes, o tiro sai pela culatra e rende bombas como “Gente Grande” e sua continuação, “Este é o Meu Garoto”, “Cada um Tem a Gêmea Que Merece” e “Little Nicy – Um Diabo Diferente”. Isso porque a história central acaba sendo torpedeada por gags escatológicas e previsíveis, afundando qualquer investimento emocional que possamos ter pelos personagens.

Estes, aliás, tendem a ser bastante esquemáticos, com Sandler sempre vivendo um protagonista infantilizado e bon vivant cercado de figuras que funcionam como babás ou que acabam sendo conquistadas pelo ponto de vista “ingênuo” daquela figura “adorável”. Tudo isso se aplica a este “Juntos e Misturados”.

O único adulto de verdade com quem o Jim de Sandler conversa durante toda a trama é com a Lauren de Barrymore, que é frequentemente criticada por outros justamente por agir como adulta, com o longa mais soando como uma ode a comportamentos disfuncionais e protestando veementemente contra o amadurecimento.

Nisso, temos os filhos de cada um dos protagonistas, todos com seus próprios problemas que o filme lida de maneira superficial ou ignora e acha bonitinho, bem à maneira de Sandler. Além disso, desperdiçar o carismático Terry Crews (mais conhecido aqui no Brasil como Pai do Chris) em interlúdios musicais tosquíssimos é quase um crime.

Some isso a gags visuais sobre rinocerontes transando e piadas batidas sobre uma moça com seios avantajados casada com um homem mais velho e temos um interminável desfile de clichês, mais apropriado para um drinking game que para uma sessão de cinema. Sem contar outra mania do corpo de obra de Sandler que volta com tudo aqui, que é repetir a mesma piada várias e várias vezes em um mínimo espaço de tempo.

A sorte de Sandler é a presença doce e contagiante de Drew Barrymore e a química entre os dois, que sobrevive ao julgamento de fogo que é este roteiro fraco, previsível e com pouquíssima graça. Graças a isso, o projeto não é uma perda total, embora passe perto de sê-lo.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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