Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 13 de agosto de 2013

Os Escolhidos (2013): terror mediano escorrega, mas rende alguns sustos

Produtores de "Atividade Paranormal" e "Sobrenatural" contam história de família que começa a ser assombrada por eventos misteriosos.

Os EscolhidosEscrito e dirigido por Scott Stewart, “Os Escolhidos” conta a história dos Barret, uma típica família americana. Lacy (Keri Russell) é corretora de imóveis, Daniel (Josh Hamilton) é um arquiteto em busca de um novo emprego e os filhos Jesse (Dakota Goyo) e Sam (Kadan Rockett) vão à escola e gostam de brincar à noite, entre outras coisas, com seus rádios de comunicação, contando histórias de terror, especialmente sobre João Pestana, entidade que arranca os olhos das crianças que não dormem.

Apesar de estarem passando por uma crise financeira, eles levam uma vida comum, sem nenhum grande sobressalto significativo. Durante uma noite de insônia, Lacy vê a cozinha completamente bagunçada, sem nenhuma explicação plausível. Isso é o estopim para vários outros eventos perturbadores começarem a ocorrer.

O roteiro constrói a tensão do filme de forma gradativa, sem exagerar na transição da escala dos fenômenos na casa. Inicia com algo que parece uma brincadeira dos filhos, passa por interferências na TV ou câmeras de segurança e atinge seu ápice no terceiro ato da projeção. Existe até uma referência ao clássico “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock. Infelizmente, o longa peca ao não explorar as repercussões de alguns arcos, como as acusações violência doméstica.

Apesar de não decepcionar tanto, o diretor abusa, em alguns momentos, de clichês típicos do gênero, como a câmera subjetiva, que dá a impressão de que sempre há alguém observando ou perseguindo algum personagem, ou do já desgastado som de um corvo grasnando em uma rua deserta, o que tira o espectador daquela atmosfera.

A trilha sonora abusa do tema principal, como se sempre quisesse deixar claro que existe algo de errado acontecendo. A repetição da tentativa de dar sustos apenas com o aumento do tom (felizmente esse recurso é deixado de lado durante o terceiro ato), tem efeito contrário, pois tira a atenção do que está acontecendo na tela.

Keri Russell mostra toda a desconstrução mental de Lacy, que começa a questionar a própria sanidade por não conseguir encontrar explicações para tudo o que está acontecendo com sua família. Com isso, ela é capaz até de sobrepor a falta de talento dos outros atores do núcleo principal. Dakota Goyo também merece elogios, mesmo limitado, como o filho mais velho, ao expor todos os conflitos internos de uma criança de 13 anos, exacerbado por ver sua família passar por tantos problemas inexplicáveis.

O maior destaque do elenco fica com J. K Simmons. Apesar de pouco tempo em tela, ele consegue roubar a cena esbanjando talento e  carisma quase magnético, como o estudioso (melhor não dizer seu campo de estudo) que ajuda a explicar o que está acontecendo na casa dos Barrett. Ainda que não seja uma grande obra, “Os Escolhidos” consegue fugir do lugar comum dos filmes de terror com uma trama que prende a atenção do espectador e oferece uma boa dose de sustos.

David Arrais
@davidarrais

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