Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 14 de abril de 2013

Chamada de Emergência (2013): thriller vai de promissor a desastroso

Halle Berry e Abigail Breslin protagonizam ótimas cenas de ação até o momento em que as pretensões do roteiro passam por cima de qualquer lógica e sentido.

Chamada de EmergênciaPersonagens interessantes, ritmo frenético, estratégias inteligentes e uma história simples, mas eficiente. É dessa forma que podemos caracterizar a primeira hora (quase que por inteira) de “Chamada de Emergência”, novo filme do diretor Brad Anderson (“Expresso Transiberiano” e “O Operário”). O que vemos a partir de então, em cerca de trinta minutos, é um longa em franca e vertiginosa queda, que estraçalha os méritos que havia construído até então. O resultado é uma produção extremamente irregular, que não poderia começar melhor, assim como terminar de pior maneira.

A trama acompanha Jordan (Halle Berry), uma atendente da linha de emergência de Los Angeles. Diariamente, ela é uma das várias pessoas que ajudam tantas outras da cidade em situações que vão de meros pedidos de informação a casos de vida ou morte. No entanto, um erro cometido por ela, que leva ao assassinato de uma jovem garota, traumatiza-a, tirando-a do atendimento do público. Seis meses depois, o dever, porém, chama Jordan, e ela passa a cooperar no caso de outra adolescente, o sequestro de Casey Welson (Abigail Breslin), tendo de enfrentar os fantasmas de um passado bem recente.

Iniciado com uma mise-en-scéne cheia de improviso, que exibe a rotina da chama “Colmeia”, tratada acertadamente como “os olhos e ouvidos da cidade”, o filme traz um boa impressão. Além de tratar os sofridos profissionais da área com o devido respeito, a história traz também um tímido humor que faz o público conhecer melhor o clima do local e todos os personagens que o compõem. Mas “Chamada de Emergência” não é um thriller de perder muito tempo. Vai direto ao seu propósito. E assim começa o drama de Casey e Jordan, que ganha seus devidos momentos de silêncio, de dor sofrida e calada, digno de qualquer profissional que está sucestível ao erro em seu dia-a-dia.

E, então, o roteiro de Richard D’Ovidio e a direção de Brad Anderson começam a trabalhar em conjunto em incessantes cenas de ação, que, por mais que enquadrem o filme em um padrão narrativo extremamente comum, fugindo completamente da universalização da temática, é dono de um ritmo invejável. São cerca de quarenta minutos de uma perseguição ao “desconhecido”, enquanto a vítima é instruída de forma inteligente por meio de estratégias convincentes, que vão de arrancar o farol do carro a utilizar a tinta que se encontra no porta-malas. Fazendo o público encarar o medo transbordante de seus personagens, Anderson ainda faz questão de, por vezes, quase “colar” o rosto de seus atores na câmera, dando ares de filme de terror à história, como se preparando erroneamente  o terreno para o desastre que espera os espectadores em algumas dezenas de minutos.

Como uma grande bola de neve, as pretensões do longa vão aumentando, assim como a repercussão do sequestro, sendo suportável até o momento em que o vilão não passa de um homem insano de atitudes inexplicáveis e enquanto Casey e Jordan mantém contato por telefone, dando origem a uma relação de dependência e responsabilidade que ajudam a definir melhor as mulheres que carregam o filme debaixo do braço. A partir de então, o roteiro surta. Se alguns exageros e “licenças poéticas” são relevadas até então em prol do bom entretenimento, eles se tornam insuportáveis.

Em uma conclusão desastrosa, enfim, a trama deixa os ares policiais e adentro outros bem mais obscuros do que poderia, e coloca sua protagonista em situações bastante inverossímeis, para dizer o mínimo. “Forçando a barra”, o script confronta a paciência e  inteligência do espectador, seja ao tirar sinais de celulares e fazê-los cair no local menos improvável possível, seja ao tornar Jordan, subitamente, uma mulher sem qualquer noção do perigo. Coincidências e relações entre lembranças e crimes passados também enfraquecem o thriller apresentado até antes dali.

“Chamada de Emergência”, na ânsia por tornar-se bem mais impactante do que é, deixa sua zona de conforto, quando essa satisfaz consideravelmente o espectador, perdendo seu rumo e o consequente objetivo inicial. E na vontade por terminar em alta, ainda temos de ver uma frase de efeito fazer um filme contradizer-se completamente, podendo deixar alguns boquiabertos, mas de espanto com a irregularidade da produção que acabou de conferir.

Darlano Didimo
@rapadura

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