Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 07 de novembro de 2012

A Floresta de Jonathas (2012): longa amazonense é irregular

Dirigido por Sergio Andrade, trama lenta e mal definida destoa da fotografia competente e bom elenco.

O cinema do Norte brasileiro segue os mesmos passos do crescimento do Nordeste. A descentralização da produção audiovisual é essencial para o crescimento da identidade do audiovisual nacional, sendo este “A Floresta de Jonathas” um bom começo para os realizadores do Amazonas. Sergio Andrade, referência no cinema da região, roteiriza e dirige o longa, que foi exibido no Festival do Rio e compete no 9º Amazonas Film Festival.

A trama é focada no Jonathas (Begê Muniz) do título, jovem que ajuda os pais na colheita de frutas da região rural amazônica. Junto ao irmão Juliano (Ítalo Castro), eles cuidam de uma barraca em frente ao sítio onde moram, aproveitando o constante fluxo de pessoas viajando pela estrada. Um dia, eles decidem acampar com uma estrangeira e um índio local, e a jornada do herói o transformará em uma nova pessoa. Supostamente.

Roteirizado, produzido e dirigido pelo próprio Andrade, o longa passa por momentos de indefinição. A trama aparente do primeiro ato se perde pela falta de conexões no decorrer da projeção, dando a sensação, ao final, que temos dois filmes diferentes dentro de um. As motivações dos personagens e a própria interação entre eles demora a convencer. O tempo da narrativa também atrapalha a participação do público naquela aventura, bem como a relação de identificação e torcida pelo próprio Jonathas.

Os melhores momentos da obra são o contato do protagonista com aquilo que é externo ao seu cotidiano, principalmente quando se relaciona com a jovem ucraniana Milly (Viktoryia Vinyarska). O elenco, que segue bem durante todos os atos, tenta esconder a fragilidade do roteiro, que ainda é prejudicado pela opção de planos longos demais, trilha sonora estridente e conflitos que não se sustentam. O último ato em especial parece inacabável, e ainda sofre com erros primários de montagem.

Filmado em uma região propícia a belas paisagens e enquadramentos, a fotografia de Yure César é iimpecável, revelando as diferentes nuances da história que está sendo contada. Na cadeira de diretor, Sergio Andrade realiza um trabalho razoável, sabendo bem o que quer daquele espaço, porém ousando pouco na história que tinha em mãos. Baseada em fatos reais, a trama tenta fugir dos estereótipos da região amazônica, inserindo elementos mais maduros, além de superstições e culturas pouco conhecidas.

O objetivo de desassociar das suas origens não é completamente alcançado. E isso é um ponto positivo, já que dá a identidade do filme neste importante processo de inclusão do cinema amazonense na filmografia brasileira. Válido como uma experimentação, “A Floresta de Jonathas” cai em opções inadequadas de narrativa, mas vale principalmente pela bela fotografia que nos é entregue.

Esse filme foi visto durante o 9º Amazonas Film Festival, em novembro de 2012.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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