Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Homem que Mudou o Jogo: beisebol e história real resultam em filme irregular

Brad Pitt interpreta Billy Beane, ex-jogador que contrariou todas as expectativas e entrou para a história do esporte norte-americano.

Que o Oscar é, acima de tudo, uma premiação voltada, principalmente, para os próprios norte-americanos, isto todo mundo já está careca de saber. Por isso, não é novidade nenhuma que “O Homem que Mudou o Jogo” esteja entre os indicados ao prêmio em seis categorias.

Dirigido por Bennett Miller (do aclamado “Capote”), “O Homem que Mudou o Jogo” retrata a história real de Billy Beane (Brad Pitt), um ex-jogador de beisebol que, após o fim da carreira nos campos, se torna o diretor geral do Oakland Athletics. O ano é 2001 quando, em frangalhos sem ganhar jogos e perdendo seus principais jogadores, o time precisa dar a volta por cima para não cair no ostracismo e perder os seus ainda fiéis torcedores.

Diante de tal diagnóstico, Beane tenta, a todo custo, fazer com que a equipe se recupere e possa competir à altura com nomes grandes como Yankees ou Red Sox. Após inúmeras tentativas frustradas de empréstimo e compra de jogadores aliadas à falta de investimento e má reputação do time, Beane se depara com Peter Brand (Jonah Hill). O jovem, um gênio da economia e com um olho clínico para o esporte, se torna a galinha dos ovos de ouro do diretor, que já perdia as forças para tirar o Oakland do buraco.

Brand, especialista em estatísticas matemáticas, analisa a fundo o potencial de cada jogador, mesmo com fatores considerados defeitos pela cúpula veterana subordinada a Beane: drogas, mulheres, problemas de saúde, popularidade em baixa, entre outros. Assim, Beane e Brand passam por um processo longo e meticuloso de buscar jogadores em baixa que, na verdade, podem ser a grande esperança da equipe.

Baseado no livro de Michael Lewis, “Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game”, o roteiro adaptado a seis mãos por Steven Zaillian, Aaron Sorkin e Stan Chervin retrata os bastidores do esporte contemporâneo – não somente do beisebol – onde jogadores transitam entre times sem maiores cerimônias quando o dinheiro fala mais alto. Longe desta filosofia, Beane mantém a personalidade visionária de conquistar vitórias que vão além dos cifrões em um distanciamento defensivo, a fim de evitar misturar emoções e negócios.

No meio do caminho, está o técnico do Oakland, Art Howe (Phillip Seymour Hoffman, em segunda parceria com o diretor e vencedor do Oscar de Melhor Ator no já citado “Capote”), que discorda da extremamente arriscada estratégia da dupla. E neste entra e sai de jogadores sendo testados em suas capacidades, que perdura durante grande parte do filme, “O Homem que Mudou o Jogo” se arrasta, até mesmo pela certa frieza diante dos profissionais como simples peças de um grande jogo, fazendo deste um filme de Brad Pitt e Jonah Hill. Nem mesmo o talento de Seymour Hoffman é aproveitado como deveria – ou poderia.

Sem grandes méritos, a dupla se sai bem, interpretando de forma correta seus personagens, porém superestimados para indicações ao Oscar e outros prêmios do Cinema. O grande destaque é Hill, que foge do padrão de coadjuvante bonachão que o tornou conhecido em Hollywood e interpreta um personagem sério, tímido e metódico. Já o senhor Jolie não surpreende e faz o que sabe fazer melhor: interpretar si mesmo.

Caso leve algum prêmio na noite do Academy Awards, “O Homem que Mudou o Jogo” seria a grande zebra da noite, justamente por acumular cada vez mais indicações e conquistando apenas algumas delas. O filme tem seus méritos, sem dúvidas, mas é fato consumado que o burburinho em torno dele deve-se mais à abordagem de um dos esportes mais amados pelos EUA do que, propriamente, por suas qualidades.

Trocando em miúdos, “O Homem que Mudou o Jogo” mistura uma boa história, atores corretos e uma direção que só chega a empolgar, de fato, nas tomadas em campo. E, similar a um jogo que se estende em um longo zero e zero, nos é oferecido um epílogo que busca uma grandiloquência tardia na qual, quem saiu ganhando, na verdade, foi o Oakland Athletics, que entrou para a História. Este, sim, um grande feito.

Léo Freitas
@LeoGFreitas

Compartilhe

Saiba mais sobre