Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 05 de fevereiro de 2011

Santuário

Frio, impaciência e claustrofobia. Não é o cinema 4D.

Depois do estardalhaço em torno de “Avatar”, James Cameron está em posição confortável para colocar seu nome em produções menores e menos ousadas. Saem os Navis azulados em seus territórios fantásticos e entra em cena um grupo de exploradores de uma grande caverna em Papua (Nova Guiné). “Santuário” veio para consolidar a utilização de recursos em 3D no último espaço ainda pouco desbravado: os ambientes submarinos.

A direção de “Santuário” foi realizada pelo pouco conhecido Alister Grierson, que realiza aqui seu primeiro longa-metragem de apelo junto ao grande público. Cameron, embora tenha assumido o cargo de produtor-executivo, foi quem teve o nome mais explorado e recebeu posição de destaque nos cartazes e trailer do filme. Nos últimos minutos do longa ainda é difícil estabelecer uma divisão clara entre o trabalho dos dois profissionais. Entre qualidades e defeitos que seriam cometidos por ambos, o resultado final é divertido e capaz de provocar bons momentos de tensão.

A história real de Andrew Wight, que teve participação no roteiro, carrega potencial dramático suficiente para render uma adaptação cinematográfica de qualidade. Wight fez parte da expedição que viu a caverna Esa-Sala desabar e impedir a retirada de seus companheiros. Durante dois dias, os exploradores buscaram saídas alternativas entre fendas rochosas e ambientes repletos de água. A incerteza quanto a realização de operações de resgate na superfície e a chuva torrencial que acelerava a completa inundação da caverna são os fatores de maior tensão na história real. A adaptação para o cinema soube equilibrar esses dois fatores e alcançou sequências exitosas.

A sensação claustrofóbica que acompanha os personagens em suas travessias por buracos mínimos entre as rochas foi bem capturada pela câmera de Grierson. O público consegue sentir a falta de ar e a aflição causada por movimentos limitados em espaços reduzidos de passagem. A direção também transmite a percepção de umidade e frio em um ambiente em que tudo parece encharcado de água, desde a roupa dos personagens até os equipamentos de sobrevivência.

“Santuário” seria um completo filme de suspense não fosse o desempenho medíocre de seu elenco. O australiano Richard Roxburgh, conhecido no Brasil pelo seu papel como o Duque, em “Moulin Rouge”, protagoniza a trama como o chefe da expedição e oferece ao público o melhor trabalho entre os atores. O mesmo não pode ser dito de Ioan Gruffudd, o nome mais popular do elenco. Conhecido por ter vivido o Senhor Fantástico nos dois filmes da série “Quarteto Fantástico”, o ator não adere ao clima exigido pela trama. Nos momentos de tensão, sua veia dramática demonstra insuficiência e ele decide se apoiar em expressões faciais exageradas.

O filho do explorador é vivido por Rhys Wakefield, ator retirado de séries televisivas e que parece discípulo de Gruffudd nas técnicas de interpretação. Entre falhas e exageros, vai para Alice Parkinson o título de personagem mais irritante do filme. A frase “O que poderia dar errado explorando cavernas?”, dita entre risos prepotentes nos primeiros minutos de projeção, resume bem o que pode ser esperado da personagem.

Para satisfação do público, o trabalho medíocre dos atores não consegue prejudicar o desenvolvimento de “Santuário”. A impotência do homem diante de uma situação em que todas as soluções tornaram-se inviáveis é argumento suficiente para valer o ingresso. Com um clima bem construído e sequências realmente desesperadoras, o nome de Cameron deixa de ser o único motivo para o sucesso do filme.

Sobre a personagem de Parkinson, a reposta quanto o que pode dar errado numa caverna vai ser dada da maneira mais penosa que você pode supor…

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Jáder Santana é estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e crítico de cinema do CCR desde 2009. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.

Jader Santana
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