Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 22 de janeiro de 2011

Zé Comeia – O Filme

Sem querer reinventar a roda, esta é uma película que, ao menos, não ofende o espectador tentando diverti-lo

O que “Garfield – O Filme” tinha de pior era o fato de que a essência do personagem-título, um gato preguiçoso, comilão e sarcástico, fora toda jogada no lixo em proveito de uma aventura chata e sem sentido. Já este “Zé Colmeia – O Filme” aproveita sim o material original dos desenhos da Hanna-Barbera e a personalidade de Zé e de seu parceiro Catatau, aqui usados em uma trama bobinha, mas que funciona de maneira razoável dentro de sua proposta, a despeito de algumas escorregadas. Mas só esse fato já confere ao longa uma vantagem diante de outras adaptações do gênero.

Zé Colmeia e seu parceiro Catatau são dois ursos pardos americanos que vivem no Parque de Jellystone. Ao contrário dos ursos comuns, a dupla possui inteligência e a capacidade de falar, algo que Zé utiliza em planos mirabolantes para roubar comida dos visitantes do parque, atrapalhando a vida do dedicado Guarda Smith (Tom Cavanagh).

Enquanto a turma do de Jellystone se anima com a chegada da documentarista Rachel (Anna Faris), o inescrupuloso Prefeito Brown e seu Chefe de Gabinete (Andrew Daly e Nathan Coddery, respectivamente) preparam planos para vender o parque para a indústria madeireira, visando cobrir as dívidas que a gesto corrupta do político gerou. Cabe ao Guarda Smith salvar o parque, isso se Zé Colmeia não acabar estragando tudo tentando ajudar.

As melhores cenas da fita são, com toda certeza, as que envolvem as trapalhadas do carismático urso. O roteiro de Brad Copeland (do seriado “Arrested Development”) e da dupla Jeffrey Ventimilia e Joshua Sternin (“O Fada do Dente”) funciona quando se foca em Zé Colmeia e Catatu, inclusive com algumas ótimas tiradas. Os vilões encarnados por Daly e Coddery são bem estereotipados e combinam com a proposta da produção, com os atores abraçando o seu lado canastrão.

No entanto, o romance entre o Guarda Smith e Rachel não engrena na tela, por mais que Tom Cavanagh e Anna Faris sejam carismáticos. A questão é que a produção, em alguns momentos, se concentra muito neles e esquece o seu protagonista. O problema se agrava com a presença de outra subtrama no longa, mostrando a ambição do Guarda Jones (T.J. Miller) em assumir o cargo do colega. Além disso, duas desnecessárias citações a filmes do catálogo da Warner surgem de maneira despropositada e são encaixadas na película de um modo extremamente forçado, não acrescentando nada à narrativa.

Os efeitos especiais, que jamais surgem com a intenção de serem realistas, funcionam exatamente por isso. Zé Colmeia e Catatau são mostrados de modo bem cartunesco, com o espectador conectando imediatamente o design dos personagens ao desenho clássico, em uma boa decisão tomada pelo diretor Eric Brevig, que ainda comanda algumas divertidas sequências de ação envolvendo a dupla.

A dublagem nacional está ótima. Reconhecendo que o fator nostalgia é primordial para que os pais também se divirtam com o longa ao levarem a molecada para o cinema, Guilherme Briggs encarna um ótimo Zé Colmeia, na melhor tradição dos profissionais brasileiros que já fizeram a voz do personagem anteriormente. Renan Freitas, dublador do Catatau, segue a esteira do colega em uma divertida interpretação, mas é uma pena que a Warner tenha vetado o clássico “Seu Gualda” que o pequeno urso soltava.

Relativamente curto, o que ajuda bastante a fita, “Zé Colmeia – O Filme” passa longe de ser um clássico da Sétima Arte ou mesmo um entretenimento memorável, escorregando também em uma conclusão apressada, mas é um ótimo passatempo para os pequenos e honra bem a memória que os marmanjos tem do guloso urso, sem apelar para a escatologia ou para o humor grosseiro a cada duas piadas. A despeito de seus defeitos, não ofende e, em tempos de bombas cada vez mais ofensivas ao público nas telas, não é uma opção ruim.

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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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