Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 15 de janeiro de 2011

Desenrola

Falando a linguagem dos jovens, longa nacional coloca a virgindade no centro das atenções.

Quando da estreia de “As Melhores Coisas do Mundo”, muito se falou sobre a pouca atenção dada pelo cinema nacional à temática “adolescente”. Entre os tradicionais longas que adentram as favelas brasileiras, as comédias-românticas e as adaptações de romances consagrados, sobrava pouco espaço para os jovens se tornarem protagonistas de uma história. Se “Os Famosos e o Duendes da Morte” também optou por adentrar no mesmo contexto, este “Desenrola” dá continuidade à pequena onda que se forma atualmente entre cineastas tupiniquins.

Os três filmes citados, porém, não poderiam ser mais diferentes. Os dois exemplares anteriores, mesmo que de gêneros absolutamente distintos, trazem propostas artísticas mais ousadas, que pouco atingem o público sobre o qual estão falando, enquanto recebem o respeito dos mais velhos e exigentes. Já esta produção é feita quase que exclusivamente para os jovens, abordando assuntos já bastante explorados pelo conteúdo televisivo, mas cumprindo com competência aquilo a que se propõe.

No filme, Olivia Torres interpreta Priscila, uma menina de 16 anos que passa boas horas do seu dia especulando sobre como será a sua primeira relação sexual. E surge uma boa oportunidade para que ela aconteça. Sua mãe precisa viajar a trabalho e a deixa sozinha em casa por vinte longos e intensos dias. Apaixonada por Rafa (Kayky Brito), um colega mais velho da escola, e paquerada por outros da sua idade, a garota enfrenta as mais diferentes situações durante o período de “folga”.

Um trabalho de matemática coloca a temática “virgindade” ainda mais no centro das atenções e força Priscila a se aproximar dos antes distantes Boca (Lucas Salles) e Tize (Juliana Paiva), todos da mesma sala. Se com a última, que é mais experiente sexualmente, ela passa a ter conversas reveladoras, ao lado do curioso rapaz ela vai de gargalhadas a um grande mico, que se torna assunto das fofocas de toda a escola. Mas é com o amigo Caco (Daniel Passi) que a ainda menina se sente mais confortável para comentar sobre todas as novas experiências vividas.

Dirigido por Rosane Svartman (“Mais Uma Vez Amor”), “Desenrola” segue os mesmos rumos do famoso seriado “Confissões de Adolescente”, focando-se quase que exclusivamente em falar sobre sexo, mais especificamente sobre virgindade. Aqui tudo gira em torno dos tabus que circundam a primeira relação sexual: os medos, a vergonha de confessar que ainda é virgem, a ânsia por deixar de ser etc. Com uma linguagem bastante simples, o longa fala a vocabulário dos jovens, deixando de lado a originalidade e buscando atingir em cheio seu público-tema-alvo.

Então não espere adentrar a mente dos personagens e conhecê-los a fundo. Assumindo sua pouca pretensão, o filme busca criar ocasiões comuns para passar as suas mensagens: a necessidade do uso da camisinha, o imprescindível apoio dos pais e as maneiras de lidar com uma eventual gravidez. Aquele didatismo chato que costuma acometer produções do gênero existe, mas o roteiro da própria Svertman, em parceria com Juliana Lins, torna-o mais brando ao exibir casos cômicos e ir além (mesmo que não muito) das caricaturas com os seus personagens.

Estão lá os mais bonitos e “pegadores” do colégio, os engraçadinhos e os tímidos. No entanto, eles não fazem de tudo para confirmar a sua condição, soltando piadas e desfilando pelo colégio. Eles apenas exercem funções que vão além de suas vontades. Dessa forma, as situações se tornam bem mais naturais, atingindo o auge de sua sensibilidade ao tratar sobre homossexualidade por meio de Caco, o amigo fiel de Priscila que, segundo ela mesmo diz, “de repente passou a olhar para os garotos”.

A história de amor também existe, e ela não poderia começar da maneira mais errada. Transformando o interesse masculino em um estereótipo ainda em sua introdução, a película corre atrás de desfazê-lo, conseguindo em termos, mas prejudicando o inevitável final feliz. Já os momentos cômicos ficam por conta de Amaral, o parceiro de danações de Boca. Com interpretação espontânea de Victor Thiré, torna-se inevitável não gargalhar, mesmo que suas anedotas sejam bastante clichês. O elenco, aliás, é bem competente para a faixa etária que possuem, com destaque para a própria Olivia Torres.

Pisando em terrenos já habitados anteriormente, “Desenrola” não ousa e, por isso mesmo, pouco erra. Trazendo a virgindade como tema principal, o filme prova que para tratar do assunto não é necessário ser demasiadamente piegas, mostrando os caminhos que o seriado teen “Malhação” deveria seguir, depois de anos de fracassos. Aos adolescentes, somente a eles, esta é uma boa opção de diversão instantânea.

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Darlano Dídimo é crítico cinema do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, não a substituindo por nenhum outro entretenimento, por maior que ele possa ser.

Darlano Didimo
@rapadura

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