Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 08 de janeiro de 2011

Além da Vida

Clint Eastwood traz um filme sensível sobre a vida após a morte.

Nesta nova produção do cineasta consagrado Clint Eastwood, as histórias de três personagens são contadas de forma intercalada e com teor sensitivo. Cada um enfrenta um conflito diferente, porém que envolve um mesmo dilema, a existência de algo após a morte. Assim, a trama nos mostra vertentes que direcionam o espectador a um olhar democrático e amplo sobre a questão. A apresentadora que sobrevive a um tsunami quer entender as visões estranhas que ela está tendo. O pequeno menino que perdeu seu irmão gêmeo o quer de volta. O médium quer mudar de vida. Todos querem algo que muitas vezes não dependem só deles.

Clint Eastwood consegue, mais uma vez, uma direção sensível em que nada é dado de mãos beijadas. Ele força o espectador a descobrir a verdade que lhe convém e, assim, fazer uma interpretação, muitas vezes, pessoal e própria. Algo bastante interessante se tratando de uma obra que envolve religião, no caso, o espiritismo. E se por um lado a sua direção acerta com esse lado oportunista, ela não agrada em cair no mais do mesmo quando apela para recursos um tanto defasados como o drama forçado em algumas cenas.

As atuações são bem apropriadas. Os três personagens principais dão conta de seus “mundos”. Clint Eastwood conta mais uma vez com Matt Damon (“Invictus”) que mostra o seu potencial para o drama ao viver na pele do operário e médium George. A bela atriz Cecile de France (“High Tension“) também faz um bom trabalho na pele da jornalista francesa Marie, que acaba de passar por uma experiência de quase-morte. E completando o trio, vem o pequeno Frankie McLaren, que consegue passar a angústia de um menino ao perder seu irmão. Percebe-se que, quanto ao elenco, a obra não deixa a desejar em nada.

“Além da Vida” chega aos cinemas do país em um momento bem oportuno em que o tema espírita é garantia de muita discussão. Isso se deve ao grande sucesso dos últimos filmes espíritas, especialmente os que trabalham com a imagem do famoso espírita Chico Xavier, como “Chico Xavier, O filme” e “Nosso Lar”. E as semelhanças não se referem apenas à temática, mas também na forma de apresentá-la. Democrática e abrangente, a todo instante existe um respeito e uma livre interpretação que pode agradar até aqueles que não acreditam no tema.

A trilha sonora é impecável. Um fato interessante é que em alguns momentos ela surge de forma bem econômica, quando há uma valorização do som ambiente. A emoção da  cena supera qualquer recurso a ser acrescentado, restando à trilha um lugar apenas ao fim da tomada. A cena em que George revela os segredos de sua amiga do curso de culinária esboça muito bem o que interessa ao filme.

Algo que também chama a atenção são os efeitos especiais. Eles estão por toda parte, mas principalmente em duas cenas: no tsunami que atinge a ilha e na explosão que acontece na estação de trem. Enquanto a primeira impressiona com tamanha realidade, a segunda provoca um grande susto. Já nas cenas de contato com o além, eles são bregas, diga-se de passagem. Algo que é possível ver em filmes das décadas anteriores.

Graças às mãos afiadas do diretor, “Além da Vida” é sensibilidade pura. Uma obra que mostra vertentes e abre uma discussão que nem mesmo ela sabe onde vai parar. Com um filme tão democrático, fica difícil não embarcar em um tema no qual todos nós  estamos inseridos direta ou indiretamente. Vale a pena ser conferido.

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Marcus Vinicius é crítico de cinema do CCR desde 2009. Produtor de comerciais de TV, também realiza projetos audiovisuais e eventos. Atualmente é concludente do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Marcus Vinicius
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