Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 12 de julho de 2010

Shrek Para Sempre (2010): retorno para finalizar a saga ficou abaixo da média

Depois da Pixar, agora é a vez da DreamWorks dar fim a sua franquia mais famosa. Mas o filme é um retrato da enorme disparidade de qualidade entre os dois maiores estúdios de animação do mundo.

O segundo lugar no mercado de animação cinematográfica tem dono, a DreamWorks Animation. Uma colocação até bem merecida e digna. De vez em quando o estúdio até ameaça a liderança da Pixar em termos de bilheteria, mas quando o assunto é qualidade, não há como compará-los. A DreamWorks passa longe de alcançar a excelência da Pixar, seja em termos técnicos ou narrativos. “Madagascar”, “Kung Fu Panda” e “Monstros Vs. Alienígenas” refletem bem o estilo do estúdio: entretenimento puro, algumas vezes a qualquer custo. O recente “Como Treinar seu Dragão” destoou positivamente, mas “Shrek Para Sempre” retomou as características usuais, fazendo rir e divertindo ao longo de sua exibição. Nada além.

O ogro mais famoso do mundo começa sua quarta aventura como um homem de família, dono de uma rotina chata e nada excitante, que inclui cuidar dos três filhos, consertar privadas e ser importunado por fãs e amigos intrusivos. Até que ele se cansa. Shrek quer voltar a agir como antes, como mandam seus instintos, nadando em poças de lama e assustando a população das cidades. Surge, então, a oportunidade. O falante Rumplestiltskin aparece para lhe propor um contrato: ele voltará a ser um ogro comum caso lhe conceda um dia de sua vida.

Com o contrato assinado, Shrek percebe que caiu em uma enrascada. Ele passa a habitar um mundo dominado pelo tal golpista, onde os ogros voltaram a ser caçados e ninguém o conhece, incluindo a própria Fiona e o Burro. Arrependido da besteira que acabou de fazer, ele quer reverter o feitiço, mas para isso precisa enfrentar as armadilhas de Rumplestiltskin e reconquistar Fiona, para que um beijo apaixonado entre os dois dê fim ao dia mais sofrido na vida de Shrek.

Com “Shrek Para Sempre”, a franquia mais famosa da DreamWorks ganha um desfecho mais digno, afinal seria difícil igualar a tragédia que foi o terceiro episódio. O ideal mesmo teria sido acabá-la ainda no segundo filme, quando o ogro e seu amigos ainda traziam o caos e a releitura de clássicos para os cinemas. Os interesses comerciais, no entanto, fizeram o estúdio entregar uma obra sonolenta e sem graça, que teve que ser compensada com mais um filme, que volta a esquecer a comicidade e busca na aventura sua principal meta.

Pois é, Shrek e companhia já não fazem mais rir como antigamente. As piadas são deixadas de lado para que um conteúdo mais romântico e aventuresco seja inserido. Apenas o Burro e o Gato de Botas, em versão rechonchuda, cumprem bem a função cômica. Personagens coadjuvantes, que rendiam boas gargalhadas, como o Pinóquio, aparecem apenas em participações especiais pouco eficientes, que voltam a explorar as mesmas tiradas, sinal da falta de originalidade dos roteiristas Josh Klausner e Darren Lemke.

O protagonista está muito civilizado. E o sinal de que sua educação não funciona ocorre quando Shrek tem os seus momentos de genuíno ogro. Com uma bela música de fundo, ele passeia por Tão Tão Distante assustando a todos, rendendo uma das melhores cenas do filme. A impressão é de que os roteiristas estão com medo de ousar e entregam uma história de trajetória comum, que respeita o padrão dos mais açucarados contos de fada, deixando de tirar sarro deles. O filme parece querer se tornar um clássico, quando sabe-se que o grande mérito da franquia é desviar-se de tal característica.

O longa, porém, tem seus méritos. Sabe como contar uma bonita trama amorosa. Shrek e Fiona compõem, realmente, um “belo” casal, donos de excentricidades escatológicas que os unem. E o roteiro faz um personagem se tornar necessário para a existência do outro. As estratégias encontradas pelo ogro para reconquistar sua esposa funcionam, fazendo-nos relembrar antigas passagens na vida de ambos, em uma estratégia que pretende homenagear as agradáveis lembranças que já duram quase dez anos.

Sobra também aventura. O adorável vilão Rumplestiltskin, com suas constantes mudanças de peruca, provoca situações recheadas de adrenalina, com destaque para a inserção de um flautista “mágico” que não sabe deixar os outros pararem de dançar. Tecnicamente, o filme não evolui tanto. Nada impressiona, mas também não espanta, a não ser a questionável trilha sonora que não traz nenhum hit de qualidade, tendo de resgatar sucessos dos primeiros longas.

“Shrek Para Sempre” passa longe de encerrar com lágrimas e aplausos a franquia mais bem sucedida da DreamWorks, mas também não faz feio. Consegue dar um ponto final mais apropriado para o destino de um dos personagens mais carismáticos do mundo animado. Com poucos risos, mas muito romance e aventura, o estúdio consegue cumprir o seu principal objetivo: entreter. Não espere nada além!

Darlano Didimo
@rapadura

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