Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 09 de maio de 2010

A Hora do Pesadelo (2010)

Apesar das boas intenções, o longa não empolga, ou melhor, não assusta.

Nos atuais filmes de terror, temos um grau de realismo realmente incrível.  Uma garganta cortada com perfeição, sangue verossímil aos montes, um rosto queimado deformado e grotesco. Ao lembrarmos esses mesmos efeitos no passado é impossível não rir, pois eles foram tão ultrapassados, que acabaram envelhecendo muito mal. Apesar disso tudo, “A Hora do Pesadelo” de 1984 é um bom filme. Dirigido por Wes Craven, o longa trazia inovações para o cinema de terror, com elementos pop saltando a tela. Foi um grande sucesso.

As grandes mentes de Hollywood tiveram então a brilhante ideia de refazer a obra. Com certeza uma tarefa ingrata. Tudo que há de brega e ruim no cinema atual de terror foi herdado desses típicos filmes dos anos 80. Na época, nada soava ruim, pois não havia um passado vergonhoso tão contundente para compará-los como nos temos hoje. Não me entendam mal, aqueles filmes são clássicos do terror de sua geração e têm o direito de serem chamados assim, mas não podemos negar que tudo mudou tão drasticamente que eles se tornaram obsoletos como a groselha que tomávamos naqueles tempos. Todos esses elementos bregas que citei, no caso da franquia do cruel Freddy Krueger, eram atenuados por um simples motivo: tudo era um sonho. Coisas absurdas como sair as 3 horas da madrugada para procurar o cachorro eram perdoáveis.

Esta nova versão do longa tenta se utilizar desta “desculpa do sonho” para criar seus momentos de tensão, mas falha. O exagero é tão grande na hora de apresentar o clima de terror que acaba sendo cansativo. Até para acender uma luz qualquer a trilha executa suas notas aterrorizantes. A verdade é que o filme infelizmente passa longe de ser adaptado de forma original

A história começa nos apresentando um grupo de jovens que andam sonhando com um terrível personagem. Ele é desfigurado e possui facas no lugar dos dedos. Compartilhando estranhamente o mesmo sonho, os garotos percebem que existe uma ligação entre eles, que envolve um antigo acerto de contas entre o estranho Freddy e seus pais.

O filme de Samuel Bayer (um conhecido diretor de videoclipes e TV) se utiliza inteligentemente de muitos elementos da obra original, o que mostra certa atenção e respeito para com sua fonte. Outro ponto positivo é a agonia criada mediante a privação de sono. Muito bem trabalhados, estes momentos de exaustão realmente são contundentes. As cenas de violência e mortes também são satisfatórias, mas não se destacam como deveriam.

Apesar do link com o filme original, o roteiro é fraco e trabalha pouco seu personagem principal, que fica fadado a solta frases mixurucas de efeito amoral. Apesar de Jackie Earle Haley ser um ótimo ator e se sair bem com máscaras, aqui ele não tinha Alan Moore escrevendo seu texto. Já o time de atores jovens é todo ruim, sem profundidade, sem relevância nenhuma. O trabalho de câmera tem seus momentos interessantes, algumas cenas bem planejadas, ângulos corretos, mas quase nada que cative a plateia a ponto de levar algo daquilo para casa. Tirando uma cena na banheira e mais uma ou duas mortes, o filme não apresenta nada de novo

Produzido pelo caçador de tesouros Michael Bay, “A Hora do Pesadelo” consegue se sair melhor do que outro assassino da mesma época, Jason da “Sexta Feira 13” (também produzido por Bay). Enquanto o de Krueger é apenas sem graça, o de Voorhees é tão ruim que chega a dar raiva. Mas tudo que Bay toca vira ouro, e o filme foi bem em sua estreia nos EUA. Uma triste realidade. Se preparem para muitos “Transformers”.

Ronaldo D`Arcadia
@

Compartilhe

Saiba mais sobre