Cinema com Rapadura

Acme   quinta-feira, 05 de setembro de 2013

Críticas empolgadas, trailer de tirar o fôlego e expectativas em cima de Gravidade

Filme de Alfonso Cuarón está gerando um buzz gigante.

Quando Alfonso Cuarón estava planejando “Gravidade” (Gravity), o cineasta imaginou um filme de ação e drama em órbita, a maior parte do tempo com apenas um único personagem. Seria filmado usando uma das suas assinaturas: planos longos e contínuos. Mas havia um grande problema: o diretor David Fincher advertiu Cuarón e seu diretor de fotografia, Emmanuel Lubezki, que a tecnologia para fazer esse filme simplesmente ainda não existia. Ele aconselhou esperar cinco anos. E foi exatamente isso que aconteceu.

A pergunta é: como um filme que se passa no espaço, boa parte com um silêncio sepulcral, com apenas uma personagem em tela, conseguiria segurar o público? Talvez o trailer abaixo consiga responder:

Loucura, né? “Gravidade” abriu o Festival de Cinema de Veneza e está sendo considerado um divisor de águas, principalmente por causa da tecnologia usada e do estilo de narrativa. James Cameron, que emplacou os dois mais rentáveis blockbusters da história (“Titanic” e “Avatar“), ficou maluco quando assistiu ao filme e rasgou elogios:

“Fiquei atordoado, totalmente impressionado. Acho que é a melhor fotografia do espaço já feita, acho que é o melhor filme espacial já feito; fiquei um tempão ansioso para ver esse filme. O que é interessante é a dimensão humana. Alfonso e Sandra trabalharam juntos para criar um retrato absolutamente perfeito de uma mulher lutando por sua vida em gravidade zero”.

Com uma duração de 91 minutos, a trama segue a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock), uma brilhante engenheira em sua primeira missão espacial, com o astronauta veterano Matt Kowalsky (George Clooney). Mas, durante um passeio espacial, aparentemente rotineiro, ocorre um acidente. A nave é destruída, deixando Stone e Kowalsky completamente sozinhos, dependendo um do outro em um ambiente de total escuridão. O silêncio ensurdecedor confirma que eles perderam qualquer ligação com a Terra… e qualquer chance de resgate. Conforme o medo vai se tornando pânico, o oxigênio que resta vai sendo consumido desesperadamente. E, provavelmente, o único jeito de ir para casa seja encarar a imensidão assustadora do espaço.

É um filme de quase US$ 100 milhões da Warner Bros., tem o produtor de “Harry PotterDavid Heyman e representa o retorno triunfante de Cuarón desde o espetacular “Filhos da Esperança” (Children of Men). Aliás, Heyman e Cuarón trabalharam juntos no terceiro filme a saga do bruxo: “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban“. Sem falar que é uma das primeiras vezes que vemos uma vencedora do Oscar (Sandra Bullock) aparecendo em quase toda a projeção, em uma ficção científica e tendo que atuar muitas vezes sozinha (literalmente).

Sandra Bullock disse que era tudo novo para todo mundo.

Não havia como confiar em alguma coisa antes deste filme. Nenhum personagem era como Stone, nenhum set de filmagem parecia com o nosso e nenhum membro dessa equipe tinha feito isso antes. Nós estávamos fazendo algo que nunca tinha sido feito antes“, comentou.

Cuarón, um aficionado pelo espaço, se concentrou em um dos cenários reais que mais aterroriza a NASA: a Síndrome de Kessler.

Em 1978, o cientista da NASA Donald J. Kessler teorizou que o volume de detritos espaciais na órbita terrestre baixa é tão alto nos dias de hoje que os objetos colocados em órbitas são frequentemente atingidos por esses, criando assim outros detritos e um maior risco de futuros impactos. A implicação desse cenário é que a crescente quantidade de detritos em órbita pode evoluir até afetar a exploração espacial, e até mesmo o uso de satélites, inviabilizando futuros lançamentos por várias gerações. Da concentração de objetos espaciais em órbita próxima à Terra, uma parte tem por destino o reingresso na atmosfera e outra colidirem entre si, aumentando progressivamente o número de objetos não catalogados. Uma vez que a Síndrome de Kessler começa, nada e nem ninguém em órbita escaparia do bombardeio letal de estilhaços movendo-se a velocidades absurdas. “Nós decidimos tomar isso como uma metáfora para a adversidade“, diz Cuarón .

Para algumas cenas onde os personagens estariam sentados dentro de cápsulas espaciais, os atores que interpretam Stone e Kowalsky poderia ser filmados em cenários reais, físicos. Mas a maior parte do filme alguém estava flutuando, dentro ou fora estação espacial. Como filmar essas cenas? E pior ainda: Cuarón queria fazer em 3D.

Cuarón e fotógrafo Emmanuel Lubezki se reuniram vários amigos e diretores com experiência em tecnologia, incluindo David Fincher e James Cameron.

Eu li o roteiro e pensei que seria extremamente difícil fotografar com um alto grau de veracidade para obter a aparência real da gravidade zero“, diz Cameron.

Ele recomendou algumas técnicas de captura de movimento que ele tinha usado em “Avatar “, mas Cuarón optou por uma rota diferente.

Adiciona Cameron:

Tenho certeza que Alfonso travou uma verdadeira batalha com o estúdio, com todos os envolvidos, para desenvolver do jeito que ele imaginava. Mas ele sabia em sua mente como precisava ser e ele foi atrás dessa visão“.

Cuaron chamou o supervisor de efeitos visuais Tim Webber, com quem também tinha trabalhado em “Filhos da Esperança“. “Nós dissemos, se alguém pode fazê-lo, é Tim“, lembra Lubezki. O trio Cuaron, Lubezki e Webber concluiu que não poderiam fazer “Gravidade” como eles queriam: simplesmente usando os métodos tradicionais. Portanto, por causa das cenas no espaço, diz Webber, “decidimos filmar rostos [dos atores] e criar tudo digitalmente. Essa foi uma decisão difícil“.

James Cameron diz que o trabalho de Sandra Bullock é mais impressionante do que a tecnologia.

Ela assumiu este desafio inacreditável. Foi, provavelmente, uma performance parecida com alguém do Cirque du Soleil, de tão mágico que estava. Há uma arte que, para a criação de momentos que parecem espontâneas, são muito bem ensaiada e coreografadas. Muitas pessoas não conseguem fazê-lo. … Eu acho que é realmente importante para as pessoas em Hollywood entender o que foi realizado aqui“, concluiu.

A imprensa está rasgando elogios…

Justin Chang, da Variety:

“Uma experiência nervosa e de grandes emoções, que restaura um sentimento de admiração a sétima arte. Mostra que a tela grande ainda pode causar um terror na audiência”.

Todd McCarthy, do The Hollywood Reporter:

“É como se Max Ophuls [cineasta alemão] fosse solto no espaço, de tão elegante que é a continuidade visual. Em muitos momentos você vai se perguntar: “Como eles fizeram isso?”. A audiência vai ficar se olhando no cinema assustada com o virtuosismo de tudo”.

Guy Lodge, do HitFix :

“Quando levantei junto com os créditos finais subindo, eu não me importo de admitir que imediatamente tive que me sentar novamente, tamanha era a tremedeira das minhas pernas, como se eu tivesse acabado de reencontrar a gravidade. Por conseguir essa pura transferência de experiência sobre a audiência, eu posso pensar que nenhum filme conseguiu fazer algo parecido”.

Oliver Lyttleton, do The Playlist:

“O filme é tecnicamente perfeito, é claro, do design de som excelente até os efeitos impecáveis ​​(dizer o que é CGI ou real é difícil, porque praticamente tudo parece foto realista). Mas também é inteligentemente escrito e, mais do que qualquer coisa, é extremamente bem dirigido, desde a maneira que ele [Cuarón] usa toda a superfície disponível para contar sua história (alguém vai escrever um livro um dia sobre as reflexões deste filme) para a forma como Cuarón e Lubezki deslocam a luz para variar a paleta de cores, impedindo-a de se tornar repetitivo”.

Mark Adams, do Screen Daily:

“Um thriller genuinamente tenso e emocionante, e muitas vezes com um espetacular 3D. O filme de Alfonso Cuaron é um verdadeiro prazer, impulsionado pelo desempenho de Sandra Bullock e George Clooney, bem como com efeitos especiais bacanudos. ‘Gravidade’ sustenta seu conceito simples e acaba por ser um prazer real”.

Xan Brooks, do The Guardian:

“Ele vem soprando do éter como um leve pesadelo, mostrando o planeta Terra em ângulos loucos por trás da ação. Como em ‘Solaris’ de Tarkovsky (mais tarde refeito por Clooney e o diretor Steven Soderbergh), o filme carrega um medo existencial e um grande sentimentalismo”.

Robbie Collin, de The Telegraph:

“Stone e Kowalsky [personagens de Clooney e Bullock] giram através do espaço vazio, e assim faz a câmera, em uma série de movimentos tão complexos e tão naturais que só depois de sair do cinema você percebe os feitos de coreografia visuais envolvidos. Dentro do cinema, você está simplesmente muito preso na ação para perceber, e como o próprio fornecimento do oxigênio da Dra. Stone dolorosamente reflui em direção a zero, você percebe que, também, estamos racionando o fôlego aos poucos”.

É ou não é para ficar empolgado? Provavelmente veremos um novo clássico no dia 10 de outubro no Brasil. Nunca essa data demorou tanto.

Eu vou estar lá dia 10. E você?

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Jurandir Filho
@jurandirfilho

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