Quem vai esperando ver apenas mais um filme bom para passar o tempo, pode ter uma boa surpresa. “Em seu lugar” acaba superando as expectativas e provando que é possível, sim, fazer-se um filme comercial de qualidade.
A primeira surpresa vem do fato de que um roteiro com grande potencial cômico vira um drama antes que se perceba sua intenção. Esse enfoque inesperado que baseia-se na oscilação de gêneros (comédia e drama) logo chama a atenção e dá um toque diferencial ao filme.
Maggie (Cameron Diaz) e Rose (Toni Collette – uma das atrizes mais versáteis do cinema atual) são duas irmãs de personalidades completamente opostas. Maggie é do tipo que vive pra curtir a vida com seu comportamento irresponsável e Rose, a mais velha, é uma bem sucedida advogada, recatada e com a vida perfeitamente em ordem. As duas têm uma ligação especial apesar de suas visíveis diferenças de essência.
Quando Maggie é expulsa de casa pela madrasta devido o seu comportamento “transviado” e tem que morar com a irmã, é que a relação das duas muda de figura. Rose tenta fazer com que Maggie dê um jeito em sua vida, enquanto a caçula não se esforça para mudar e, como se não bastasse, ainda ocorre uma horrível traição que se torna um ponto de ruptura na relação delas. A partir daí, tudo toma um rumo diferente na vida das protagonistas e o que acompanhamos na condição de espectadores é uma jornada de auto-descoberta de Maggie e Rose.
A responsável e bem sucedida advogada vê, de repente, que talvez quer algo diferente para si e a desajuizada Maggie, através da avó que descobre existir quando encontra cartas escondidas por seu pai, é obrigada a amadurecer e pensar um pouco mais nos outros em detrimento de si mesma. A veterana Shirley MacLaine, que interpreta Ella, avó das irmãs, dá um toque a mais no filme, provavelmente decorrente de seus anos de experiência e talento. A parte da história passada no retiro de idosos onde Ella (e após um certo ponto, Maggie também) vive são, inclusive, responsáveis por algumas das melhores cenas e diálogos do filme.
As personagens também, descobrimos aos poucos, têm outros aspectos escondidos sobre a superfície. A centrada Rose é uma compradora compulsiva de sapatos quando está deprimida e a imatura, porém segura de si, Maggie sofre de dislexia, o que lhe atrapalha profundamente em termos de conseguir um bom emprego.
O espectador vai, aos poucos e gradativamente, se envolvendo com a trama, que pode não ter mocinhos, bandidos ou reviravoltas inesperadas propriamente ditas, mas é conduzida de uma forma encantadora e interessante. As atuações das protagonistas não beiram a genialidade, mas certamente não deixam margem a criticas negativas. Cameron Diaz surpreende ao fluir muito bem num gênero não muito constante em sua filmografia (a atriz geralmente não explora muito o drama em seus filmes) e Toni Collette prova mais uma vez que é uma boa escolha em qualquer gênero. A combinação das duas, além de tudo, foi bastante oportuna.
O diretor, Curtis Hanson, embora tenha uma filmografia pequena (fora “Em Seu Lugar”, ele dirigiu “8 Mile” e “Los Angeles – Cidade Proibida") deixa a impressão que tem talento para o ramo e que promete ainda ser um nome de destaque.
“Em Seu Lugar”, enfim, surpreende aqueles que, a princípio, não lhe deram muito crédito. Não chega a ser uma obra prima de sétima arte, obviamente, mas nesses tempos de escassez criativa em que vivemos, acaba por se tornar um filme notável. Seguramente, não decepciona.