A palavra-chave do longa é "estranho". Nesta comédia romântica com uma vibe indie, acompanhamos a estranha relação de uma vendedora de arte politicamente correta e um ingênuo e imaturo gerente de um hotel.
A despeito de seu título genérico, “O Amor Pede Passagem” não é uma comédia romântica típica. Escrito e dirigido pelo cineasta estreante Stephen Belber, o filme tem um pé no cinema independente, algo bastante claro em seu roteiro e até mesmo em seu visual.
Estrelado por Steve Zahn e Jennifer Aniston, acompanhamos a história de Mike (Zahn), um rapaz criado no hotel de seus pais, altamente ingênuo e “preso” na rotina de sua vida, trabalhando como gerente no estabelecimento. Certo dia, chega ao hotel a vendedora de artes Sue (Aniston). Linda e politicamente correta, ela logo deixa o pobre rapaz fisgado. Tentando chamar a atenção de sua amada de todo modo, principalmente dos mais embaraçosos, Mike até que consegue, mas logo Sue tem de partir, deixando o rapaz novamente só no hotel.
A partir daí, Mike parte em busca de sua amada, que logo se transforma em uma jornada de crescimento pessoal, na qual entrará em um embate com o noivo ex-punk de Sue, Jango (Woody Harrelson), arrumará um emprego em um restaurante chinês e até entrará para um monastério budista.
Não demora muito para o espectador perceber que, apesar da presença constante dos elementos básicos que formam o gênero comédia romântica, a película se fixa mais na evolução de Mike do que no romance (ou na ausência de romance) entre ele e Sue. Muito mais presente em cena do que Jennifer Aniston, Steve Zahn é o verdadeiro protagonista da fita e acompanhar o amadurecimento de seu personagem é o principal objetivo principal.
No entanto, tentando ser duas coisas ao mesmo tempo, o filme acaba tropeçando em dados pontos, principalmente em algumas gags mais forçadas, vide a cena do pára-quedismo. As sequências de humor que funcionam melhor são as que não tentam desesperadamente ser engraçadas, mas as que a graça vem de uma maneira mais natural, em um humor meio de constrangimento, como o diálogo entre Mike e o monge.
Quando conhecemos Mike, ele mais parece uma versão romântica de Norman Bates, o perturbado gerente de hotel de “Psicose”. Aos poucos, percebemos que o rapaz simplesmente não compreende que seu comportamento em relação a Sue. A determinação inabalável do rapaz em conquistar sua amada e o fato de que é essa paixão que o tira da apatia ao qual estava preso é o que movem a trama e conquistam a simpatia do público.
Nesse sentido, a escalação de Zahn, que não é um rosto muito conhecido do público em geral e é realmente carismático, foi acertada. O mesmo não se pode dizer de Jennifer Aniston, com sua personagem Sue falhando em capturar a atenção do público. A “mocinha” da trama aparece pouco e, pra piorar, não é lá muito carismática, fazendo com que a audiência continue com a Rachel de “Friends” na cabeça toda vez que Aniston entra em cena, algo desastroso para o projeto.
O público pode até entender os motivos que levam Mike a se apaixonar por Sue, mas jamais entendemos por que ela se interessa pelo gerente naquele momento. Isso acontece, pois jamais conseguimos nos aproximar muito da moça, um problema gravíssimo do filme.