Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 14 de outubro de 2008

Duas Faces da Lei, As

Em seu último trabalho ao lado de Al Pacino, o diretor Jon Avnet realizou o terrível "88 Minutos". Novamente trabalhando com Pacino, o cineasta apostou (erroneamente) na parceria deste com o também experiente Robert De Niro para dar a "As Duas Faces da Lei" uma força que o filme, por si, não possui.

Al Pacino e Robert De Niro trabalharam juntos em apenas dois filmes. A questão é que tais longas não foram apenas bons ou ótimos. Foram soberbos. Tanto "Fogo Contra Fogo" quanto "O Poderoso Chefão – Parte II" são referências, não só em seus respectivos gêneros, mas para o cinema como um todo. Embora não tenham aparecido juntos em cena na segunda parte da epopéia da família Corleone e só troquem algumas palavras no policial comandado por Michael Mann, só isto bastou para estabelecer um paradigma. Eis que, em 2008, esses dois atores magníficos, já em um período menos glorioso de suas carreiras, aparecem juntos em cena com este "As Duas Faces da Lei". No entanto, assim como a maioria dos trabalhos mais recentes desses veteranos, este longa não chega aos pés dos filmes mais conhecidos deles. Aliás, me arrisco a dizer que se não fosse pelos dois atores, esta produção seria lançada diretamente em DVD.

A trama é protagonizada por Turk e Rooster (De Niro e Pacino, respectivamente), dois policiais da polícia de Nova York já no fim de suas carreiras. Após uma operação contra um traficante (Curtis "50 Cent" Jackson) que dá errado, ambos começam a ser visto com outros olhos por seus companheiros e pelo tenente Hingis (Brian Dennehy). As coisas pioram quando um serial killer começa a assassinar criminosos, com a maioria das vítimas tendo tido alguma relação com casos por eles investigados. Assim, os dois cavalos velhos de guerra têm de chegar ao culpado logo, trabalhando com a ajuda de outros dois detetives (John Leguizamo e Donnie Wahlberg) e da analista forense Karen (Carla Gugino).

O roteiro é um amontoado de clichês policiais. Assistindo à fita, o espectador mais atento vai notar pedaços de "Se7en – Os Sete Crimes Capitais", "Los Angeles – Cidade Proibida", do já citado "Fogo Contra Fogo" e até da antiga série televisiva "Nova York Contra o Crime". Em longas cujo clímax envolve algum mistério, originalidade é um requisito necessário, que está totalmente ausente nesta produção. Além disso, o próprio diretor Jon Avnet parece sabotar a narrativa em detrimento a ficar o maior tempo possível junto a suas estrelas, vide a ridícula seqüência introdutória da fita, demasiadamente longa.

Com o tempo gasto por Avnet em mostrar ao público que está fazendo um filme com De Niro e Pacino, o longa perde em tensão, já que ficamos praticamente sem conhecer maiores detalhes da ambientação do longa e das motivações dos demais habitantes daquele universo fílmico. Em pouco mais de 90 minutos e em um ritmo extremamente comprometido, fica impossível de o público se relacionar com aquela história, principalmente dados os flashfowards nos quais vemos Turk em frente a uma câmera. A maioria dos outros personagens não são desenvolvidos de forma adequada, o que invalida totalmente qualquer esforço do elenco em lhes dar profundidade. Aparentemente, cada figura em cena ganha apenas uma característica definidora e pronto.

Vamos ver caso a caso. Pouco sabemos sobre a policial Karen, vivida pela bela Carla Gugino, a não ser o fato de ela gostar de sexo. O Det. Perez, vivido por John Leguizamo, é esquentado; o Tenente Hingis, interpretado por Brian Dennehy, tem respeito pelos protagonistas; e o Det. Riley de Donnie Wahlberg… bom, esse não faz nada. Enquanto atores profissionais trabalham no automático, Curtis "50 Cent" Jackson se encarrega de descer ainda mais o nível dos coadjuvantes, com uma atuação ridícula. A própria pronúncia das falas por parte dele parece errada de algum modo.

Já a dupla principal da fita parece relegada a repetir os mesmos maneirismos que marcaram as suas carreiras e só. Superexpostos em um filme inacreditavelmente curto para um suspense policial, toda e qualquer reação que o público tem pelas atitudes de Rooster e Turk vem do prévio conhecimento da filmografia de seus intérpretes. Se respeitamos os personagens é porque conhecemos De Niro e Pacino.

Nos aspectos técnicos, a situação do filme não melhora muito. A direção de fotografia do francês Dennis Lenoir se mostra equivocada desde a seqüência na galeria de tiro, com cores e iluminações que tiram a já diminuta força das cenas, com tais defeitos ficando ainda mais acentuados nas cenas que tentam emular (em vão) uma câmera de vídeo e no clímax da fita. A trilha sonora, composta por Ed Shearmur, é tão genérica que parece ter sido tirada de um filme policial qualquer. Já a edição de Paul Hirsch é adequada e só, sem nenhum risco ou inovações apresentadas.

Como qualquer fã de cinema, sou admirador de longa data do trabalho de Robert De Niro e Al Pacino. No entanto, "As Duas Faces da Lei" é uma fita absolutamente medíocre, longe de merecer a presença desta dupla (e da maioria dos atores em cena) em seu elenco.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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